O infinito começa com N 🌹

Sempre cuidei dela como se fosse uma rosa...

A dia seguinte ao fim de nós me fez mergulhar na chuva que caia, subi ao Bonfim às 00:00 horas e lá passei a noite, debaixo daquele temporal que caia e tentava suportar a tempestade que existia dentro de mim por tudo que se passava.

Me fez lembrar de uma música da Paula Fernandes que diz: "Eu me perdi, perdi você, perdi a voz, o teu querer".
Logo após o temporal que caia sobre mim naquela madrugada, adoeci. Meus ouvidos inflamaram, minha garganta estava dolorida, tive febre e até perdi a voz. Me sentia dentro da música e sentia tudo aquilo que a letra dizia,"Estar assim, sentir assim, um turbilhão de sensações dentro de mim, eu me aqueço, eu endureço, eu me derreto, eu evaporo,
eu caio em forma de chuva, eu reconheço, eu me transformo". Eu me transformava ali em um caos, em um ser sem rumo. A agonia e a dor me dominavam e tudo ao meu redor era pouco demais para me consolar, eu me odiava por sentir demais, me odiava por ser tão sensível e por entregar cada partícula de mim em cada batalha que eu travava em vida, então ali decidi por um fim em tudo e voltei para casa.

Chegando em casa tinha uma mensagem de Morena, que dizia estar preocupada comigo, porque eu tinha sumido por 16 horas.

Já não sabia nem o que pensar, só queria estar com ela naquele momento, o meu mundo estava em pedaços, desmoronando debaixo dos meus pés e a pressão era tão intensa em mim que não sabia o que fazer. Voltei a me sentir tão fraco, voltei a me cortar, mas os cortes já não aliviavam minha dor, então tomei todos os remédios que tinha em casa, só queria dormir muito para não estar consciente de tudo que estava se passando comigo e dentro de mim.

Já não tinha mais forças para chorar e nem para tentar seguir. Os remédios eram fortes e acabaram me deixando em coma por umas horas, os médicos constataram tentativa de suicídio novamente, mas eu já nem sabia distinguir se era de fato ou não uma tentativa, eu só queria não estar acordado.

Acordei depois de umas horas no hospital, minha mãe super preocupada, minha tia me xingando e meu pai me olhava nos olhos, triste, porque já sabia que eu acabaria fazendo isso para "não sentir", eu o olhei e comecei a chorar feito criança, não sabia que rumo seguir e só queria sumir dali...

No dia seguinte voltei para casa e minha mãe entrava no meu quarto de 10 em 10 minutos, preocupada e verificando se eu estava bem, ela não tinha coragem de me perguntar o porquê de tudo isso(ela não sabia o que tinha acontecido, eu não contava nada a ela por ela ter ciúmes de Morena) e no fundo também sabia que eu não diria, porque sempre sofri calado no meu quarto, pegava meu violão e tocava, com a luz do quarto apagada sempre que estava mal e sempre que essa cena se repetia, ela ficava triste, porque sabia que eu não estava bem. Até que um dia nem encostei mais no violão e só escrevia capítulos no livro que eu havia prometido escrever para Morena, porque foi a partir do livro que eu comecei a me sentir melhor, mais vivo e útil.

Dias depois, fui a cachoeira onde havia levado Morena para comemorármos um mês de namoro e lá comecei a escrever, imaginando como se ela estivesse ali, comigo e como se eu pudesse falar o que sentia a ela. Ficou mais ou menos assim:

"Vem, me abraça e deixa que a noite passe, o tempo lá fora já não importa e o que importa é estar aqui contigo. Sua pele morena que me aquece nesse frio, teu abraço tão bom e esses olhos de porcelana que me dizem que tudo ficará bem. Me deixa assim, me deixa aqui contigo e deixa que tudo chegue ao fim lá fora, enquanto aqui dentro tudo continue de onde parou..."

Ao terminar de falar isso, fechei os olhos e fiquei ouvindo o barulho do vento, das águas, das árvores e dos pássaros na cachoeira. Lembrei do dia que fomos até lá, e bem de longe ouvi a voz de Morena dizendo: "Amor, eu estou aqui". Meus olhos se encheram d'agua e eu prometi ali mesmo que nunca mais desistiria de mim e que estaria cuidando de Morena, mesmo que de longe, mas cuidaria...

Eu sempre cuidei dela como se fosse uma rosa, a minha rosa...