Cheguei em casa e me joguei na poltrona. Meus olhos estavam roxos de tanto chorar. Dei mais dinheiro para o Seu João do Bar do que ele costumava ganhar em um mês e agora minha mesa estava cheia de garrafas de bebida vazias e algumas ainda cheias. Não fui idiota o suficiente para beber no funeral, mas agora o funeral havia acabado e minha doce Anne apodrecia lentamente embaixo da terra. Olhei para a aliança em meu dedo anelar, tão reluzente e brilhante... Comecei uma nova crise de choro.
Não fazia sentido, num segundo eu estava trabalhando como em qualquer outro dia normal e no outro meu celular tocou avisando que minha mulher estava morta. Algum bêbado dirigindo alcoolizado havia trucidado o carro em que Anne estava.
Abri uma garrafa de Vodka e bebi um terço dela num único gole. Ainda era meio dia, mas pessoas de luto não precisam seguir padrões morais e éticos. Perto das 13h eu estava tão bêbado que mal conseguia ficar em pé e o carpete próximo a mim estava inundado em lagrimas. Fiz meu melhor para tentar me levantar sem destruir alguma coisa, mas cai na poltrona novamente. Foi naquele momento que o telefone tocou. Provavelmente era algum parente desejando mais condolências. Eu estava bêbado demais para responder a isso, então só ignorei, mas a pessoa que estava do outro lado insistiu e o telefone tocava insistentemente.
Tirei-o do gancho e enchi os pulmões para mandar seja lá quem fosse ir se ferrar, mas uma voz feminina me fez parar. Ela só disse três palavras antes da linha cair:
“Venha me encontrar...”
Minha mente bêbada começou a criar milhares de teorias quanto aquilo. Poderia aquela ser Anne me mandando um sinal do além? Estaria ela se sentindo sozinha e precisava de mim?
Apaguei na poltrona em que estava em meio ao meu turbilhão de pensamentos. Acordei seis horas depois com uma ressaca indescritível. Qualquer mínimo ruído me fazia ter vontade de morrer. Algo que vinha acontecendo cada vez mais frequentemente desde que Anne se foi.
Levantei e vi o telefone caído do lado da poltrona. Pensei a respeito e de repente me lembrei da ligação. Da voz feminina dizendo “Venha me encontrar”. Anne... Toda aquela situação fez minha cabeça doer ainda mais. Cambaleei até o banheiro, abri o armário de remédios e tomei dois analgésicos e em seguida dois soníferos. Era a única forma de dormir desde todo o incidente. Fui para o sofá, pois dormir na cama que compartilhei com Anne por tanto tempo era doloroso demais. Apaguei por volta das duas da madrugada.
No dia seguinte acordei com o telefone tocando novamente. Olhei no relógio da parede, eram 13h.- Alô? – Atendi ainda sonolento demais para pensar sobre algo
- Venha me encontrar... – Disse a voz feminina novamente e a linha caiu. Eu não estava mais bêbado, aquilo havia sido real.
- Anne! – Gritei para a linha muda do outro lado, mas nenhuma resposta veio.
Sentei no sofá da sala pensando sobre tudo aquilo.- Mais um dia – Sussurrei para mim mesmo. Se aquilo acontecesse novamente, eu daria um jeito de ir de encontro a Anne.
Não dormi naquela noite. Estava ansioso demais. Passei toda a madrugada na poltrona ao lado do telefone com uma garrafa de vodka na mão e meu revolver Magnum 44 na outra.
Quando era 12:55h do dia seguinte, minhas mãos tremiam e suavam de ansiosidade. Ela iria me ligar novamente? Se sim... Minha doce Anne... Faria qualquer coisa para estar ao seu lado novamente.
Quando o relógio marcou às 13h, pontualmente, o telefone tocou. Joguei a garrafa de vodka no chão e atendi. E lá estava, aquela doce voz feminina novamente.
- Venha me encontrar... – Ela disse e a linha ficou muda novamente.
Dei um sorriso nervoso, eu a veria novamente. Coloquei o revolver contra minha cabeça.
- Estou indo Anne. – Sussurrei e em seguida gritei enquanto puxava o gatilho – ESTOU INDO ANNE! – A arma disparou.
...
Enquanto isso, do outro lado da cidade:
- Chega! – Gritou o emburrado Senhor Colins. – Já é a terceira vez que a ligação cai só nessa semana. Vocês disseram que eram profissionais.- Desculpe Sr. Colins, mas já identificamos o problema. Agora as ligações de propaganda não vão mais cair depois de dois segundos. – Respondeu o Davi, responsável pela propaganda.
- Quero ver então. Reproduz o áudio completo para eu ver como ficou.
- Em 3, 2, 1:
“Venha me encontrar... Na casa de shows adultos Hot’n Peper, temos as melhores garotas de toda a região de South Beach, você vai adorar. Rua Woodstock com Brodley, 240. Não perca sua chance de me encontrar junto com outras lindas garotas”.
- Ótimo. Envie para a operadora de telefone. Quero que o anuncio seja reproduzido as 13h, como sempre.
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• Necrotério •
Hororcontos, histórias reais e lendas de terror em apenas um livro. criado em: 29/11/2017 [#274 em Terror - 30/11/2017] [#83 em Terror - 02/12/2017] [#68 em Terror - 03/12/2017]