Capítulo 55

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                     Alana

Depois da nossa lua de mel bem curta, voltamos para o morro, afinal não podíamos deixar Lucca muito tempo sem a presença dos pais.

Me encontrava deitada enquanto Willian se trocava para ir pro trampo.

- No que tu tá pensando amor? - ele perguntou.

- Na nossa "lua de mel". 

- É, nem fale. Tu tava mó fogosa! - deu um tapa em minha bunda.

- Foi incrível. - sorri.

- Muito morena, sou gamado em você pô! - me deu um selinho.

Ele colocou a arma na cintura e já ia se saindo. Fiz uma carinha triste, sinceramente, pra mim é difícil demais lidar com isso. Se Willian fosse para o trabalho,eu teria a certeza que ele voltaria para mim todas as noites. Mas é assim, a incerteza faz parte do amor bandido.

- Qual foi pô? - perguntou.

- Agora que voltamos, vai acontecer tudo de novo. A falta de atenção, etc,etc. - revirei os olhos.

- Mano... Eu prometi mudar, e já disse que vou fazer todo esforço pra dar toda atenção a você e meu filhão, pode pá.

Nos abraçamos e ele saiu. Me deu um aperto no peito, uma coisa louca mas me segurei.
Vic falou que estava no tédio então a chamei pra vir passar o dia comigo. Relembrar a infância, se é que ainda estamos na adolescência mas somos mães, infelizmente, e felizmente.

- Aí amiga que saudade! - sorri.

- Eu também mulher. Tanta coisa pra gente conversar.

- Sim. Essa vida de "adulto" é difícil.

- A minha única felicidade é que eu e Rodrigo estamos super bem.

- Eu me lembrei agora... do quanto eu falava de você, e acabei do mesmo jeito ou pior.

- Tá vendo! Gamou em sentar pra bandido.

- Para menina .Tá ficando louca! - ri.- Absurdo.

Ficamos brincando com as crianças. Era uma gritaria retada, Deus me free. Fomos para a varanda para deixar eles brincarem no cercadinho.

- Menina, essa sua casa é um luxo!

- É.. Eu tenho medo de tudo que o crime pode proporcionar.

- Coisas ruins, e boas ao mesmo tempo. - ela sorriu.

Pedi para ela ficar supervisionando as crianças enquanto tô fazia pipoca e brigadeiro. Enquanto mexia o brigadeiro liguei para Willian e nada dele atender. Eu hein.

Comemos e continuamos rindo.

- Sabe aquela mona do fim da rua? Paga boquete de graça pra todo mundo.

- Tô sabendo quem é a chocadeira... Deus me livre!

De repente começou os pipocos, pegamos nossos filhos e corremos pra dentro de casa. Porra, todo dia é isso nessa favela. Isso é vida de cão!

- Porra mano.. Rodrigo e Willian correm perigo. - Vitória falou.

- Eu sabia que aquele aperto no coração era alguma coisa! Que Deus proteja o pai dos meus filhos.

- Dos nossos.

Eu e Vitória nos abraçamos. As crianças choravam, pegamos eles e fomos para a passagem secreta que havia na casa. Willian me disse que qualquer coisa era pra eu me esconder aqui. E sem contar que se os policiais acham nossa casa é um esculacho total! Eles batem na gente, xinga de vagabunda, marmita de bandido é uma verdadeira humilhação.

***

Não sei quanto tempo havia passado desde que chegamos aqui.. Meu celular quase estava a descarregar. Minha afilhada e Lucca dormiram, coitados não aguentaram os barulhos..

Eu e Vitória choramos juntas por um bom tempo. Queria sair dali mas os tiros não paravam, minha preocupação com meu marido era imensa.

Depois de algum tempo os tiros cessaram. Eu só ouvia gritos, meu celular tocou, era Rodrigo. Ele falou que estava aqui em casa, e mandou a gente sair do esconderijo.

- Amor. - Vitória abraçou Rodrigo.

- Rodrigo...- falei. - Cadê Willian?

- Ele está lá na boca, é que...

- Fala cara.

- Meu parceiro tomou um Tiro, vai ficar tudo bem só peço que você fique calma.

- Calma? - gritei. - Eu vou ver ele agora.

- Fica suave Alana.

- Como assim? Meu marido toma um tiro e você pede pra eu ficar suave?

- Calma vai dar tudo certo.

- Tudo certo um caralho Rodrigo! Eu vou com você, Vitória, você pode deixar meu filho lá na minha sogra?

- Posso sim amiga, tô com você sempre. - tocou em meu ombro.

Eu estava apavorada, só não podia demonstrar isso. Eu tinha que ser forte por Willian. Passamos por tantas coisas, tantas adversidades... E agora que casamos, estamos feliz, acontece essa tragédia.

Subi na moto rapidamente e segurei na cintura de Rodrigo, ele estava correndo demais, não sei porque mas acho que não está tudo sob controle.
Cheguei na enfermaria em que Willian estava. Ele estava desacordado, e várias médicos tentando fazer algo que desconheço. Suponho que reanimá- lo.

A equipe médica daqui é ótima. Os traficantes investem muito dinheiro na parte médica, para tudo que acontecer a eles.
Eu tentei conversar com uma médica, que me disse que ele ainda estava passando por uma série de exames, e que ele levou um tiro em uma parte importante do corpo.

****

Dormi o dia todo aqui nessa cadeira horrorosa. Acordei, e olhei para Willian... Ele continuava dormindo. 
Levantei e olhei ao redor, havia amanhecido.

Rodrigo veio me trazer uns lanches pra mim.

- Aqui, pra tu não ficar sem se alimentar.

- Valeu Rodrigo, não precisava vir tão cedo.

- Eu vim ficar com ele, tu nem descansou, tá na hora de ir tomar banho, ver Lucca.

- Meu filho está bem cuidado com a minha sogra. - suspirei. - Eu não vou sair daqui enquanto ele não acordar.

- Alana... A situação é mais grave do que tu imagina mina.

- Rodrigo é melhor tu ir cuidar do morro. As coisas não podem ficar aí atoa.

Minha sogra me ligou desesperada falando que não dormiu um sono, eu tentei tranquilizar ela dizendo que estava tudo bem, o que é uma pura mentira, nem eu sabia o que estava acontecendo.

A médica veio até mim.

- Bom dia doutora. - falei. - Podemos conversar?

- Sim querida.

- Meu marido já está prestes a acordar né?

- Olha minha jovem... Quem deu esse tiro nele, deu pra machucar mesmo! Afetou um órgão importante, então não sei quando ele vai acordar. Pode demorar dias, meses, anos...

- Anos? - gritei. - Cê tá de brincadeira.

- Infelizmente não há nada que possamos fazer neste caso. Só paciência e cuidados.

Ela saiu me deixando ali desolada. Todas minhas esperanças tinham ido para o ralo, eu estava no chão, no corredor do hospital chorando que nem uma criança.

Não importa o tempo que demoraria para ele acordar, eu esperarei.

Destino ImplacávelOnde histórias criam vida. Descubra agora