Machucados

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 No dia seguinte já comecei meu trabalho como socorrista. Clint me ajudou em várias coisas, desde pequenos machucados, até quedas mais feias. Não era tão ruim assim, mas eu queria mesmo era trabalhar com os corredores.

-Emily – Clint me chamou – Você poderia ir buscar água gelada com o Caçarola, para eu te ensinar sobre febre.

-Tudo bem – eu disse saindo da enfermaria e indo até a Cozinha. Caçarola rapidamente me deu um copo com a água muito gelada. Confesso que tive vontade de beber, mas aguentei e voltei para a enfermaria.

No caminho, como eu sou muito distraída, eu acabei tropeçando em alguma coisa. Era o material dos construtores. O copo de água virou todo em cima de mim. Senti um calafrio por conta do contato da água gelada com o meu corpo.

-Você está bem trolha? – ouvi uma voz atrás de mim. Era Gally. Ele me ajudou a levantar com facilidade.

Passei minha mão pela minha blusa, para tentar tirar a sensação de gelado. Quando olhei para Gally vi que o mesmo observava minha blusa molhada. Que legal.

-Estou ótima – eu disse desgrudando a blusa do meu corpo. Ele parou de olhar.

-Não devia ter deixado as coisas no meio. – Gally disse com calma.

Aquilo estava muito estranho.

-Tudo bem – eu disse – Eu vou buscar outro copo de água.

 Gally ia dizer mais alguma coisa. Até que ambos foram interrompidos por um tumulto do outro lado da clareira. Vinha da enfermaria. Interrompi Gally e sai correndo até lá. Tinha muita gente ali dentro, e eu não conseguia ver o motivo.

Fui empurrando os garotos até que vi Minho deitado na maca.

-O que aconteceu? – eu perguntei me aproximando. Minho gritava de dor. Era algo horrível de se ver.

-Ele caiu no labirinto – Clint me respondeu – Quebrou o braço feio.

Olhei para seu braço, estava vermelho e inchado. Clint foi enfaixando o braço dele enquanto eu observava. De vez em quando eu passava um pano úmido na testa de Minho, já que ele suava muito. Não tínhamos anestesia.

Aos poucos ele foi melhorando. Clint enfaixou o braço dele e deu um remédio para a dor passar. Os clareanos, todos preocupados, foram saindo da enfermaria aos poucos.

-Como está se sentindo? – eu perguntei para Minho.

-Cansado e com dor – ele respondeu e eu sorri.

-Você vai precisar ficar de repouso. Consegue?

O mesmo assentiu e fechou os olhos. Passei minhas mãos por seu cabelo e sai de perto, para deixar o mesmo dormir. Clint iria ficar com ele, caso algo desse errado ou o mesmo desse sinal de infecção.

Sai da enfermaria e vi que já estava anoitecendo. Observei a clareira e vi Newt sentado em um canto. Ainda não tínhamos nos falado muito depois do...ocorrido. Me aproximei e sentei ao seu lado.

-Oi – eu disse olhando para ele.

-Oi – ele respondeu – Como Minho está?

-Vai ficar bem. Como que irão ficar os corredores?

-Vão precisar se virar sem o Minho – Newt disse – A não ser que alguém entre no lugar dele.

Uma esperança surgiu dentro de mim. Seria assim tão impossível eu substituir Minho? Afastei o pensamento da minha cabeça. Mesmo se eu pudesse, os clareanos nunca deixariam eu ser uma corredora. Pelo menos não agora.

-Por que você não faz isso? – eu perguntei.

-Substituir Minho? Eu não posso.

Olhei para ele pedindo para que me falasse a respeito. Ele suspirou e olhou para o labirinto, já fechado, a nossa frente.

-Eu já fui um corredor – ele disse de uma vez e eu o olhei espantada – Foi lá que eu ganhei isso.

Ele apontou para a perna manca dele. Nunca tive coragem de falar ou perguntar sobre aquilo.

-Como aconteceu não importa – ele continuou – Mas aquele lugar é traiçoeiro. Me prometa nunca pensar em entrar lá.

Me senti meio culpada. Eu queria sim entrar no labirinto. Algo dentro de mim me chamava para entrar lá. Mas eu queria saber o que tinha acontecido lá dentro. E, sim, eu fiquei com medo depois que Newt disse isso.

-Prometo – eu disse baixinho e logo me arrependi, como se eu estivesse mentindo.


Uns dias depois, Minho já estava melhor. Ele ainda estava com o braço enfaixado e passava todo dia na enfermaria para observarmos os resultados.

-Quero voltar para o labirinto! – ele disse animado enquanto eu observava o gesso.

-Mesmo se eu tirar isso – eu disse – Você teria que ter uma semana para voltar ao normal, seu braço vai parecer uma gelatina.

Minho tirou o sorriso do rosto. Parecia uma criança.

-Acho que já podemos tirar isso – Clint disse cortando o gesso de Minho. Você vai precisar fazer uns exercícios. Nada de voltar para o labirinto.

-Ok, doutor – Minho respondeu rindo.

Clint saiu da enfermaria assim que acabou de tirar o gesso.

-Parece uma gelatina mesmo – Minho disse tocando em seu braço. Eu ri com aquilo. – Sabe trolha, você tem sido muito legal comigo esses dias.

-É meu trabalho né? – eu disse desconfortável.

-Ser legal?

-Não! Cuidar das pessoas que se machucam – disse rindo.

-Bom – ele disse ficando mais perto – Você é muito boa nisso. Mas ainda aposto em você como corredora.

-Com licença – uma voz surgiu, do nada, de dentro da enfermaria. Era Newt. Eu não tinha visto ele entrar. Me afastei automaticamente de Minho e sorri para Newt. É, não tinha como não sorrir para Newt.

-Oi – eu disse sentindo meu rosto queimar.

-Cadê o Clint? – Newt disse sem tirar os olhos de Minho.

-Ele saiu – eu disse – Quer ajuda com alguma coisa?

-Bom, tem um espinho no meu dedo – ele disse mostrando o dedo. Ele claramente estava com vergonha de admitir isso. Ri com aquilo.

Me aproximei dele e observei o espinho. Com calma fiz ele se sentar na maca e observei. Clint tinha me ensinado sobre aquilo. Peguei uma pinça e me aproximei.

-Não é melhor esperarmos o Clint? – Newt disse com medo estampado em seu rosto.

-Está com medo? – eu disse rindo.

-De você? Sim!

-Ela é demais cara – Minho disse. Tinha até me esquecido que ele estava lá – Cuida de você como se você fosse um bebe, com toda a calma.

Aproveitei a distração de Newt e em um ato um tanto rápido retirei o espinho de seu dedo. Newt nem teve tempo de reagir. Ele apenas ficou com a boca aberta, como se quisesse gritar, mas não conseguisse.

-Bom – Minho disse – Ela me tratou com toda a calma.

Ri com a situação. Coloquei um curativo em seu dedo e me levantei. Já tinha saído da enfermaria, mas consegui ouvir Minho dizer:

-Cara, fica com essa garota logo, se não eu vou!

A garota da clareira (Maze Runner)Onde histórias criam vida. Descubra agora