XXI - Capítulo

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Dizem que na nossa vida temos que estar preparados para as consequências dos nossos atos, mas não nos dizem o método usado para conseguir tal feito.

Eu sabia que não iria ser fácil suportar a dor da saudade, mas eu não sabia que iria doer tanto.
Durante a travessia pela pequena trilha que me fez chegar a praia acabei esbarrando em alguns espinhos, resultando em pernas raladas e bastante doloridas. Mas isso não fez com que eu diminuísse a velocidade. Ao contrário, fez com que eu corresse cada vez mais em direção ao segundo andar, onde era localizado o quarto das meninas.

Ao abrir a porta avistei minha colega de quarto e amiga andando de um lado para o outro . Ela parecia preocupada e aflita. Assim que me viu seu semblante mudou, de preocupada para aliviada, e logo depois para furiosa.

- Onde você estava ? - Perguntou enquanto me abraçava.

Não disse nada. Apenas encarei a parede a minha frente.
Eu ainda tentava assimilar o que havia acabado de acontecer, parecia mais um pesadelo do que a própria realidade.

- Tinha acabado de chegar no refeitório quando vi você correr. Ainda perguntei pro tapado do André o que havia acontecido, mas ele só me falou que você viu os alunos de outra turma descer as escadas e correu feito uma desesperada, palavras dele. - Soltou do meu abraço e me encarou. - Eu até tentei ir atrás de você mas... O que aconteceu ? Porque você estava chorando ?

Tentei me desvencilhar mas foi em vão.
O choro que ficou preso na garganta durante o tempo em que eu corria na trilha se desprendeu. E quando eu me dei conta, já chorava novamente nos braços da minha melhor amiga.

- Não fica assim não ! - Tentou me consolar enquanto afagava meus cabelos. - Tudo vai se resolver, tenha paciência.

Ah, como eu queria que ela estivesse certa.

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Depois de praticamente encharcar a blusa da minha amiga, me recompus. Peguei um vestido qualquer dentro da mala e me tranquei no banheiro. Saí depois de um tempo, e me deitei na cama. Mas o meu sossego não durou muito, Isabela apareceu com uma bandeja nas mãos e acompanhada do meu amigo André.

- Olha o que eu trouxe pra você ! Um prato de sopa sabor carne bem quentinho. - Anunciou depositando a bandeja na cômoda que ficava ao lado da minha cama.

- Nossa, grande coisa ! Fala como se fosse uma verdadeira obra de arte. - André rebateu enquanto entrava no quarto.

- Primeiro, você cala a boca porque eu não te perguntei nada. E segundo, o que você está fazendo aqui ? Por acaso está me seguindo ?

- Primeiro, você não é a minha mãe pra mandar em mim. E segundo, eu não vou perder o meu tempo te seguindo. Eu vim ver a minha amiga que está precisando da minha ajuda.

- Nossa com uma ajuda dessas é melhor ficar sozinha. - Bufou irritada.

- Olha aqui, se você... - Meu amigo começou a falar, mas intervi antes que ele terminasse.

- Tem como vocês brigarem em outro lugar e me deixar dormir ? - Suspirei cansada. Eles então resolveram parar de brigar e me encarar.

- Desculpa amiga, mas acontece que o seu amigo é um tanto insuportável. - Isa se desculpou.

- É o sujo falando do mal lavado. - André retrucou.

- André, não começa. - Repreendi como se fosse uma mãe falando com o próprio filho.

- Ok, parei. - Levantou as mãos em sinal de rendição e se aconchegou ao meu lado. Empurrou alguns travesseiros e sentou, fazendo com que eu deitasse a minha cabeça na sua perna. - Como você está se sentindo ?

Pensei por alguns segundos e respondi.

- Bem, na medida do possível !

- Não adianta querer me enganar, eu sei que aconteceu alguma coisa pra você chorar desse jeito. E eu sei que foi muito grave ! - Ele me conhecia melhor que a minha própria mãe.

- Digamos que eu não seja a melhor aluna no quesito relação amorosa. - Resumi tudo em apenas uma frase

- Ninguém é o melhor aluno nesse quesito. Vai por mim, eu já fiquei de recuperação faz tempo. - Lançou um olhar discreto para a minha amiga, mas eu pude perceber. Percebi também que as suas bochechas rubreceram pelo olhar do garoto ao meu lado.

- Bom,eu vou deixar vocês conversando...e...depois eu volto para ver como você está Mila. - Se despediu e praticamente correu até a porta. O meu amigo observou ela sair e não disse uma só palavra.

- Vai atrás dela. - Falei me levantando e sentando na cama com as costas apoiadas no travesseiro.

- Não, ainda não. Não é o momento certo ! - Suspirou cansado. - Eu estou em uma fase da minha vida e ela em outra,totalmente diferente da minha.

- Mas ela vai escapar das suas mãos e antes que você consiga fazer algo ela ja estará procurando amor nos braços de outro ! - Debati.

- Ela pode procurar em outros, mas só vai encontrar em mim ! - Respondeu simples e direto.

- Aquela antiga história de que se for realmente para ser seu, será, mesmo que demore. - Relembrei.

- É isso aí ! - Comemorou sorrindo. - Olha, estou pensando seriamente em virar psicólogo ou algo do gênero. - Colocou a mão no queixo e fingiu pensar.

- Não começa. - Sorri um pouco. - Agora vai embora porque eu preciso dormir, estou cansada.

Empurrou ele da cama.

- É assim mesmo que se trata os amigos ? - Acenei em concordância. - Então tudo bem, eu vou. Mas eu volto !

Caminhou até a porta e se virou.

- Não vai comer a sopa ? - Questionou.

- Talvez eu também não seja uma apreciadora da comida da minha melhor amiga. - Observei a sopa de cor estranha.

Ele gargalhou alto.

- Tem chocolate na gaveta da cômoda, aproveite !

Abri a gaveta e reparei nos vários sabores de chocolate.

- Sabia que eu te amo ! - Mandei um beijo.

- Eu também te amo sua interesseira. Fui ! - Fechou a porta e pouco tempo depois voltou a abri-la. - Quase me esqueci, a tarde vai ter uma partida de futebol e eu quero te ver lá.

- E se eu não quiser ir ? - Perguntei para irrita-lo.

- Você nem ouse pensar em não ir, porque senão depois vamos ter uma longa conversa.

Saiu e me deixou sozinha. Sozinha de uma maneira confortante, apesar de todas as tristezas causadas naquela manhã.

Eu precisava recomeçar o meu futuro. Colocar um ponto final no relacionamento - que eu nem sequer sabia se existia ou não - foi um dos primeiros passos.
O segundo passo foi aceitar a mudança, não é algo que acontece de uma hora pra outra. Leva um tempo até que você tome uma decisão. E no meu caso, já tinha tomado ela fazia um tempo.
Acessei a Internet e digitei o site que o professor me passou depois da minha última aula de inglês daquele dia. Pouco tempo depois, de ter colocado todos os meus documentos,finalizei.

Inscrição feita com sucesso.

Agora, só restava esperar o grande dia. Torcer para que tudo dê certo e fazer o máximo para chegar até o final.

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Quais os palpites de vocês ? Para o que a Mila se inscreveu ? Comentem para eu saber a opinião de vocês.

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