Capítulo 12

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(17 de outubro, sexta-feira)

A única mudança perceptível na rotina do casal foi que Luke passou a sair um pouco mais cedo para o trabalho, apenas para ser visto deixando o prédio com Clifford. Este não questionou sua mudança, mas também não se esforçava para parecer amigável enquanto desciam no elevador em silêncio, ou quando se despediam na esquina seguinte. Clifford grunhia em resposta ao 'tenha um bom dia' de Luke e virava à direita, enquanto Luke seguia para a esquerda, em direção ao metrô.

Quando ficou claro que Clifford não tomaria nenhuma providência para amenizar a situação entre ambos, Luke decidiu agir. Estava checando seu celular àquela manhã depois de ter feito o café, quando Clifford se sentou em frente ao balcão, se servindo de chá e torrada com ovos mexidos. Eles tinham adquirido o hábito de tomar o café na cozinha, e Clifford dificilmente saía antes de comer alguma coisa.

Luke já tinha bolado sua estratégia.

-Estou pensando em assistir um filme hoje. – Luke comentou, com calculada casualidade. Como previra, Clifford não fez nenhum comentário, mas Luke continuou do mesmo jeito. – Você já ouviu falar desse 'Rede de mentiras'?

-Não. – Clifford falou secamente.

-É ação e drama. A crítica está razoável. Você gosta de filmes de ação?

-Não morro de amores.

-Bem, isso elimina 'Busca implacável', então. Tem um que é comédia, meio policial meio drama. O elenco parece bom: Frances McDormand, Brad Pitt e George Clooney... – Luke escolheu esse momento para fazer uma pausa dramática enquanto bebia seu chá.

Ele mais sentiu do que viu a atenção de Clifford se concentrar.

-Qual é o nome do filme? – Clifford perguntou, como quem não quer nada.

-'Queime depois de ler'. Tem uma seção às nove da noite. O que acha? – Luke levantou os olhos e viu Clifford encolher os ombros, o nariz empinado.

-Pode ser. Tanto faz.

-Combinado, então. – Luke mordeu sua torrada para conter um pequeno sorriso satisfeito.

(§§§)

-Clifford, você tem carro? – Luke perguntou depois de terminar seu sanduíche e começar a comer as fritas. Eles haviam decidido sair mais cedo e jantar num café próximo ao cinema antes do filme.

Clifford levantou uma sobrancelha.

-Eu não iria trabalhar todos os dias a pé se tivesse um carro, Hemmings. Nem teria vindo até aqui de metrô.

-Nunca se sabe. – Luke encolheu os ombros. – Você poderia optar por deixá-lo na garagem por causa da dificuldade de estacionar. Ou talvez você gostasse de caminhar.

-Por que a pergunta agora?

-Nenhum motivo especial. – Luke seguiu o olhar de Clifford através do vidro. Ele havia escolhido uma mesa rente à janela e Luke desconfiava que fosse para que ficasse de olho caso alguém os estivesse seguindo. De qualquer forma, quanto mais fácil fosse para as pessoas vê-los juntos, melhor, pensou Luke. – O escritório fica perto do apartamento?

-Cinco quadras. – Informou Clifford.

-Fisher tinha razão. Aquele apartamento foi um achado. – Luke concordou, comendo mais uma batata. – Foi ela quem decorou?

Apostando alto | Muke VersionOnde histórias criam vida. Descubra agora