Capítulo 8

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Esse mimadinho idiota só pode estar brincando com a minha cara. Como ele conseguiu fazer com que eu gostasse dele naquela noite? Como é que eu não percebi que tinha algo de errado com aquele Antônio? Pensando agora, eu deveria ter desconfiado mais de certas coisas, como por exemplo o fato dele possuir a chave para aquela porta do salão, ou por ele ter defendido o príncipe e o elogiado o tempo todo. Isso só podia ser coisa daquele narcisista, por que não desconfiei? Ao invés disso, deixei-me levar pelas nossas conversas e permiti que ficasse confortável em volta dele, como isso é possível?

Eu sinto uma fúria descontrolada tomar conta de mim, fecho minhas mãos tentando controlar essa raiva. Eu fui enganada, pensei que poderia estar a um passo a frente mas na verdade estava atrás de seus planos o tempo todo.

- Você é um hipócrita! Acha que pode mandar em tudo! Mas eu sei de uma coisa que você não pode comprar com dinheiro e nem poder - me levanto, exaltada.

- E o que seria essa coisa? - Ele pergunta, desacreditado.

- Os nossos corações! - eu digo e ele ri com deboche - Você pode seduzir qualquer uma dessas garotas e casar com ela no final, mas nenhuma delas vai te amar de verdade, porque dinheiro não compra o amor e você vai passar o resto da sua vida ao lado de alguém que só se interessa pelo seu status! - Touche.

André ouve cada palavra como se fossem facadas em seu coração. Minha mente tenta ter empatia, mas isso não me impede de completar meu sermão, dizendo:

- Você não sabe que aquele que passa o seu tempo procurando algo para amar acaba amando o que encontra? - eu termino, encarando-o seriamente. Ele fica em silêncio, claramente abatido.

- Sabe de uma coisa, Safira? De todas as outras aqui, você é a minha preferida - eu reviro os olhos.

- Você deve falar isso para todas as outras também - cruzo os braços.

- Eu admito que falo isso para todas, mas também tenho que admitir que só pra você é verdade - aquele sorriso estúpido volta para seus lábios.

- Já chega, eu quero ir embora - digo e começo a caminhar em direção á saída, já impaciente com essa conversa.

Ele da um sinal para os guardas que estavam conosco dentro da sala o tempo todo e eles me levam para fora do local, mas antes da porta do escritório se fechar atrás de mim, o príncipe vem e me interrompe, segurando meu braço e fazendo com que eu olhasse para ele.

- Boa noite, minha pedra preciosa.

Eu o respondo com uma cara de nojo, e antes que eu pudesse cuspir na cara dele, os guardas me levam de volta pro meu "quarto" e eu surpreendo-me vendo que Diane não está em sua cama. Onde diabos ela está? Observo mais uma vez a mulher que substituiu Vera entrar e me cumprimentar com uma leve reverência. Pergunto o seguinte:

- Com licença senhora, onde está a minha companheira de quarto?

- Ela requisitou uma audiência com Vossa Alteza em sua suíte real.

Meus olhos se arregalam. Diane vai passar a noite com o príncipe André? Mais como? Por que? O que ela quer dizer com essa audiência? Será que aconteceu alguma coisa? Meu cérebro começa a raciocinar enquanto eu tento buscar uma razão para tudo isso que não envolva a ideia de que Diane traiu nossa aliança. Ela teve algum problema? Por que não me contou? Eu pensei que ela fosse igual a mim, mas pelo visto, não se pode confiar em mais ninguém aqui. Além disso, depois do que eu disse hoje para o príncipe, acho que tudo o que posso fazer é esperar os guardas chegarem e sumirem comigo.

Alguns dias depois...

Já amanheceu, e por mais incrível que pareça, eu ainda estou aqui, nesse quarto imundo, onde todas as noites fico sozinha com meu arrependimento de ter saído de casa naquela noite. Eu tento esquecer tudo isso, parar de bater na mesma tecla, mas não consigo, pelo menos não ainda. Talvez eu deva apenas aceitar que nunca irei embora daqui, vai chegar uma hora em que meu pai vai até esquecer de mim, quando esse dia chegar é provável que eu ainda esteja nesse castelo, viva ou morta, servindo a realeza ou enterrada na masmorra.

Diane ainda não chegou e nem nenhuma das serviçais entrou no quarto ainda, parece que eu estou sozinha mesmo, como sempre estive. No meio dos meus devaneios, escuto o abrir da porta, nem me dou o trabalho de olhar quem é, deve ser Vera ou aquela outra mulher.

- Safira, acorde, precisamos ir. - Eu escuto alguém falar.

Assim que me viro, dou de cara com um par de olhos azuis, os quais me observavam intensamente. O que ele está fazendo aqui?

- O que você está fazendo aqui? - As palavras saltam da minha boca.

- Não tenho tempo pra te explicar agora, só vem comigo que eu te explico quando nós chegarmos.

Eu levanto sem a mínima intenção de ir com ele e pronta para expulsa-lo do meu quarto, mas André vem e segura minha mão, me arrastando para fora do quarto junto com ele.

- Espera! O que você pensa que está fazendo? Me larga!

- Silêncio - ele fala e coloca seu dedo indicador em frente a sua boca, apontando para nossa frente por onde uma funcionária do castelo passava. No mesmo instante eu paro de falar e me escondo junto com ele.

- Pode me explicar o que está acontecendo agora? - Falo assim que a mulher se vai.

- Eu já disse, quando nós chegarmos eu explico - o príncipe diz.

- Chegar aonde? - Eu pergunto ainda sem entender nada, mas o rapaz não faz o mínimo esforço para me responder e continua me puxando, nos levando para não sei aonde.

Só reconheço para onde estamos indo quando chegamos no salão, o mesmo que dias atrás foi o cenário de um baile no qual eu conheci o Antônio, quer dizer, André. Chegando naquela mesma porta onde eu supostamente perdi meus brincos, ele tira um chaveiro do bolso e abre a mesma, que se encontrava sem nenhum guarda por perto. Abrindo-a, entramos naquela sala que é usada como dispensa, André fecha a porta atrás de nós e a tranca. Depois disso, ele vai até um tapete que estava no chão e o retira, revelando um tipo de escotilha secreta embaixo dele.

- Primeiro as damas - ele fala olhando para mim.

- Eu não vou entrar nesse negócio aí não - digo já preparada pra ir embora.

- Vai logo - ele fala, segurando meu braço.

- Está bem, está bem - eu falo me afastando dele - só solta o meu braço, por favor?

- Eu não posso, vai que você tenta fugir - eu mostro a língua pra ele, que ri logo em seguida.

Levantando a barra do meu vestido eu desço pela escotilha, vendo o mimadinho descer também depois e fecha-la. No fim da viajem, nós chegamos em um túnel. Parecia ser um tipo de adega, pois haviam enormes barris e algumas taças de vinho organizadas em prateleiras velhas de madeira. Bem no fim do extenso corredor, podia-se notar uma luz tímida, nós começamos a caminhar em direção a ela.

- Nós não vamos chegar nunca? - Eu pergunto enquanto continuo sendo puxada pelo braço.

- Nós já estamos chegando.

Dito e feito, quando chegamos ao fim do túnel, eu finalmente vejo onde ele queria me levar. É uma espécie de praia. Atrás de nós, está uma montanha, e em cima dela, o castelo. Então podemos dizer que estávamos atrás do castelo, onde há uma faixa de areia com várias rochas pretas em sua volta, as quais provavelmente caíram do topo da montanha. O mar era claro e quase transparente, mas o vento forte e gelado fazia com que as ondas ficassem altas e perigosas. Eu fico um tempo encarando o céu e contemplando a sensação do vento batendo em meu rosto, ouço o barulho das gaivotas e das ondas, sentindo a liberdade por uma segunda vez em minha vida.

- Nem pense em fugir, até porque eu tranquei e escotilha, então não tem como você voltar e muito menos como nadar pra fora daqui. O lugar é escondido e cercado por montanhas.

- Eu sei, não sou idiota.

- Tem certeza? - Ele pergunta e eu dou um soco no ombro dele.

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