Capítulo 20

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A manhã já estava pela metade quando Luke acordou sozinho na cama. A realização de que era Natal fez com que despertasse de uma só vez e as lembranças da noite anterior trouxeram-lhe um friozinho na barriga. Apesar de seus tremores, o encanto da noite não havia se quebrado com a partida dos convidados, mas se estendido ainda por boa parte da madrugada. No entanto, nada garantia que o humor de Clifford não tivesse azedado da noite para o dia...

Luke encontrou-o sentado com as pernas cruzadas no tapete, em frente à pequena árvore de Natal, como um garotinho. Sorriu e juntou-se a ele. Estava bastante confortável em frente à lareira.

-Isso foi... – Clifford se interrompeu, ainda contemplando seus presentes. – Obrigado.

Eram três livros recentes, lançados naquele mesmo ano, que completavam as coleções de Clifford.

-Não vai abrir os seus? – Clifford perguntou, após algum tempo folheando e cheirando os livros novos.

Ashton lhe deu mais um livro de receitas e Clifford, uma jaqueta de couro sintético, que Luke vestiu imediatamente por cima do pijama.

-Uau. – Luke admirou o caimento perfeitamente ajustado e Clifford sorriu satisfeito. – Obrigado...ah, Nick pediu que eu entregasse isso. – Ele pegou o envelope, que estivera caído entre os presentes, e entregou-o a Clifford.

-Típico. – Clifford falou, descartando o envelope e jogando-se para trás até deitar no chão, depois de checar do que se tratava.

Luke imitou-o e eles ficaram encarando o lustre por um momento, antes que Luke quebrasse o silêncio.

-Você já pensou no que vai fazer com o dinheiro? Quero dizer, se nós conseguirmos convencer o juiz a liberá-lo?

Clifford demorou para responder.

-Vou devolver o dinheiro da minha mãe, largar a porcaria do meu emprego e viajar pelo mundo... – Ele ficou em silêncio por um instante antes de completar. – Inferno, vou até essa editora ver se estão interessados em me contratar.

Bem, aquilo tinha sido fácil.

-Nick disse que já falou de você para o dono da editora e que eles estão esperando você entrar em contato. Ela achou que você não aceitaria tão facilmente.

-Bem, ela não sabia que estamos prestes a nos tornarmos milionários, sabia? – Clifford ironizou, mas então suspirou profundamente. – Meu pai dizia que todos os artistas são vagabundos, e que não havia vagabundos na família. Mas, ei, acho que não sou mais da família, afinal.

-Sua mãe ligou novamente? – Luke tentou desviar o assunto, percebendo a amargura no tom de voz do outro, mas aquilo só fez Clifford ficar ainda mais melancólico.

-Não. Imagino que meu pai esteja ainda mais neurótico agora que ficou desconfiado.

-E se ele ficar sabendo?

Eles estavam muito próximos, e Luke sentiu quando Clifford encolheu os ombros.

-Não é como se eu ainda fosse problema dele. Ele deixou bastante claro que não poderia estar mais desapontado, quando foi embora. O fato de eu ter decidido morar com Thomas foi a desculpa que ele precisava para jogar a culpa toda em mim e deixar o país, fugindo de um provável escândalo.

-Ah... – Luke se espantou. – E ele não pensa em voltar?

-Com certeza. – Clifford soltou um riso debochado. – Só está esperando a poeira abaixar. Ou o vencimento do mandato de alguns opositores. Ou o alinhamento dos planetas. Com um pouco de sorte, nenhuma das hipóteses vai acontecer tão cedo.

Apostando alto | Muke VersionOnde histórias criam vida. Descubra agora