Vai ficar tudo bem

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 -Eu nunca mais toco em um animal morto – eu disse para mim mesma enquanto tirava aquele avental nojento. Fui andando até a sede, eu precisava de um banho.

Avistei Minho saindo do labirinto e ele se aproximou rindo do meu estado.

-Não quero ouvir uma palavra sobre isso – eu disse antes que ele falasse alguma coisa, o que só fez ele rir ainda mais.

-Acho que você não se deu bem nessa função – ele disse quando parou de rir.

-Você acha? – eu perguntei rindo. – Como eu faço para tomar um banho?

-Bom, a maioria toma banho no riacho, mas acho que você não se sentiria bem lá. Tem um banheiro na sede, se você quiser eu fico na porta esperando.

Concordei e seguimos até lá. Era um banheiro bonitinho até, os construtores eram bons nisso. Minho ficou do lado de fora esperando e jurou que não ia espiar. Tomei um banho rápido e troquei de roupa que tinha na mochila.

-Pronto – eu disse assim que sai me sentido melhor.

-Roupa bonita – ele disse oferecendo o braço – Vamos jantar?

Concordei e segurei em seu braço, um ato bem cavalheiro da parte dele. Fomos até as mesas e comemos um macarrão delicioso que o Caçarola fez. No final, me voluntariei para ajudá-lo a lavar a louça.

-Querem ajuda? – Newt disse aparecendo na cozinha.

-Ajuda sempre é boa – Caçarola disse jogando um pano para Newt, que começou a secar a louça. – Podíamos cantar alguma coisa.

-Você lembra de alguma música? – Newt perguntou e todos começaram a rir. É, ninguém lembrava de nenhuma música para cantar.

Continuamos a lavar a louça até que eu, acidentalmente, espirrei um pouco de água em Newt, o que fez com ele ficasse com a cara toda molhada.

-Desculpa – eu disse rindo, a cara dele estava muito engraçada.

Ele fingiu estar bravo, mas logo começou a rir também e jogou água em mim. Eu, ele e Caçarola começamos então a jogar água uns nos outros. Era uma guerra de água. Eu estava encharcada e estava escorregando no chão de tão molhado que estava, mas as nossas risadas eram tão altas que não conseguíamos parar. Uns minutos depois os três estavam no chão, rindo.

-Minha barriga está doendo de tanto rir – Caçarola disse rindo mais, fazendo todos nós rirmos mais também.

-O que está acontecendo aqui? – Alby disse bravo, aparecendo do nada.

Levantamos com calma, para evitar que caíssemos com a água. Ninguém respondeu nada.

-Aqui não é um playground – ele continuou – Temos que fazer nosso trabalho direito. Fedelha, acho que você nem precisa passar o dia com o Caçarola, você e a cozinha não dão certo. Agora arrumem tudo isso e vão dormir.

Assim que ele foi embora rimos mais uma vez e começamos a arrumar toda a bagunça. Foi chato e demorou bastante, mas logo já estávamos indo dormir.

Fomos até as redes e percebi que a maioria dos clareanos já estava dormindo.

-Boa noite Newt – eu sussurrei e deitei em minha rede que era perto da dele.

-Boa noite – ele sussurrou de volta.


Acordei com alguém me cutucando. Eu estava tão cansada que não tive vontade de abrir os olhos. A mão da pessoa que me cutucava foi até meu rosto. Seria Newt me acordando de novo? Tentei apreciar o toque fingindo que estava dormindo. Mas aí a mão da pessoa começou a descer pelo meu pescoço. Aquela mão não era do Newt. Ele não faria isso. Abri os olhos assustada, mas antes que eu pudesse dizer algo, a pessoa tapou minha boca com a mão. Mais uma vez o pânico me possuiu.

Tentei me levantar da rede, mas a pessoa era forte. Tinha mãos fortes e eu não conseguia enxergar nada, pois devia estar a noite ainda. Com uma mão tampando minha boca e com o tronco me mantendo presa, a pessoa praticamente subiu em cima de mim. Apenas sons saiam na minha boca e eu senti lagrimas rolarem por meu rosto.

Com a outra mão as mãos da pessoa foram direto para meus seios, mas antes de chegarem lá, a pessoa foi jogada no chão. Levantei rapidamente da rede tomando folego. Avisei então duas pessoas rolando pelo chão, brigando.

-Parem! – eu gritei indo até eles, para identificar.

Vi alguns clareanos acordarem com os meus gritos e uma luz foi acesa.

Minho e outro garoto que eu não conheço rolavam pelo chão.

-O que aconteceu? – Newt apareceu do nada enquanto outros clareanos separavam a briga. Eu não consegui responder. Só sentia as lagrimas rolarem. O que tinha acontecido aqui? Minho tinha feito aquilo? Ou o outro menino?

Independente da resposta, eu me sentia suja, imunda. Estava com nojo do que tinha acabado de acontecer. O que poderia ter acontecido se alguém não tivesse chegado?

Logo Alby apareceu, colocando ordem em tudo.

-O que aconteceu aqui? – Alby gritou.

Olhei para Minho. Em seu olhar eu pude ver que ele não tinha feito nada. Ele tinha uma mistura de ódio e dó no olhar. Com o meu olhar implorei para que ele não dissesse nada. Ele pareceu entender. Então ficou calado.

-Todos para a Sede, AGORA – Alby gritou e todos começaram a andar para lá, confusos.

Eu queria ficar ali com Alby, mas Minho fez um sinal para eu ir. Newt olhava tudo aquilo com desconfiança. Comecei a andar, mas minhas pernas estavam bambas e meu coração batia muito rápido.

-Emily – Newt perguntou baixo – O que aconteceu? Parece que você viu um fantasma.

Não consegui responder, mais uma vez. De longe, Alby, Minho e o outro garoto conversavam. Não dava para ouvir. Minho iria contar o que aconteceu?

Quando chegamos a Sede, todos se sentaram. Newt sentou-se ao meu lado e segurou minha mão. Mas eu não estava nem prestando atenção nisso. Só pensava no que iria acontecer em seguida. Uns minutos depois Alby apareceu, realmente bravo.

-Clareanos – ele gritou fazendo todos se calarem – Nós temos regras aqui e elas são bem claras. Qualquer um que desrespeitá-las tem que ser banido. E é o que acontecerá. Mark será banido amanhã.

Todos os clareanos começaram a falar.

-E Minho? Não será banido? – um garoto perguntou – Os dois estavam brigando.

-Tudo já foi esclarecido – Alby disse – E ponto final.

-Mark é nosso amigo – outro disse – Exigimos que a questão seja debatida entre os líderes.

Alby olhou para Newt. Newt era o vice-líder. Os dois foram até um canto. Meu coração voltou a bater rápido. Eu não queria que Newt ouvisse o que aconteceu. Comecei a olhar para os lados, procurando uma saída.

Newt voltou bravo. Seus passos demonstravam ódio. Eu não estava com coragem de olhar em seus olhos. Eu estava com vergonha.

-Mark será banido – Newt disse – Agora.

Suas palavras ecoaram pela Sede com ódio. Mais múrmuros se espalharam pelo local. Eu respirava fundo, tentando buscar o ar que me faltava. Sentia meus olhos se encherem de lagrimas, mas eu lutava para que elas não caírem, não queria que os outros vissem, não queria me entregar.

Aos poucos todos foram saindo da Sede, sobrando apenas eu, Alby, Newt e Minho.

-Ele não pode ser banido – eu disse por fim.

-Regras são regras – Alby disse – Eu vou até lá ver como os outros estão.

Minha cabeça trabalhava a mil. Ele não podia ser banido. Ele iria morrer... por minha causa.

-Ele te machucou – Minho disse.

-Não machucou – eu disse – Ele não chegou a tocar...

Minha voz falhou. Eu não conseguia falar aquilo. Minho se sentou ao meu lado e colocou a mão em meu ombro. Newt olhava tudo aquilo do outro lado da Sede. Eu ainda não conseguia olhar em seus olhos.

-Vai ficar tudo bem... – Minho disse.

A garota da clareira (Maze Runner)Onde histórias criam vida. Descubra agora