Prólogo

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Esse livro, assim como os demais, serão retirados logo depois de postado completamente. 


*Tem sorteio no instagram, e tem em minha página com o Livro físico de Pierre. Corre lá. 




Kaline,

- Não! - Gritei apavorada.

Eu tento correr, mas é inútil. Ele rasga minha roupa, já tinha socado meu rosto por diversas vezes, e eu não conseguia sequer enxergar para onde correr. Enquanto tentava me manter presa debaixo de si, ele dizia palavras que feriam minha alma.

- Negra vadia. É isso que todas vocês querem! – Meu corpo entrou em estado de choque quando ele se enfiou dentro de mim, mordendo meus seios e se arremessando para dentro e para fora.

Eu sentia as lágrimas caindo por meu rosto, mas era só isso. Não conseguia sentir nem mesmo as dores das feridas que aquele homem fazia em mim. Se não o bastante senti que ele cortava não só minha alma, mas usava algo dilacerante dentro de mim. Mas eu permaneci imóvel.

- Gostou, negra? Eu sei que gostou. Gemeu eu ouvi, e até gozou. – Dava para ver que agora se vestia, seria minha chance de correr, mas eu não conseguia me levantar. Não tinha forças para sequer mexer os dedos de minha mão. Então fechei os meus olhos e esperei que a morte chegasse.

Acordei com o olhar choroso de minha professora de Balé, que chamava meu nome. Então eu soube que meu corpo não havia morrido, mas minha alma sim.

Agora, anos depois, enquanto eu corria pelas ruas escuras, deixando que a chuva molhasse meu corpo, mesmo depois de tanto tempo de terapia, eu sempre imaginava uma sombra atrás de mim.

Tanto o psicólogo, quanto o psiquiatra, haviam me dado alta dizendo que eu precisava viver uma vida nova. Respirar novos ares, e voltar a dançar.... Profissionalmente. Mas eu não via motivos para ser feliz. Não por enquanto. Ainda podia ver as cicatrizes por todo meu corpo. Elas em remetiam ao passado.

Nenhuma palavra bonita ou de encorajamento surte muito efeito quando a visão está turva e a gente só chora. Mesmo que por dentro.

Eu não tinha mais o costume de sair para correr. Na verdade, não tinha liberdade. Tudo que se movia próximo a mim, era uma ameaça. Hoje havia sido um passo para a vitória. Era dolorido, mas tinha dado meus primeiros passos. E o incentivo foi um e-mail, que acabara de receber. Uma academia de dança no Brasil, me convidava a ser professora. Até então não entendia como tiveram acesso ao meu currículo, mas depois de uma boa conversa com minha madrinha, eu entendi. Ela havia enviado. Só que eu, não estava pronto e muito menos disposta a estar em sociedade com as pessoas. Eu pensaria um pouco mais, e trabalharia um pouco mais o meu amor próprio, e quem sabe um dia. Um dia que me parecia bem distante, eu aceitasse algo parecido. Mudar de país me faria bem, mas talvez não seja o momento.

Minha mente precisava estar sarada. Curada, assim como meu corpo agora só restavam cicatrizes. A dança para mim não era um passar de tempo, ou uma fonte para perder peso e tonificar o corpo, era mais que isso. Eu tinha gosto de ouvir as pessoas dizerem que a dança ajudava a reduzir o estresse e a ansiedade. Ela era fisioterápica. Tinha como benefícios, diminuir a tensão e relaxar a musculatura. E mesmo assim, ela tinha um poder maior sobre mim. Ela me transportava a outro mundo, e por isso, não podia aceitar um convite para fugir desse lugar. Não poderia ir sabendo que há muito perdi um pouco dessa sensibilidade. Eu precisava estar curada.

Corri de volta para casa, para dar uma resposta ao e-mail que havia deixado aberto na tela do computador. E quando entrei, estava desligado. Liguei novamente o aparelho e enquanto secava os cabelos e me trocava, redigi o texto na mente: "infelizmente tenho que me declinar do convite, deixando em aberto uma nova negociação para um futuro próximo". Seria só isso. Mas quando abri o e-mail, havia outra resposta: "Seja Bem-vinda!"

Kaline,  -  Degustação Onde histórias criam vida. Descubra agora