ERRO

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Ao abrir os olhos, uma fraca, porém insistente luz me cegou parcialmente. A sensação que tive foi de não ter aberto os olhos por anos. Mas como aquilo era possível? Num segundo eu estava num almoço perfeito com minha família e agora estou aqui em... seja lá o que for esse lugar. Quando meus olhos se adaptaram a luz pude ver o ambiente que me cercava. Então o pânico correu pelo meu desnorteado corpo. Milhares de corpos estavam pendurados em centenas de fileira até onde os olhos podiam ver. Cabos e circuitos adentravam suas peles e todos estavam num estranho estado vegetativo. Foi só ao tentar me livrar das amarras que prendiam meu corpo que reparei no tamanho de minhas unhas. Estavam impecavelmente limpas, mas eram enormes.

Com bastante esforço consegui me soltar e cair sob uma superfície de vidro que cobria todo o lugar. Um alarme ensurdecedor começou a tocar logo que arranquei os cabos da minha pele. Aquilo me assustou de forma tão intensa que comecei a correr a esmo pelo ambiente. Desviando dos corpos pendurados e vegetativos, mas não fui muito longe, meu corpo estava estranhamente frágil. Era como se não fosse eu mesmo ali. Caí novamente no chão de vidro e lá fiquei até sentir alguém se aproximando com passos pesados. Era um homem de aparência séria e robusta. Usava óculos escuros e um traje preto impecável. Após se abaixar e analisar minha situação, o homem me ergueu como quem ergue uma criança e me carregou até o lugar de onde eu havia despencado.
Ao notar que ele estava colocando as amarras em mim novamente tentei lutar e me debater, mas foi ineficiente. Era como socar uma parede de granito. Tentei gritar, pedir por socorro, mas minha voz saiu rouca e fraca. Então reuni todas as forças que me restavam para fazer uma ultima pergunta.

- O que é isso tudo? – Perguntei e a pergunta saiu tão fraca que não passou de um sussurro.

- Isso, minha doce criança, é fruto de um erro no sistema. – Respondeu aquele misterioso homem enquanto tirava os óculos escuros revelando um par de olhos vermelhos e robóticos. – Agora volte a sonhar com sua vida medíocre.
Com suas mãos pesadas conectou novamente os cabos em mim e pouco a pouco tudo se tornou escuro. A última coisa que pude ouvir antes de apagar foi uma voz robótica falar:

“Reiniciando a Matrix”

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