Capítulo 30

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                   Willian narrando

Mais um dia nesse inferno que chamam de prisão. Me levantei antes dos parceiros, e fiquei pensando e mexendo no celular.

- Cole . - Ruizinho me deu um susto.

- Porra vei,que susto.

- Tá devendo é pivete? - riu.

- Pensei que era os cana pegando eu mexendo no celular.

- Tô doidão pra meter o pé dessa desgraça!

- Nós vai pô, suave ai.. - afirmei.

Ruizinho era um parceiro das antiga de quando eu não tinha nada. Trabalhou lá no Mandela, depois se mudou para outra favela aliada.

- Eu só sei que os cara vai ajudar a gente a vazar daqui.

- Será mesmo Wl? Eu não confio nesses guarda não.

- Também não, mas eu paguei uma quantidade alta pra isso parceiro, qualquer coisa eu coloco a boca no mundo.

- Quero sair daqui , ver minha mulher,  meu filho pô.

- Também, minha novinha tá lá grávida.. Eu não quero mais viver confesso, mas é pelo meu filho que está vindo.

- Por que esse desejo de morrer compadre?

- Eu passei minha vida toda sem um pai, me sentindo um rejeitado, tanto que foi por necessidade que virei o que sou. E agora eu descubro que sou filho de um policial! - falei ressentido.

- Caralho moleque. Tu é filho de policial?

- Infelizmente, mas isso não muda em nada não. Ele nunca ligou para minha existência, né agora que vai ser diferente .

- Pode pá.

O dia passou devagar.. Como todos os outros dias nesse inferno. Meu único alívio é que vi minha mãe ontem. Alana não quis vim, está bolada por causa daquele dia que ela saiu com Vitoria, mas é isso aí mesmo mermão! Mulher minha tem que ficar na disciplina. Ainda mais eu preso aqui e ela esperando uma cria minha, tem que dar o devido exemplo.

Os guardas chegaram na nossa cela sei nem pra fazer que porra, também não dei ligança, até ele falar meu nome.

- Willian ,bora.

- Bora pra onde mermão? Hoje nem é dia de visita. - questionei.

- Cala a boca marginal, antes que eu atire nela.

Contive meu ódio e me controlei, esses filhos da puta iam ver, vou guardar na mente cada um que me tratou mal aqui para quando eu sair mandar matar geral.

Ele me levou pra sala de visitas e me fez sentar na cadeira. Tava entendendo nada mano, hoje era segunda , e além do mais não havia mais ninguém para me visitar há não ser minha mãe e Lana.

Fiquei esperando um pouco até que a sala foi aberta, e eu pude ver aquele homem maldito adentrando o mesmo espaço que eu.
Era meu pai. Ou quer dizer, o homem que minha mãe diz ser meu pai.

- O que você quer aqui? Veio debochar de mim?

Ele não disse nada , nem me olhou.

- Deixa a gente conversar a sós.- ele falou.

- Mas cabo Eduardo ele é perigoso e...

- Ele é meu filho, por isso exijo que vocês tratem ele muito bem aqui dentro, pode avisar aos outros e faça o que eu mandei.

- Tudo bem. - o guarda saiu .

Ele sentou- se ao meu lado e eu hesitei em olhar nos olhos dele. Não conseguia suportar a ideia desse homem ser meu pai, e nem do fato dele parecer tanto comigo.

- Como você está Willian? - perguntou parecendo preocupado.

- E desde quando o senhor se importa? Não vai chegar na minha vida depois de 22 anos querendo ser meu papai.

- Não... Eu só quero pedir perdão à você e a sua mãe.

- Agora já foi mermão! Agora eu sou isso aqui. - bati no peito. - Um bandido com orgulho.

- Para né. Quem tem orgulho de ser bandido? Tenho certeza que sua mãe não soube lhe criar.

- Cole parceiro? Vem falar da minha mãe não tá doidão.. Tu não patrocinou nem um prato de comida pra mim agora fica nessa aí , se foder pra lá. - fiz menção de sair mas ele me segurou.

- Eu só quero seu bem,acredite, você querendo ou não eu sou seu pai. Basta você abandonar aquilo tudo que eu te ajudo a sair daqui.

- Não quero tua ajuda não filhão. Como já lhe disse, eu não sou igual a você!

Pedi para o guarda me levar até minha cela e voltei pra lá neurótico. O ódio transbordava em mim.
Eu que sempre esperei encontrar meu pai, hoje descubro que ele é um merda.

Destino ImplacávelOnde histórias criam vida. Descubra agora