Coloquei um filme qualquer na Netflix para nós vermos enquanto comíamos a pizza. Com tudo isso que Valentina me contou foi impossível não me lembrar da minha madrinha e de tudo que passei com ela antes dela ser internada. Não sabia de nada dela desde então, não tinha procurado noticias, mas as vezes eu me pego pensando " e se eu tivesse continuado com ela?" "e se eu não tivesse feito o que fiz?" " e se eu não tivesse procurado a minha mãe? Eu teria me tornado aquele monstro que eu estava me tornando? Eu me transformaria Nela?"
_ No que você está pensando?
_ Hã?
_ Você tá com uma cara estranha. Parece que está triste. No que você está pensando?
_ Em nada.
_ Doutora, você sabe que pode confiar em mim, não sabe?
_ Usando a minha própria tática contra mim?! hahaha
_ Depois de tudo o que eu te contei, o jeito que eu me abri com você...
_ Ok, sem chantagem emocional. Estava pensando na minha madrinha. Depois de tudo o que você me contou, não pude deixar de comparar o jeito que sua mãe te trata com o jeito que ela me tratava. O jeito que você se sente com como eu me sentia.
_ Você me disse uma vez que ela estava em um hospício. Porque ela foi parar lá? O que ela fez?
_ É uma história meio longa, você tem certeza que quer ouvir?
_ Não sei se você percebeu, mas temos a noite toda, sou toda ouvidos.
_ Ok.
" Ela me adotou quando eu ainda era pequena, não me lembrava da minha mãe e nem o porquê dela ter me abandonado. Nunca me deixou chama-la de mãe e nem dizer aos outros que na verdade ela tinha me adotado, então para todos ela era minha madrinha e meus pais estavam viajando.
Sharon me tratava como sua boneca, tinha que ser perfeita em tudo, moldada pra ser como ela, senão eu não seria nada da vida. Era fria, dizia que o sentimentos mostravam debilidade e fragilidade, por isso nunca demonstrou nada por mim e eu cresci achando que deveria ser como ela, fria e sem sentimentos, capaz de passar por cima de tudo e de todos pra conseguir o que quero.
Durante minha adolescência ao mesmo tempo que vivia rodeada de pessoas por ser a menina mais popular do colégio, me sentia muito sozinha. Não tinha amigos de verdade, meu namorado só estava comigo por conveniência e minha madrinha parecia se incomodar com a minha presença.
Sempre me esforcei pra ser o que ela queria que eu fosse, pra dá-la orgulho de me ter como filha, mesmo que adotiva, pra ver se ela demonstrava pelo menos um pouco de carinho por mim.
Por causa dessa minha ambição e pelo jeito como fui criada acabei fazendo coisas das quais me arrependo muito, perdendo pessoas realmente importantes pra mim e ficando realmente sozinha.
Mas teve uma vez, uma só vez, que eu pensei que ela se importava comigo, que talvez, por baixo dessa pessoa fria e ambiciosa, ela só queria o meu bem. Só que...
_ Só que...
_ Ela mentiu pra mim, me fez acreditar em algo que não era real, me fez questionar quem eu era e por causa disso eu quase me tornei pior do que eu já era.
_ Sobre o que ela mentiu? Foi tão grave assim?
_ Bem, Sharon, minha madrinha, tinha uma irmã, a Lili, que tinha morrido em um incêndio que tinha acontecido na mansão em que eu morava anos antes. Ela pensava que além dela, seu marido e filha tinham morrido também.
''Porem um dia ela descobriu que, na verdade, sua sobrinha estava viva e podia ficar com toda sua herança e seu dinheiro. Ela entrou em uma busca incansável pela menina e quando a encontrou fez de tudo para que ela não descobrisse."
_ Você conhecia a menina?
_ Sim, seu nome era Luna, quer dizer o nome que seus pais adotivos a deram, seu verdadeiro nome era Sol Benson. Ela estudava no mesmo colégio que eu e frequentava a mesma pista de patinação. Seus pais trabalhavam lá em casa, então ela morava lá também, só que na parte dos empregados.
" Minha madrinha não queria de jeito nenhum que soubessem a verdade, principalmente ela. Então ela mentiu pra todos, inclusive pra mim. Disse que eu era Sol Benson, que eu era sua sobrinha. Isso me confundiu tanto. Eu comecei a questionar toda a minha vida e tudo a minha volta.
Eu me sentia finalmente em uma família. Meu "avô" me tratava com carinho e até minha madrinha demonstrava que gostava um pouco de mim.
Só que um dia eu descobri a verdade, minha mãe me contou. Eu me senti arrasada, sem chão. Senti raiva, tristeza, decepção.
Eu a perguntei porque ela tinha mentido pra mim, então ela disse que tinha feito tudo isso pro meu bem, pra manter o que me era de direito, nas palavras dela. Meu emocional estava fraco, eu estava confusa e já não gostava da menina, então porque não manter essa mentira?
Apesar de tudo, ela era a única pessoa que eu tinha, então menti para todos, mas uma hora eles descobriram a verdade. Nunca descobriram que eu já sabia é claro, mas descobriram tudo que minha madrinha tinha armado.
Ela fugiu. Não a vi por meses. Mas quando ela voltou, estava descontrolada. Não queria de jeito nenhum aceitar que a suposta filha dos empregados era, na verdade, dona de toda a sua fortuna. Ela, que sempre foi uma mulher discreta e controlada, estava irreconhecível. Enlouqueceu.
Então depois de sequestrar Luna e quase incendiar a mansão pela segunda vez, finalmente foi pega e levada a um hospital psiquiátrico."
_ Nossa...
_ Eu sei.
_ Minha mãe é uma vaca, mas a sua madrinha...meu Deus, estou me sentindo até mal agora.
_ Não precisa, depois disso eu fui morar com a minha verdadeira mãe e ela é uma mulher espetacular e eu a amo muito, mesmo não tendo a conhecido por metade da minha vida, sinto como se sempre tivéssemos vivido juntas.
_ Âmbar, sua madrinha...foi por causa dela que você se tornou psicóloga?
_ Ela foi um do motivos, um grande motivo na verdade. Mas eu também escolhi isso por mim. Tudo o que passei, senti, fiz e quase fiz por me sentir sozinha, sem ninguém pra desabafar, sem ninguém pra confiar. Não queria que ninguém passasse pelo que eu passei. Eu consegui aprender sozinha, mesmo que depois de muito tempo, que aquilo não era certo e que eu não chegaria a lugar nenhum assim e só acabaria mais sozinha. Mas, nem todo mundo é assim, tem pessoas mais fracas e eu só sei que eu queria protege-las.
_ Se você quer saber, você me ajudou muito, obrigado.
_ Então eu me sinto realizada. Eu que te agradeço por me deixar te ajudar e a realizar meu sonho.
Sinto que meus laços com Valentina estão cada vez mais fortes, pode ser perigoso me apegar tanto a ela, mas sinto que se não a proteger vou ter falhado em tudo o que venho trabalhando.
E isso não vai acontecer.
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Será que essa aproximação entre Âmbar e Valentina causará problemas para ambas?
Vocês gostariam de um POV do Simon? Se sim, gostariam que narrasse desde que ele chegou a França ou depois de que a Âmbar os deixou no bar?
Votem e comentem, suas opiniões me motivam a continuar escrevendo e a melhorar a história.
Bjs.
YOU ARE READING
Forgive me, Forget me
FanfictionÂmbar e Simon não se veêm a mais de oito anos. Depois de tudo que aconteceu entre os dois e com o Jam and Roller, Âmbar se muda para Paris, onde recomeça sua vida e se fecha por completo para o amor. Depois de anos, os dois já maduros e experientes...