Contrastes

1-Encontro

  Passos calmos. Ela não tinha a menor pressa. Aliás, era bom que o deixasse esperar, fazia parte do jogo deixá-lo ansioso. Estava habituada a se divertir com os homens que conhecia, e com ele não seria diferente.

  Haviam marcado um encontro em um restaurante muito sofisticado. Sorriu a pensar no quanto ele estava disposto a gastar: queria conquistá-la. Não seria nada fácil.

  Não que ela não gostasse dele. Marcos era um homem elegante, jovial e engraçado. Possuía grandes olhos verdes, que lhe proporcionavam o equilíbrio perfeito com a pele bronzeada. O cabelo castanho escuro sempre em um corte formal, só servia para deixá-lo mais charmoso. Além disso, tinha um gosto refinado e ela nunca se sentira entediada ao seu lado.

  Estava perto do restaurante. Ele se oferecera para pegá-la em casa, mas ela negou com veemência. Embora admirasse o cavalheirismo, gostava de se sentir independente, e caminhar pela noite estrelada sempre a fazia bem.

  Chegando à porta do estabelecimento, o avistou sentado em uma das mesas no fundo. À sua frente, uma taça de vinho já no fim. O viu olhar para o relógio, um tanto impaciente. Sorriu. Ela nunca falhava.

  Caminhou até a sua mesa e lhe desejou boa noite. Ele se ergueu e sorriu, se esquecendo de imediato o quanto ela o fizera esperar.

  _ Boa noite, Vitória!_Beijou sua bochecha e puxou a cadeira com delicadeza para que ela se sentasse.

  Marcos a elogiou, dizendo exageradamente o quanto ela estava deslumbrante. Vitória agradeceu, omitindo o fato de que gastara minutos para escolher o vestido preto que deixava as curvas do seu corpo ainda mais estonteantes e as sandálias de salto também pretas. A maquiagem era leve, apenas para realçar os traços de seu rosto. Os cabelos louros cacheados caíam em espirais por suas costas. Além do fino colar de ouro que pendia de seu pescoço, com o pequenino pingente de trevo. O perfume era suave, sem deixar de ser envolvente.

  Admirou-o e pode constatar o quanto ele caprichara em se arrumar aquela noite. A camisa azul claro, com botões brancos. O paletó preto estava pendurado na cadeira. O cabelo em um corte impecável e  a barba bem feita. Olhou para o seu pulso e viu o relógio de pulseira de couro. Suas calças e sapatos eram pretos, o que deixava suas roupas em total harmonia.

  Ela pediu outra taça de vinho. Entendia bastante de vinhos e sabia que um tinto francês combinaria perfeitamente com o prato que pediram.

  Estava tudo muito agradável. O homem a sua frente sabia como manter uma conversa interessante e animada. Já havia estado outras vezes naquele restaurante, mas sempre se sentia encantada com o ambiente. As mesas de carvalho com toalhas púrpuras, as cadeiras de estofado acolchoado, que abrigavam clientes chiques. Um pequeno palco à esquerda recebia diversos cantores amadores, quase todas as noites. Nesse momento, uma música estava tocando baixinho, enquanto quem quer que fosse cantar, se preparava para um show ao vivo.  A iluminação do espaço só tornava o clima mais romântico. Pequenas lâmpadas amarelas formavam um bonito conjunto de luzes.

Mas o que a deixava maravilhada com aquele lugar eram os belíssimos arranjos de flores distribuídos por todo o ambiente: jasmins, peônias, rosas, tulipas, margaridas e outras tantas. Vitoria ficou um pouco triste ao constatar que suas flores preferidas, os girassóis, não estavam presentes, mas logo voltou a sorrir quando viu o pequeno vaso de delfins. Suas pequenas pétalas eram lilases, com manchas brancas. A cacheada tocou com a ponta dos dedos nas flores, admirada com tamanha delicadeza.

  Vitória ria de uma história que Marcos contava, quando ouviu uma voz feminina doce e suave vinda do palco. Virou-se para descobrir quem era a dona daquela voz que fez os pelos de sua nuca se arrepiarem somente com um "Boa noite". Avistou uma mulher morena, com um vestido branco olhando nervosamente para seu violão, que também era branco. Sorriu instantaneamente quando ela começou a cantar. Embora estivesse visivelmente com vergonha, a música parecia fluir naturalmente de dentro dela.