Capítulo 12

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Meus olhos se abrem lentamente quando sinto os primeiros raios do sol escaparem entre as cortinas, batendo em meu rosto, despertando-me para o novo dia que começava. Essa seria uma manhã perfeita, se não fosse pelos seguintes fatos e acontecimentos que listarei logo em seguida:

Não preguei meus olhos por sequer um momento nesta noite. Meus pensamentos iam e voltavam para pontos longínquos, entrando e saindo de minha cabeça, voando pelo teto escuro que encarei sem descanso por toda madrugada. Como um martelo tilintando meu cérebro, perturbando-me por completo. As últimas vinte e quatro horas foram agitadas demais para meu corpo, acostumado com a vida pacata em meio à floresta, isolada de tudo e todos os problemas que o mundo real possui.

Rei Stephan e Príncipe André, ambos de Dramir.

O sangue que corre em suas veias de sangue azul viveu em conflito com o reino vizinho, Urbe, por várias gerações. Entretanto, o patriarca da família finalmente consegue derrotar seu inimigo secular e deixa seu herdeiro como responsável pelas novas terras conquistadas. O garoto precisa casar para validar-se rei, então resolvem criar uma competição a fim de encontrar a noiva perfeita. Mas então, de repente, o pai retorna, fazendo uma visita ao seu filho, e depois o espanca cruelmente?

Qual o sentido em tudo isso?

Esta é a causa da minha insônia. A tirar o fato de que o príncipe está dormindo profundamente bem ao meu lado, essa história vem me perturbando. Meus livros de história contavam contos sobre a gloriosa capacidade bélica de Dramir, seus exércitos impiedosos e seu povo bruto e disciplinado. Jamais imaginei que o líder dessa nação pudesse agir de tal maneira. André prometeu que me daria explicações quando acordasse, talvez tenha alguma peça faltando nisso tudo.

Sinto os pelos do meu corpo se arrepiarem, como um sinal de mau presságio.

Sento-me na cama para analisar o homem esparramado. O sol que iluminava seus cabelos fazia com que os frágeis fios parecessem de ouro, num tom dourado brilhante, encantador. O seu rosto, pálido, com alguns arranhões e machucados, refletiam uma feição serena de sono profundo, quase como se sorrisse em meio aos lençóis, os cílios longos e claros acariciando levemente sua bochecha rosada. Parecia uma criança.

Ao contrário das aparências, seu corpo de homem era bem definido e seu abdômen ainda estava a mostra, a pele quente misturando tons roxos e bandagens postas cuidadosamente por minhas mãos no dia anterior. Tive que rasgar sua camisa na ocasião, utilizei o tecido da melhor maneira que pude para ajudá-lo.

Enfim, contemplo a imagem a minha frente. Como um quadro pintado pelas mãos mais habilidosas e talentosas dessa realidade. Este homem: corpo de demônio e rosto de anjo. Mas e por dentro disso tudo, o que há? Este é o mistério que prevalece. Você é só um rostinho bonito sustentado por um corpo perfeito? Nossos últimos encontros têm me mostrado que não. A cada palavra trocada e nova informação descoberta meu coração se amolece mais em relação a ele. Todos aqueles xingamentos e repulsos se transformaram em preocupação assim que o vi machucado, poderia isso significar algo?

Só posso constatar um fato com certeza: as coisas mudaram.

E como mudaram, ouso dizer. Já faz quase um mês desde que cheguei no castelo e não sei o que pensar. Ainda me sinto presa, mas não me sinto mais sozinha. Isso alivia meu coração, todavia não o suficiente. Não sinto falta da minha antiga vida, porém, acima de tudo, sinto falta do meu pai. Todo meu ser queima dolorosamente ao pensar em como o fiz sofrer, a preocupação que o causei pela primeira vez, colocando em risco o seu pacato estilo de vida. Me pergunto como ele está agora, será que me procura?

Afasto toda essa reflexão para longe. Dói demais pensar assim. Enquanto André dorme, coloco minha mão em sua testa, levemente. Sinto seu calor queimando a superfície da minha pele, ele está quente e suando. É febre, pode ser de alguma infecção nas inúmeras feridas de seu corpo. Posso ajudá-lo, mas vou precisar de algumas coisas. Bem na hora, uma criada entra no quarto, arrastando a porta lentamente. Suas mãos carregavam uma bandeja de madeira, parecia ser o café da manhã do príncipe, servido na cama aparentemente, o privilégio dos privilegiados. Ela não diz uma palavra, apenas completa seu serviço, deixando a comida em cima da cômoda e indo embora. Eu corro até ela apressadamente, antes que se vá.

- Senhora, espere um pouco! - Ela vira e me olha um tanto surpresa, sua íris escura circula por todo o ambiente até parar em mim, buscando algum problema ou discrepância - O príncipe está com febre.

- Entendi, vou mandar chamar um médico para acompanhá-lo - ela faz uma reverência e tenta ir embora novamente.

- Isso não será necessário, eu posso cuidar disso sozinha - sorrio, tentando convencer a criada - Mas vou precisar que me traga algumas coisas, vai ser rapidinho.

- Posso te ajudar, senhorita, mas pedirei para o médico passar aqui mais tarde mesmo assim - seus olhos me fitam - Do que vai precisar?

- Obrigada, eu agradeço pela confiança - seguro sua mão, chacoalhando-a no ar, ela parece surpresa com minha ação - Só peço que me traga uma toalha de algodão e uma tigela com água fria e vinagre.

- Vai fazer compressas? - eu respondo afirmativamente com a cabeça - Irei providenciar o que pediu.

- Muito obrigado, mais uma vez.

- Eu que a agradeço por se preocupar com o príncipe, parece que se importa bastante com ele - a senhora sorri, os traços de sua idade se sobressaem.

- Oh, eu suponho que sim - respondo, sentindo uma sensação estranha surgir dentro de mim.

- Fico feliz em saber disso - sorri - Espere só um minuto, já volto com tudo.

Então é isso que mudou, eu me importo com ele. Sinto minhas bochechas corarem pela revelação. Encaro sua figura espalhada pela cama e imediatamente meu coração acelera, levando meus pensamentos para longe. O que isso quer dizer? Será que...? Aquela sensação estranha toma conta de mim novamente, como borboletas voando em meu estômago. Isso me assusta, mas ao observar seu rosto pacificamente dormente, intocável, não sou capaz de conter um sorriso.

Sento-me ao lado dele, sentindo uma quentura estranha preenchendo meu interior, acendendo uma chama até então desconhecida dentro de mim. Ouço o som de seu despertar, presenciando a primeira abertura de seus olhos nesse dia. André se senta dolorosamente, com a mão em seu braço machucado. Se espreguiça e boceja. Seus olhos se encontram com os meus finalmente, primeiro, ele fica surpreso, mas sorri logo em seguida e fala:

- Então você ainda está aqui.

- Sim, não pense que vai fugir de mim assim tão facilmente, você ainda tem que me explicar tudo o que aconteceu - ele faz cara de emburrado - Aliás, como você está? Ainda sente dor?

- Não muita, graças a você - fala e sorri com ternura - Mas estou suando frio, minhas mãos estão tremendo.

- Você está com febre, mas já vou cuidar disso, apenas tente comer algo - eu busco a bandeja com o café da manhã e coloco-a junto a ele na cama.

Nós ouvimos o som da porta se abrindo e a senhora empregada de antes entra com as coisas que eu pedi em mãos, ela as entrega para mim, que agradeço. Um sorriso brota em seus lábios quando percebe André acordado ao meu lado, a mulher faz uma reverência e sai do quarto apressadamente.

- O que é isso? - ele pergunta.

- Isso é o que eu preciso pra fazer uma compressa, vai ajudar o calor da sua febre a ir embora.

Eu começo a molhar a toalha de algodão na água fria com vinagre, torcendo o tecido logo em seguida. O príncipe se prepara para comer, mas suas mãos estão trêmulas, ele acaba derrubando tudo o que pega com os talheres. Ouço-o bufar com frustação.

- Acha que consegue comer sozinho? - ele faz que não com a cabeça - Então abra a boca.

Eu pego uma colher e encho-a de sopa, levando até a sua boca que estava aberta e dando a comida para ele. Isso é muito estranho, mas é necessário, por isso estou fazendo, apesar de sentir um frio no fundo da minha barriga. Faço ele beber um pouco de chá e continuo dando sopa pra ele, revezando com pedaços de pão com manteiga que vieram junto na bandeja.

Mais uma vez, ouvimos o som da porta sendo aberta, mas, dessa vez, entra no quarto uma outra mulher, não tão velha, mas bem mais velha que eu, ela era loira dos olhos azuis e estava vestida elegantemente como alguém da realeza. A última coisa que noto é uma coroa posta elegantemente sobre sua cabeça.

- Filho? - pergunta ela olhando para mim e para ele.

- Mãe? - ele fala com a boca cheia de comida.

Um Amor Inesperado.Onde histórias criam vida. Descubra agora