Capítulo 35

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Estava em transe.
Perplexa.
Frisada.
Morta.
Pálida.
Gelada.

- Você quer um copo d'Água?

- Outro filho? - coloquei a mão na garganta tentando engolir minha saliva - aos trinta?

- É - ele sorriu - isso é muito comum.

- Outro filho? Aos trinta? - não parava de repetir.

- Isso é uma ótima novidade.

- Aí meu Deus - encarei o teto e sorri ainda chorando, sequei minhas lágrimas - é lógico que é - bati minhas mãos na perna - todos vão ficar felizes, o Micael... ele vai ficar - solucei - muito feliz.

- Tem certeza que você está bem mesmo?

- Melhor impossível - respirei fundo - obrigada pelos exames doutor Paul.

- Vou te encaminhar pra minha obstetra, afinal está de três semanas.

- E por quê não me contou antes? Eu bebi, enchi a cara, transei como uma cadela - estava perdendo a noção.

- Fique calma, pode ser? - pausou - eu achei melhor prolongar esse assunto, queria ver a sua reação.

- Aqui está a minha reação - me levantei - tenha um bom dia doutor Paul.

- Pra você também - sorriu - e parabéns.

Eu queria mostrar o dedo do meio quando saísse da sala.

Mas não fiz.

Enquanto dirigia pra casa apertei o volante tão forte que se fosse esmagador já teria ido embora. Chorei o caminho inteiro, aquilo não podia ser real. Iria ter o meu terceiro filho.

Lembrei quando Micael odiou a possibilidade de ter Alice, mas se bem que ele iria gostar, estava mais neutro, mais zen. Por isso decretei a mim mesma:

Não iria contar pra Micael, não iria contar pra ninguém.

Como sou uma aberração da gravidez, ninguém saberia que eu estava grávida. Só se eu abrisse minha boca, caso contrário isso não aconteceria.

- Oi mãe - vi Pedro sem camisa e todo molhado, a mangueira estava em cima do grande pula pula.

- Oi filho - sai do carro - onde está a sua irmã?

- Pulando - busquei Alice com o olhar que dava piruetas certinhas.

- Cuidado pra não escorregarem, esse pula pula é meio falso.

- Aconteceu alguma coisa? Você está estranha.

- Não aconteceu nada - sorri falsa - onde está seu pai?

- Lá em cima fazendo cocô.

Revirei os olhos. Subi até meu quarto e rasguei os exames, não precisava daquilo. Queimei na janela e fui até o banheiro abrindo a porta e dando de cara com Micael no vaso, tinha o IPad nas mãos.

- Oi amor - sorriu - e aí?

- Deram todos certos - sorri falsa mais uma vez - o quê é isso?

- Ah, é só o meu jogo.

- A quanto tempo você está aqui?

- Eu cheguei quase agora.

- A Alice deu a sua primeira cambalhota certinha e você nem estava lá pra ver.

- Mas o Pedro estava.

- O Pedro é irmão dela e você é o pai.

- E você é a mãe e nem por isso estava aqui.

- Eu estava resolvendo problemas.

- E você acha que eu estava fazendo o quê?

- CAGANDO E JOGANDO CANDY CRUSH - gritei.

- Eu não posso ficar um minuto em paz?

- Se escondendo desse jeito? Você não gosta de presenciar os momentos.

- Já presenciei vários.

- Estou vendo - respirei fundo pra não chorar - fica aí com a sua caganeira.

- Obrigado - me fuzilou com o olhar, voltei novamente e peguei o IPad - NÃO APERTA ESSE AÍ, NÃO SEI SE QUERO FAZER ESSA JOGADA - gritou.

Era difícil.

Apenas me Ame - 2ª TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora