Capítulo 3

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- Nove anos né? - Maraísa pergunta sem jeito.

- Por aí! - Cristina fala se afastando e passando o braço em volta dos ombros da Mai. - E você meu pinguinho? Feliz em me ver? - pergunta sorridente para uma Maiara que não sabia se ria ou se batia.

- Claro que to feliz! Minha melhor amiga! - Maiara fala abraçando a outra que sorria.

- Bom, então vocês já se conhecem? - André, o acessor da dupla pergunta revezando o olhar entre Maraísa e as outras duas que se abraçavam.

- Nós somos melhores amigas! - Maiara fala feliz olhando pra Cristina.

- Menos tampinha! Você não lembra que a gente brigou dá última vez que nos vimos? - pergunta pra provocar. Maiara fecha a cara na hora.

- Até hoje eu não acredito que você foi embora por causa daquela discussão boba com a Maraísa! - Maiara fala revoltada fazendo a irmã prender as respiração e diminuindo o sorriso da Cristina.

- Que isso Mai, to brincando, lógico que não foi por causa daquilo! Tinha outro motivo! Mas esquece aquilo! Superamos! Todos nós! O importante é que agora eu to aqui, e não vou te largar mais meu pinguinho de gente! - diz tirando a Maiara do chão e beijando seu rosto, que se contraia num lindo sorriso.

O resto da equipe ficou muito feliz com o afeto entre as três, isso já garantia que a herdeira de uma família tradicional muito rica continuasse investindo na Work, que agora fazia parte do patrimônio da mesma. Todos então resolveram sair pra comemorar aquela nova parceria. Cristina fez questão de que Maiara fosse no seu carro, o que não foi negado por ela. Maraísa quis recusar a comemoração mas viu que talvez isso levantasse suspeitas, afinal, era sua "melhor amiga" de infância que tinha retornado de seu exílio no exterior. O que ela não percebeu, é que talvez já estivesse começando a levantar suspeitas, de alguém que já tinha passado por aquilo e agora juntava algumas peças em sua cabeça. André observou bem a dinâmica entre as duas e começou a relembrar alguns momentos que tinha vivido com ela, uma olhada disfarçada em alguma moça, ou a falta de olhares pro gatinho que passava querendo atenção. Assim que as pessoas foram se dividindo nos carros, ele colou na Maraísa, que não tinha nenhum problema em dar carona ao amigo. Cristina e Maiara foram as primeiras a deixar a sala, e ele não deixou de notar o olhar fugaz da Maraísa seguindo as duas, mas logo ela disfarçou o chamando pra irem. No carro, eles caminhavam em silêncio enquanto André tentava montar a conversa em sua cabeça. Ele sabia que ela não ia assumir se fosse direto ao ponto. Então ele ia soltar insinuações e ia ver a reação dela.

- Então... Não sabia que a Maiara se interessava por mulheres. - fala como quem não quer nada.

- O que? - Maraísa pergunta rindo. - Não, nada a ver! - Maiara e hetero por nós dois. - diz rindo. Depois acaba se arrependendo do que fala. - Que dizer. - fala olhando pra ele. - Ah, você entendeu! - diz com um sorriso forçado.

- Ah, entendi. Então você que tinha alguma coisa com a Cristina né? - Maraísa freia o carro bruscamente.

- O que?! Claro que não! Da onde você tirou isso André?! Tá me estranhando?! - pergunta irritada. A ficha cai. O teatro não perde seu efeito. Ela foi bem convincente, mas a contraste dá primeira pergunta, derruba sua resposta. O carro está parado e ela olha pro André irritada.

- Ah, então quer dizer que se eu questiono a sexualidade da sua irmã você acha engraçado, mas se eu questiono a sua você fica irritada? - ele fala calmo olhando pra ela. Maraísa fica confusa, mas percebe que tinha se entregado.

- André... - ela fica sem saber o que dizer. Se encosta no banco, respira fundo e olha pro teto tentando evitar as lágrimas. - Eu não sou, ok? - diz sem olha-lo.

- E você acha que eu vou acreditar nisso Maraísa? - pelo amor de Deus!

- Eu to falando a verdade André! Eu só me envolvi com uma mulher e foi a muito tempo, eu não faço mais isso! Sou hetero! Namoro com homens e só! - ela fala desesperada. André então percebe que ela se nega a aceitar o que é. Sabe que é por medo da sociedade ou de seus pais. Então ele faz algo que ela não esperava. Se estica todo e a envolve com os braços.  Surpresa e sem entender ela aceita o carinho do amigo.

- Eu sei o que você está passando meu amor. Eu sei que você está com medo. Eu sei como é sentir esse medo. Eu só quero te falar que eu estou aqui, pro que você precisar. Se eu pudesse, te ajudaria com essa confusão nessa sua cabecinha, mas não posso. Só posso te dizer que, isso não é uma escolha Mara, e não é algo que vai passar, você pode continuar negando, mas não pode mudar quem você é. E isso nunca vai acabar, até você ter coragem de assumir pra você. As pessoas vão te julgar, mas a maioria delas vai te apoiar! O importante é que a gente te ama! E isso nunca vai mudar independente do que você goste! - Maraísa tinha chorado durante o discurso do amigo. Que apertava ela em seus braços. Soluços quebravam o silêncio do carro, e assim permaneceu por muitos minutos, até que ela conseguiu se acalmar.

- Não comenta isso com ninguém André, por favor. - ela pede saindo do abraço dele.

- Eu não vou. - ele fala firme. - Mas me conta, quem sabe disso? - ele pergunta curioso.

- Ninguém além de você e dá Cristina. - ela fala ligando o carro novamente.

- Nem a Maiara? - ele pergunta surpreso.

- Nem a Maiara. - ela confirma séria.

- Como isso começou? - ele pergunta curioso. Ela suspira antes de responder.

- Na noite do meu aniversário de 20 anos. A gente tava bêbadas. Eu, eu pensei que fosse curiosade de jovens sabe? Mas aí, foi acontecendo e acontecendo e acontecendo, e eu não sentia aquilo com mais ninguém. Aí eu percebi que amava ela, me assustei e acabei beijando um cara qualquer, então a gente acabou discutindo. A Maiara não sabia de nada mas ouviu parte da discussão e acusando a Cris de estar me controlando. Depois desse dia ela se mudou pro exterior e nunca mais ouvimos falar dela, até hoje. Maiara se arrependeu muito de ter se intrometido, mas é isso aí, cá estamos nós! - Maraísa fala dramática.

- Chocado dois mil!!! - André fala depois de ouvir o resumo da história.

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