Capítulo 27

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(Capítulo bônus da mãe de Willian pra vocês entenderem tudo)

               Lourdes

Me levanto para mais um dia de batalha contra a vida.
Só uma mãe sabe o que é ver seu filho preso, sem poder viver livre como qualquer outro ser humano.

Willian um filho maravilhoso, sempre cuidou de mim, me ajudou, e fez de tudo pra conseguir comida pra casa da gente quando não tínhamos nada, do jeito dele mas o fez.

Eu nunca tive sorte na vida.
Eu trabalhava numa casa grande, onde a minha patroa tinha dois filhos. Um deles era Eduardo,pai de Willian.

Eu era mocinha ainda, tinha apenas quinze anos. Eduardo sempre vivia me fazendo cantadas, se aproximando mais eu tinha medo, nem beijar eu havia beijado ainda.
Nessa época ele tinha vinte anos e estava ingressando para polícia, iria ser um pm.

Acabei me dando por vencida e me vi completamente apaixonada por ele.

O tempo foi passando e eu fui me envolvendo, nada mais que beijos e sempre escondido a noite pra mãe dele não perceber.

Eu morava lá mesmo, não tinha mãe , nem pai, só tinha minha tia  que  era meu tudo e me arranjou esse emprego.

Eduardo me envolveu, e conseguiu finalmente o que queria de mim. Burra fui eu , de pensar que um policial rico iria querer algo com uma órfã, moradora de favela .

Depois de conseguir tirar minha virgindade, Eduardo nunca mais olhou em minha cara. Não pude dizer simplesmente nada, ele podia me tirar meu emprego, a única coisa que me restava.

Descobri que estava grávida já com três meses de gravidez, conversei com minha única amiga de colégio, Marisa, não é atoa que somos amigas até hoje. Ela me aconselhou para contar tudo à Eduardo.

Procurei Eduardo, contei tudo a ele. Eu não esperava essa reação dele, ele me prensou contra parede e falou várias coisas horríveis, me xingou de vagabunda, de todos nomes possíveis, disse que eu era uma garotinha qualquer que deu pra ele porque quis, e que ia se casar com uma mulher rica e não queria um órfã filho de empregada.

Eu só conseguia chorar. Até que Eduardo segurou meu braço com força e jogou dinheiro na minha cara pra eu tirar o neném, neguei, eu estava na miséria mas não ia tirar meu filho!

Ele deixou o dinheiro jogado e saiu me deixando chorando.

A partir daí fui demitida mesmo a avó do meu filho sabendo que era neto dela...

Fui morar com Marisa até conseguir me estabilizar, foi difícil demais, trabalhei mesmo grávida até os sete meses de gravidez, e tive Willian.

Era a coisa mais linda que já tinha visto, lindo demais , pena que era a cara do infeliz do pai.
Eduardo não me deu assistência nenhuma , tive que deixar Willian com minha tia e ir trabalhar como manicure, faxineira, me virava nos trinta mas dava tudo do bom e do melhor pra meu filho.

Com dezessete anos conheci meu falecido marido. Ele era muito legal, minha tia me xingou toda, ela era como uma mãe pra mim, não queria que eu fosse mulher de bandido ,  e só queria meu bem, eu entendia. Mas eu tinha que dar uma vida melhor pro meu filho, e não era nenhum sacrifício pois o pai de Murilo era um amor de pessoa, mesmo sendo traficante.

Eu que queria estudar e ser alguém na vida... Engravidei aos quinze de um policial que só quis me usar,  e agora iria me casar com um traficante. Belo destino.

Casei - me com D2 , e fui muito feliz, logo engravidei de Murilo, Willian ainda tinha dois anos de idade, D2 gostava dele como filho, eu era feliz, e tinha tudo do bom e do melhor só em casa cuidando dos meus filhos.

O tempo passou e eu já era uma mulher de 31 anos.

Willian tinha 14 e Murilo 12, eram meu orgulho meus filhos, e eu tinha um marido excelente em todos os sentidos. Só não gostava que ele ensinasse coisas do mundo bandido pra meus filhos , e principalmente para Willian que era levado demais.

Num dia trágico, D2 morreu.. Meu mundo desabou completamente , e agora grande amor da minha vida havia falecido, e era só eu de novo com dois filhos adolescentes sem pai .

Chegamos à passar fome, mas eu nunca desanimei. Só deixei me abater quando vi meus dois filhos entrar pra essa vida triste, pior foi quando Willian virou dono do morro, tivemos uma vida melhor é claro, mas não gostava daquilo nem um pouco, não era isso que eu queria, eu amava meus filhos e queria outro futuro pra eles. Nao queria de jeito algum que um deles acabasse como D2.

Atualmente tenho só 37 anos, não sou tão velha, mas sou vivida, minha aparência não é de velha, só de triste, quero morrer de saudades de meu filho...

Hoje era domingo, iria ver Willian finalmente.

- Lourdes? - ouvi aquela voz que me arrepiou.

- O que você quer?! - falei grossa.

Era Eduardo .. Depois de 21 anos ele ainda tem a coragem de falar comigo.

- Eu só quero conversar sobre.. Nosso filho.

- Ele não é seu filho! ele é meu filho.

- Por que você deixou isso acontecer em? Por que deixar o menino que tem meu sangue virar um bandido!

- Não! Você não tem esse direito tá entendendo. - apontei o dedo na cara dele. - Enquanto você vivia sua vidinha de merda, eu e meu filho passávamos fome, você é um merda. - me virei para sair.

- Eu quero tirar ele dessa vida, ele é filho de policial não pode me dar esse desgosto. Ele é meu único filho.

- Ele não é filho de policial, você nunca foi pai dele, ele teve outro pai que apesar de ser um traficante, erá bem mais pai e digno que você. E ah.. Meu filho é um homem bom! Sabe por que ele se envolveu com o tráfico? Nós estávamos passando fome Eduardo, fome naquela favela, eu te odeio .

Sai dali pisando firme morrendo de ódio, Willian era meu filho, Eduardo não podia nem ter o direito de olhar em minha cara .

Destino ImplacávelOnde histórias criam vida. Descubra agora