Estava no meu quarto, deitada na cama, a ler um livro enquanto espero que me chamem para jantar. Batem à porta
- Sim? – a minha irmã espreita
- Posso?
- Entra – sentasse ao pé de mim – o que se passa?
- Mia, é verdade que arranjaste namorado? – perguntou meia atrapalhada
- Quem te foi contar essas coisas?
- Ninguém mas andas mais feliz, já não sais todas as noites e isso não acontecia há imenso tempo
- Tenho um amigo especial
- Eu disse ao Martim, ganhei
- Andam a fazer apostas com a minha vida sentimental, agora?
- Não, só comentamos entre nós
- E tu, ainda andas interessada naquele Frederico?
- Sim, ele ontem disse que gostava de mim – corou
- E tu disseste que gostavas dele?
- Não, só lhe disse ok e terminou por ali a conversa
- Porque?
- Não tive coragem – desviou o olhar
- Não foi assim que te ensinei – agarrei-me a ela e rimo-nos – convida-o para dar um passeio, para vir cá a casa lanchar e diz-lhe o que sentes
- E se ele só quiser gozar com a minha cara?
- Se isso acontecer estou aqui eu para lhe dar uma lição – soltou uma gargalhada
- Então amanhã, vou convidá-lo para vir cá
- É assim mesmo, maninha – voltam a bater à porta – sim? – o Martim espreita
- É só para avisar que o jantar está pronto
- Já vamos – levantamo-nos da cama
- Mia, a Pia já te disse que o Fred se declarou a ela em plena praia?
- Cala-te estúpido – resmungou a mais nova, dando-lhe um tabefe no braço
- Ai, essa parte, ela não contou
- Eu conto-te – olhou para ela a rir – fomos todos à água menos ele, quando voltamos estava ele com uma flor na mão na toalha dela, entregou-lhe e disse que gostava muito dela – soltei uma gargalhada
- Francisca, não tem piada nenhuma – saiu do quarto fula
- Pi, espera – fui atrás dela, agarrei o braço dela antes que começasse a descer as escadas – ele foi um fofo, achas que ele pensa em gozar com os teus sentimentos? Se fosse não fazia isso à frente de todos, pensa nisso – sorri e desci à frente deles.
No final do jantar, antes que me levantasse, os meus pais decidiram ter uma conversa séria
- Já pensaste o que vais fazer quando as férias terminarem? – pergunta o meu pai
- Já, como já vos tinha dito, vou tirar o ano para viajar, relaxar
- Pensei que pudesses mudar de ideias
- Se tivesse eras o primeiro a saber
- Continuo achar que devias ir trabalhar, nem que fosse fora da tua área – comentou a minha mãe
- Se a minha vontade fosse trabalhar ia para a empresa do tio João
- E não achas melhor aceitar a oferta? Juntas um dinheiro e depois no próximo verão vais viajar
- Estou cansada de estar fechada, estou farta do stress, estou farta da rotina. Podem compreender e aceitar a minha decisão? – bufei
- Escusas de bufar, nós sempre apoiamos as tuas decisões, sabes bem disso. Estás a ser muito injusta, Maria Francisca – resmungou o meu pai
- Desculpem mas só quero descansar de tudo, ter um tempo só para mim
- Só para ti ou para o teu novo amigo? – intrometeu-se a Pia, fiquei furiosa
- E estás-te a meter na conversa porque? Reduz-te à tua insignificância - levantei um pouco mais a voz
- Francisca, vê lá como falas para a tua irmã – reprendeu a minha mãe – e que história é essa de amigo?
- Chama-se João Pedro, tem a minha idade e estuda gestão na católica – revirei os olhos – mais alguma informação?
- Filha, nós só queremos o teu bem – o meu pai agarrou a minha mão – não precisas de falar assim
- Desculpem, eu exaltei-me – baixei o olhar – eu estou a gostar do João, a gostar a sério e não quero que pensem que a minha decisão tem a ver com ele. Sabem bem que desde janeiro ando a dizer que quero fazer isto.
- Quando o trazes cá a casa para a gente o conhecer? – perguntou a minha mãe, sorrindo para aliviar o ambiente
- Estás a falar a sério? – levantei a sobrancelha, sempre pensei que ela não queria mais rapazes na minha vida
- Claro que estou. Se esse rapaz te está a fazer bem e feliz, quero conhece-lo
- Eu também – disse o meu pai
- Então vou falar com ele para um dia vir cá jantar – sorri – desculpem se fui injusta e se me exaltei há pouco
- Não te preocupes – levantei-me dei um beijo no meu pai, depois na minha mãe
- Posso ir para o meu quarto?
- Podes – respondeu a minha mãe
Levantei-me, subi as escadas e fui para o meu refúgio.