Seja bem-vinda a clareira, eu não lembro.

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Um ruído muito alto. Foi isso que me fez acordar. Tentei puxar o ar, mas nada vinha. Levantei e olhei ao meu redor.

Onde eu estava?

Era uma espécie de... caixa metálica? O som era muito alto e ela subia em uma velocidade grande em uma espécie de elevador.

-Me tirem daqui! – eu gritei, mas nada aconteceu. O pânico tomou conta de mim. Não havia mais ninguém ali. Tinha umas caixas e mochilas, achei comida, roupas, água e outras coisas, mas nada que me fizesse sair dali.

Sentei mais uma vez e tentei respirar fundo. Alguns minutos se passaram e aviste uma luz vindo de cima. A caixa iria bater. Me encolhi em um canto, só esperando o impacto e, consequentemente, minha morte. Mas nada aconteceu. A caixa diminuiu a velocidade e parou.

E aí uma luz bem mais forte tomou conta do lugar. A luz do sol. Fechei os olhos por conta da claridade, ainda encolhida em um canto qualquer.

Vários garotos me olhavam. Dezenas deles, de todas as idades e tipos. Eles falavam juntos, então eu não entendia nada. Ainda estava atordoada.

Até que um deles saltou para dentro da caixa. Ele era alto, loiro e magro. Me encolhi mais ao canto, com medo.

-Hey – ele disse – Você não precisa ficar com medo, fedelha.

-Não estou com medo – eu disse com a voz falhando. Eu menti, é claro.

-Então pode soltar essa faca? – ele perguntou olhando para minha mão. Eu não tinha percebido que estava segurando uma faca. Apertei a mesma com mais força entre meus dedos.

-Vai logo Newt! – um dos garotos gritou lá em cima – Não temos muito tempo, queremos vê-la.

-Ela é bonita? – outro gritou.

O loiro, ou melhor, Newt, olhava para mim com um olhar para eu esquecer os outros. Ele se aproximou e pegou a faca da minha mão, com calma.

-Isso – ele disse – Eu sou o Newt, qual o seu nome?

Fui responder, mas nada saiu.

-Eu não lembro – eu disse assustada.

-Que nome estranho – ele disse rindo e eu ri junto – Seja bem-vinda a clareira, eu não lembro.

Newt estendeu a mão e me ajudou a sair da caixa. Outros garotos me puxaram para fora. Olhei ao redor, aquele lugar era gigante e quatro muros se estendiam em volta, nos prendendo ali.

-É uma garota – um garoto disse.

-Ela é gostosa – outro falou – Podemos brincar com ela?

Aí o pânico voltou a tomar conta de mim. Todos aqueles garotos me olhavam como se eu fosse uma comida. Eu não queria que ninguém tocasse em mim e quando um deles tocou em meu cabelo, eu corri. Corri de medo. Não queria que me tocasse. Avistei uma brecha entre todos aqueles muros e corri mais ainda.

Mas antes que eu ultrapassasse a passagem, fui derrubada.

Um garoto asiático estava em cima de mim. Ele segurava meus pulsos com força, impedindo que eu saísse.

-Você está louca, trolha? – ele gritou em cima de mim, ainda me olhando com surpresa.

O mesmo levantou e me puxou com força junto, me arrastando de volta ao bando de meninos. Um deles, alto, moreno e forte apareceu na frente, com um olhar que me dava medo.

-Nunca mais faça isso, ouviu fedelha? – o mesmo disse bravo – Devia ter deixado você ser comida pelos verdugos, para aprender. Nunca saia da clareira.

Os outros se aproximaram e todo aquele pânico voltou.

-Não me machuquem – eu pedi quase chorando – Por favor.

-Não vamos te machucar trolha – o asiático disse ainda me segurando com força pelo braço – Passar por aqueles muros que ia te machucar.

-Somos uma família – o moreno disse.

Eu queria parecer forte, segura e corajosa. Mas não estava dando. O medo só crescia dentro de mim, eu não conseguia acreditar nas palavras deles. Eu não lembrava de nada! Eles podiam muito bem me machucar, abusar de mim ou me matar aqui dentro. O que estava acontecendo?

O moreno se aproximou mais uma vez e eu me encolhi para mais perto do asiático, que também estava me dando medo.

-Newt – o moreno gritou – Vem aqui, acho que ela só confia em você.

O loiro que me buscou na caixa apareceu e se aproximou.

-Apertando ela desse jeito, vocês nunca terão a confiança dela – ele disse apontando para as mãos do asiático, que ainda me apertavam – Estão machucando ela, assustando.

O asiático soltou meu braço com desconfiança. Dei um passo para frente e ele voltou a me segurar, como se eu fosse sair correndo de novo.

-Confie nela – Newt gritou – Ela não vai voltar para lá, não é mesmo trolha?

Concordei com a cabeça.

-Ela precisa ir para o amansador – o moreno disse – Leve ela e quando ela se acalmar, nós conversamos.

Todos os garotos se espalharam, cada um para um canto. Newt veio até mim e me puxou até um canto mais afastado, com toda a delicadeza do mundo.

-Você vai precisar ficar aqui por um tempo – ele disse abrindo a porta de uma pequena sela, como uma prisão.

-Por que? – eu perguntei meio desconfiada.

-Porque você é a primeira garota que aparece aqui.

A garota da clareira (Maze Runner)Onde histórias criam vida. Descubra agora