Capítulo 7

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Hoje faz-se exatamente uma semana desde que estou presa aqui, já faz uma semana desde que completei meus dezesseis anos. Parando para pensar, minha vida não mudou muito, antes de vir pra cá eu vivia presa na minha própria casa, agora, eu vivo presa em um castelo. É claro que não estou contente, na verdade, acho que já deixei isto muito claro, mas, no fim do dia, não consigo deixar de me sentir exausta. Não apenas exausta das provas, das etapas, dos vestidos, das aulas de etiqueta, dessa competição maluca em que me encontro, mas principalmente do medo, dessa sensação de estar trancada, sem perspectiva alguma. A primeira e única vez em que senti liberdade foi naquela traumatizante noite, e acho que depois de ter experênciado o que é ser livre, jamais me contentarei em estar presa novamente.

O dia em que eu criei coragem e saí, almejando algo novo, um mundo desconhecido, com coisas novas e novas oportunidades, apenas para provar ao meu pai que estava pronta para enfrentar qualquer perigo que existisse aqui fora. Percebo agora o quão tola fui, inocente de acreditar que poderia lidar com algo que sequer podia imaginar. Apesar de tudo o que houve, não consigo parar de pensar no papai, na minha casa. Não consigo mais imaginar-me vivendo felizmente sob suas repressões, mas aqui estou, vivendo sobre as mesmas condições de antes. O que será que o meu pai está fazendo agora? Sera que está me procurando? São perguntas que eu ainda não sei a resposta, e talvez, temo que nunca saberei.

No decorrer dos sete dias passados aqui dentro, muita coisa aconteceu. Não, na verdade nada de interessante aconteceu, só algumas dessas competições bobas que começaram a eliminar muitas garotas de uma vez, o que na minha opinião, novamente, é estúpido. Esse é o pior jeito de arranjar uma esposa que já existiu. Agora só restavam dez garotas contando comigo e Diane. Sim, Diane ainda estava comigo e eu agradeço a Deus - se ele existe - por isso. Menos mal.

O que realmente anda me incomodando é o fato de ter conseguido chegar tão longe sem ser dispensada pelo príncipe, eu não imaginava que passaria todo esse tempo no castelo e ainda assim não seria capaz de descobrir forma alguma de sair daqui. Até aquela pequena porta do salão agora está sempre sendo vigiada e eu nunca mais vi Antônio por aqui, ou seja, não está fácil pra ninguém ultimamente e pior ainda para mim.

Voltando para a vida real agora, eu e Diane estávamos no "quarto" aguardando a chegada de Vera, eu permanecia sentada em uma cadeira abaixo da janela, tentando enxergar qualquer coisa por aquele vidro que pudesse me entreter. Já minha companheira ainda estava dormindo, provavelmente ouviria uma bronca da senhora prestes a chegar, a qual se mostrava cada vez mais ranzinza e rabugenta. Mas, para nossa surpresa, quem entrou no cômodo empoeirado dessa vez foi uma moça, muito mais jovem que ela, não chegava a ter a minha idade, mas aparentava ter a mesma que meu pai.

- Bom dia senhoritas - Ela pronuncia olhando para Diane, mas quando ela olha para mim, mais especificamente pro meu rosto, seus olhos arregalaram-se e ela deposita sua mão em cima de sua boca, parecendo estar completamente surpresa. Uma sensação estranha percorre meu corpo, quase como se eu conhecesse aquela mulher de algum lugar, algo como um deja vu. Mas é impossível que ela possa ter me reconhecido, já que passei minha vida inteira isolada na floresta.

Certo, então, eu sei que é de manhã e que eu acabei de acordar, mas não acho que sou tão feia assim para haver tal reação. A mulher se recompõe, e fala conosco:

- Hoje, cada uma de vocês terá um momento a sós com o príncipe. As duas serão levadas, uma a uma, ao escritório de vossa alteza, e terão vinte minutos cada uma para mostrarem o seu melhor para ele, deverão provar o porquê de merecerem ser a sua futura Rainha de Urbe. Está entendido?

- Cadê a Vera? - Ouço a Diane perguntar.

- As roupas estão aqui - Diz ela colocando dois sacos no chão - Vocês têm menos de meia hora para se aprontarem, começando agora - e então ela sai.

Eu olho para a Diane e nós duas começamos a mexer nos sacos procurando algo vestível, haviam vários vestidos, os modelos pareciam infinitos, as cores então, nem se fala. Entretanto, em meio a todos, eu acabo escolhendo um preto, o qual pessoalmente adorei.

Já fazia muito tempo desde que esperava a minha vez de ser chamada pra passar um tempo a sós com o "mimadinho", apelido que eu carinhosamente (só que não) dei para ele. Todas as outras meninas já haviam sido chamadas, inclusive Diane, que foi a primeira diga-se de passagem. Menos eu, que ainda estava em pé aqui, esperando ansiosamente - note a ironia - para vê-lo.

Confesso que nesse meio tempo estava pensando em algumas maneiras de matar o mimadinho sem deixar rastros, e dessa forma, fugir desse lugar, mas pelo que vi isso não será possível, pois além de estarem presentes comigo aqui na sala de espera quatro guardas, há também outros dois, incrivelmente armados, que levavam as damas para dentro do escritório do rei e permaneciam lá até que elas saíssem.

Solto um suspiro, sentindo-me cansada de tudo isso e me sento no chão, não sou obrigada a ficar aqui esperando em pé. Depois de alguns minutos quase dormindo, eu escuto o barulho da porta ser aberta. Para minha surpresa, em vez de dois guardas saírem acompanhados pela garota, quem saiu foi o mimadinho e em seguida, atrás dele, a garota, cujo o nome é Bela (ser uma das dez ultimas tem lá suas vantagens). A boca da garota estava toda manchada de batom, seus cabelos totalmente bagunçados e seu vestido vermelho todo amassado. Então foi isso que eles queriam dizer com o "momento a sós" com o Rei? Mais nem sonhando que eu vou fazer uma coisa dessas.

Diferente de Bela, o mimadinho não estava bagunçado, seus cabelos - que são melhores que os meus - estavam impecavelmente arrumados. Estava tudo perfeito nele, tirando o fato que ele é um idiota desalmado. Eu sou convidada a entrar na sala e passo pela porta, decidida a não abaixar a cabeça em momento nenhum. Analiso o escritório luxuoso presente diante de mim, haviam tapeçarias douradas e cravejadas por todo o chão, a mesa de trabalho era metricamente arrumada, contendo pilhas de papeis e pastas. A poltrona do príncipe era verde escura e estufada com um tecido aveludado, ele se senta nela e eu me deposito no assento do outro lado da mesa.

- Safira, você é a última do dia, então vamos acabar logo com isso - Ele faz uma pausa, limpando a garganta e umedecendo seus lábios, depois se levanta e vem na minha direção, aproximando-se perigosamente de meu rosto. Seus olhos estavam bem na minha frente, profundos e indecifráveis. Ah, então é isso que ele veio fazer aqui, não é mesmo?

- Vossa alteza - eu digo olhando em seus olhos - Acho que tem batom em volta da sua boca - eu rio internamente. Sua feição muda, constrangido ele se afasta de mim e pega um pano para limpar-se.

- Certo, eu conheço o seu tipo, Safira - André se senta em sua poltrona novamente.

- Como você sabe o meu nome?

- Eu sei de várias coisas sobre você, sei que você não gosta de mim, sei que não queria estar aqui. Mas, quer saber de uma coisa? Isso só torna tudo mais interessante - o príncipe entrelaça suas mãos, encostando ambos cotovelos em cima da mesa.

- Como você sabe de tudo isso? - não é possível, eu não me lembro de ter falado isso para ninguém a não ser Diane - Quem te disse?

- Meu rosto não é familiar para você, Safira? Ou vai ter que perder outro par de brincos para me reconhecer?

- O quê? Do que você está falando? - franzo minha testa, sem entender o que ele diz.

- Vamos lá, Safira - ele sorri - Pense, use seu cérebro, tem certeza que não se lembra de nada?

É aí que eu congelo. Recordo-me instantaneamente do incidente com Antônio durante o baile na semana passada. Mas como isso foi acontecer? De todos os rapazes ali, por que logo ele foi falar comigo?!

- An-Antônio? - eu digo finalmente, me castigando mentalmente por ter gaguejado.

- Surpresa? - Ele diz arqueado a sobrancelha para mim.

Um Amor Inesperado.Onde histórias criam vida. Descubra agora