Meu amigo Bob

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Anne havia acabado de se mudar para uma casa nova. Deixara para trás um marido abusivo que a espancava dia sim e dia não. Junto com ela estava sua filha Sofia, a qual Anne batalhara na justiça pela guarda. As duas estavam felizes por ter deixado toda aquela vida de amargura e dor e agora planejavam gozar de toda a felicidade de uma vida nova, mas as coisas nunca são tão simples assim, não é mesmo?

Após uma semana do dia da mudança Anne estava preparando o jantar quando ouviu vozes vindas do quarto de sua filha. Preocupada correu até lá imediatamente. Ao abrir a porta viu que Sofia brincava de chazinho em sua mesinha de brinquedo. Haviam 4 cadeiras, numa estava o Sr. Ursinho, na outra estava a senhora fada (os dois brinquedos favoritos dela), a terceira estava vazia e na quarta Sofia estava sentada olhando para mãe com cara de espantada.

- Tudo bem, mamãe? - Perguntou a pequena.

- Tudo sim, meu anjo. Eu escutei você conversando.

- Ah sim, estava apresentando o Sr urso e a Sra. Fada pro meu novo amigo.

- E quem é seu amigo? - Perguntou Anne intrigada ao ver que não havia mais ninguém ali.

A pequena a olhou confusa. E em seguida num tom de obviedade disse:

- Está aqui mamãe, não está vendo? - Sofia apontava para a cadeira vazia. - Seu nome é Bob.

Anne pensou por uns segundos e em seguida entendeu. Sua filha havia criado um amigo imaginário. O que não era estranho, a pequena Sofia havia passado por poucas e boas nas mãos do pai. Era normal que crianças com traumas inventassem um amigo imaginário.

- Sim, estou vendo. - Respondeu Anne entrando na brincadeira.

- Quer brincar com a gente?

- Não, a mamãe precisa terminar o jantar. Mas diga ao Bob que é um prazer conhece-lo.

A pequena cochichou algo para a cadeira vazia e em seguida respondeu:

- Ele disse que não gosta de você.

Aquilo a deixou pensativa, mas ela não contrariou. Deu um sorriso forçado e saiu do quarto.

Assim os dias passaram. Bob havia se tornado cada vez mais frequente na rotina da família. Ganhou direito até a uma cadeira na mesa de jantar. As coisas seguiram assim por um tempo, até que coisas estranhas começaram a acontecer...

Era tarde da noite quando Anne acordou com um grito vindo do quarto de sua filha. Com todo o desespero e instinto materno, ela correu até lá e quando chegou encontrou Sofia no canto de uma das paredes chorando.

- O que houve meu anjo? - Perguntou assustada.

- O Bob me mordeu.

Por um segundo Anne pensara se tratar de um pesadelo, mas quando seus olhos foram até o braço da garota viu uma mordida rasa da qual começava a minar sangue.
Ela abraçou a pequena e a levou até seu quarto.

- Você vai dormir comigo hoje e amanhã vamos a um médico ver isso, ok? - Anne não demonstrara em sua voz, mas estava extremamente amedrontada. Trancou a porta do quarto e ali ficou, com a pequena em seus braços até ser vencida pelo sono. Pouco antes do sol nascer sentiu uma respiração fria em seu rosto que a fez acordar instantaneamente. Ao abrir os olhos viu uma coisa que a traumatizaria pelo resto de sua vida. Uma criança (ou o que já havia sido uma criança) estava parada a sua frente. Seus olhos não estavam lá, havia apenas duas orbitas vazias e escuras. Sua boca era repleta de dentes pontiagudos e sua pele era tão pálida quanto a neve.

A criatura disse apenas uma coisa antes de desaparecer em meio a escuridão:

- A Sofia é minha.

Ao ver aquilo ela gritou, mas não apenas um grito, foi algo gutural e desesperado, saiu mais como um guincho. Sofia acordou e se pôs a chorar. Mas Anne não perdeu tempo, pegou a pequena no colo, desceu as escadas e pegou a chave do carro no balcão. Quando ambas estavam na estrada e bem longe Anne não sabia para onde ir, mas tinha certeza que jamais voltaria para aquela casa, então sua filha parou de chorar no banco de trás e disse:

- Mamãe, o Bob ta perguntando se você pode ir mais devagar.

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