Capítulo Doze

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Lakisha

— Bom dia meu filho, entre. Fique a vontade!

— Bom dia Lakisha! E Kalie?

— Kalie não quis estar conosco. Na verdade não queria que tivéssemos essa conversa. Mas desta vez não farei sua vontade. Durante todo o tempo em que a conheço sempre fui condizente com o que ela quis e sei que no fundo ela também tem vontade de gritar o que aconteceu com ela, mas a dor é maior que essa vontade sabe meu filho. E não faça eu me arrepender de confiar em você.

— Eu não sei se sou digno dessa confiança que está depositando em mim?

— Também não sei mais vou arriscar. Se algo der errado matamos você. – Nós rimos e ele se serve de café.

O que me leva a confiar nesse rapaz é que até hoje nenhum outro homem tinha tido interesse na história da Kaline. Quando eles se aproximam e ela foge desistem. Simplesmente não persiste, isso se chama falta de interesse. Não lutam por aquilo que quer. Quando nos interessamos por algo ou por alguém precisamos ir à busca de seu passado, conhecer seu presente aí planejarmos juntos um futuro.

— O que aconteceu com a Kaline? Eu fico sem saber como agir com ela. Quero conhecer mais dela, mas estou sem ação diante as atitudes dela.

— O Motivo desse nosso café é porque precisamos de ajuda. Ela viu um cara na boate outro dia, no dia em que chegamos para ser mais precisa. E ela tem quase certeza que ele a reconheceu. E essa semana recebeu uma mensagem... – Abro o laptop e mostro a mensagem para ele. — Ela acha que é dele.

Respiro fundo e começo a contar aquilo que vi e aquilo que presenciei.

— Encontrei uma Kaline praticamente morta. Ensanguentada e toda machucada. – Ele deixa a xícara na mesa e me olha, sei sua reação.

Eu fiquei doente com o que vi, mas a reação das pessoas que a receberam e da psicóloga que a tratou foi às mesmas.

— Eu sabia que os pais haviam falecido naquela semana e que ela não havia ido à escola de dança por dois dias, mas naquele dia era dia de prova e não poderia faltar. Ela prometera ir. Então fui até sua casa e o que vi foi terrível. Uma cena digna de filme de terror. – Tomo mais um pouco de leite para ajudar com as palavras que mesmo depois de tantos anos eram difíceis de engolir. — Ela estava caída no chão em uma poça de sangue com a roupa rasgada, os lábios e os olhos inchados, os seios e o corpo mordido como se um animal tivesse passado por ali.

Vi a expressão dele de ódio e de dor. Levou as duas mãos à cabeça como se imaginasse a cena.

— Acho que não quero ouvir mais Lakisha. – Levantou-se da cadeira.

— Deixa-me terminar Nicolas. Já que comecei, me deixa terminar porque não sei se terei coragem de falar sobre isso novamente.

Deu alguns passos, porém voltou a sentar-se.

— Chamei uma ambulância e os médicos constataram no hospital que ele havia feito um estrago dos grandes. E que ela foi muito valente por ter sobrevivido. Era de dar pena Nicolas, era de dar pena.

Ele estava desesperado... Dava para ver em seu olhar que não queria mais ouvir a história. Eu também se me contassem não gostaria de ouvir.

— Durante algum tempo mais precisamente um ano ela não saiu de casa. Trancou a matricula na escola de dança e todo homem que se aproximasse dela, era como se visse o rosto do desgraçado. Não conseguia falar com ninguém senão comigo.

— Eu imagino.

— Ela tinha dezessete anos Nicolas. Dezessete anos. Uma criança ainda. Superprotegida pelos pais adotivos. Sofrendo uma perca, vivendo um luto, você não tem noção de como estava à cabeça dessa menina.

Kaline,  -  Degustação Onde histórias criam vida. Descubra agora