Capítulo 10

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(22 de setembro, terça-feira)

Apesar do começo pouco promissor, Clifford acabou cedendo ao rodízio da cama e Luke conseguiu melhorar sua disposição com as noites bem dormidas. Clifford, por sua vez, parecia cada dia mais rabugento, agarrando qualquer oportunidade para reclamar da sua 'bagunça'. Mas a verdade era que eles ainda estavam longe de seguir a proposta inicial. Suas tentativas de conversa sempre terminavam mal, fosse por causa das provocações de Clifford ou de seus melindres. Luke percebeu que ele sempre apelava para um outro artifício quando não estava a fim de falar sobre o assunto – e aquilo cobria a maior parte dos assuntos.

Luke também tentou algumas vezes convidá-lo para ir ao cinema, mas Clifford simplesmente se recusava a escolher o filme e colocava defeito em todos que Luke propunha. Certa noite, Luke ficou tão irritado que foi ao cinema sozinho.

Pelo menos haviam se acertado em relação às refeições. Não comiam juntos todas as vezes, já que Clifford não perdia uma oportunidade de fugir das seções interativas e ir comer no próprio quarto.

Com todo esse drama e o fato de que Luke estava proibido de trazer serviço pra casa, não era de se admirar que ele também estivesse ficando com os nervos à flor da pele. Sua equipe de trabalho estivera bastante concentrada nos últimos dias, mas Luke não sabia precisar se foram suas palavras na reunião ou seu temperamento curto que havia causado a mudança. Até mesmo Calum e Ashton repararam em sua mudança de humor e, depois de algumas sugestões, Luke acabou concordando em começar a fazer academia. Numa demonstração de amizade sem tamanho, Calum se ofereceu para acompanhá-lo, ainda que a contra-gosto. Ele nunca fora fã de exercícios físicos, apesar de ter participado do time de Rugby no colégio.

E, para piorar a situação, Luke vinha tendo alguns pensamentos conflitantes a respeito de sua sexualidade. Antes de Las Vegas, Luke sequer cogitara a possibilidade de ser algo além de hétero. Na verdade, se sentia seguro o suficiente a respeito disso. Naquele primeiro mês depois da viagem à América, Luke tentou não pensar a respeito, pois cada vez que parava para pensar se perguntava como poderia ter feito sexo com Clifford – três vezes, aliás – sem que tivesse se sentido atraído por ele.

Mas a convivência forçada, principalmente depois que passaram a dividir o mesmo quarto – com Clifford passeando sem camisa depois do banho – e a passar mais tempo juntos – com Clifford aproveitando para provocá-lo sempre que possível – já não conseguia mais manter os pensamentos trancados em corredores escuros de sua mente. O fato de ter mais tempo livre após o trabalho também não ajudava nesse sentido.

O fato era que, de tanto procurar, Luke acabou encontrando o que o atraíra fisicamente em Clifford e sua primeira reação foi negar tudo. Mas já não conseguia mais esconder aquilo de si mesmo. Clifford o atraía. E ele não era nada feminino, nem tentava ser. Ele tampouco era gritantemente másculo, com músculos definidos e ombros largos, pelos por todo corpo, barba cerrada e voz grossa, coisa que Luke sabia não ter atração. Ele era...suave, se é que se poderia dizer isso de um homem.

Claro que a personalidade não ajudava no conjunto todo, mas agora que descobrira, Luke não conseguia evitar seu corpo de reagir a cada insinuação de Clifford. Obviamente aquilo o deixava ainda mais irritadiço, o que remetia novamente à necessidade de se ocupar.

-Ah, cara... – Calum falou quando entraram no salão da academia, devidamente vestidos.

-Cuidado para não contagiar os outros com sua animação. – Luke falou e apontou para algumas esteiras vazias. – Que tal começarmos por ali?

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