Nós vamos, eu prometo

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 Sai andando até a fogueira que já estava bem forte. Como sempre, todos bebiam, gritavam que nem uns animais, lutavam e dançavam. Respirei fundo e avistei o garoto novo em um canto. Eu queria conversar com ele, saber se ele sentia a mesma sensação que eu, mas eu não tinha coragem. Vi que Minho já estava dando a bebida de Gally para ele e observei também alguns clareanos apontando e rindo. Eles deviam ter apostado, mas como sempre, o garoto cuspiu tudo.

Vi que Gally chamou ele para lutar. Em um movimento rápido me aproximei, com a sensação de proteção. Ri com aquilo, como eu poderia proteger um garoto que eu mal conheço de Gally?

-É só ficar dentro do circulo – Gally gritou para o menino e logo o atacou.

Em um movimento rápido, o garoto foi atacado e caiu no chão com tudo, batendo a cabeça. Tentei me aproximar para ajudar, mas o mesmo levantou sozinho, meio atordoado. Ele olhou para todos e gritou:

-Eu lembrei meu nome! É Thomas!

Todos gritaram junto e começaram a gritar: Thomas, Thomas, Thomas. Como se ele finalmente fosse um clareano. E era.

No meio de toda a gritaria, senti alguém me observando. Do outro lado do circulo, Newt me encarava bravo. O nome do menino realmente era Thomas e eu sabia antes de todos. Newt não ia deixar barato e eu não saberia como explicar.

Me afastei da roda e sentei em algum canto, de frente para os muros. Alguma coisa me puxava para dentro daquele lugar.

-Você precisa tirar da cabeça a ideia de virar corredora – Ben disse se aproximando e sentando ao meu lado.

-Pensei que se alguém fosse me apoiar, essa pessoa seria você – eu respondi aceitando um gole da bebida de Gally, mesmo sabendo que teria dor de cabeça depois.

-E eu apoio – Ben disse – Você sabe disso, Rainha da beleza. Mas Alby e Newt não vão deixar, você sabe.

-Eu não preciso da permissão deles.

-Precisa sim – Bem disse rindo. – Mas se você quiser ajuda, posso te treinar.

Olhei para ele com dúvida e, ao mesmo tempo, empolgação.

-Se você aprender técnicas e alguns segredos – ele continuou – Seria tão boa que não teriam como te negar.

-Você faria isso?

-Claro! Além disso ficaria mais tempo com você – ele disse rindo. Ben era engraçado.

-Fechado – eu disse – Começamos amanhã.

Ben virou a bebida dele de uma vez, piscou para mim e foi embora. Uns minutos depois Chuck sentou-se ao meu lado. Ele estava animado, falando muito rápido e eu não consegui prestar muita atenção no que ele falava.

-Ai Minho empurrou Gally com tudo em um golpe marcial – ele continuou gritando que nem uma criança. Ele era uma criança.

Ouvimos um som sair de dentro do labirinto. Chuck se encolheu ao meu lado.

-Estamos seguros aqui né? – ele perguntou.

-Sim – eu disse, mas nem eu tinha certeza daquilo.

-Quero sair daqui. – ele estava com medo.

-Nós vamos, eu prometo. – eu disse mexendo nos cachos de seu cabelo.

Ficamos um tempo em silencio, só observando os muros do labirinto fechados na nossa frente e Gally lutando com todos os clareanos.

-Chuck, você poderia me dar um minuto? – Newt disse aparecendo do nada. Chuck levantou meio a contra gosto e se afastou, sem antes encarar Newt com um olhar que deveria dar medo, mas foi até engraçado.

Observei Newt se sentar ao meu lado. Ele não estava mais com cara de bravo. Antes que ele começasse a dizer coisas, eu disse tudo de uma vez.

-Eu apenas tive um sonho em que eu e Thomas corríamos por um local, foi assim que eu descobri seu nome. Não sou espiã nem nada se é isso que você pensa.

-Eu não penso que você é uma espiã! Só queria que você conversasse mais comigo. Sou seu amigo!

Respirei fundo. Minha relação com Newt era estranha. Se ele soubesse que eu queria entrar no labirinto, ele ficaria tão chateado comigo. Mas eu não iria desistir disso e partia meu coração magoa-lo.

-Boa noite Newt – eu disse me levantando, sem antes dar um beijo em sua bochecha.


No dia seguinte acordei junto com os corredores. Ben me lançou um olhar que só eu e ele entenderíamos. Fiquei a manhã inteira arrumando e desarrumando a enfermaria, que estava muito parada. Avistei Newt levar Thomas para os muros da clareira. Provavelmente ele iria escrever seu nome na parede. Os dois pareciam estar se dando muito bem.

Lá para o final da tarde, avistei os corredores chegando e, logo depois, Ben fez um sinal com a cabeça para que eu o seguisse. Fomos andando no meio do bosque até um local onde os clareanos não nos veriam.

-Tudo bem Rainho do Sol – Ben começou – Vou te ajudar a treinar, mas Alby não pode saber disso.

-Nem Newt – eu completei e o olhar de Ben mudou.

-Não vai contar para seu namoradinho?

-Ele não é meu namorado. E eu não vou contar para ninguém.

-Tudo bem então – ele tinha um sorriso sapeca no rosto. – Vou te ensinar técnicas para correr, como manter a respiração e, principalmente, o que fazer caso se perder ou ver um verdugo.

Um calafrio percorreu todo o meu corpo e ele pareceu perceber.

-Quer desistir? – ele perguntou.

-Nunca.


Ficamos quase duas horas treinando. Não podíamos ficar muito porque os clareanos poderiam sentir nossa falta. Confesso que foi bem difícil e que Ben pegava pesado.

-Você está indo bem Emily – Ben disse batendo palmas – Estou surpreso. Se fizermos isso todos os dias, em pouco tempo você estará preparada.

Sorri com aquilo.

-Porem – ele continuou – Você vai precisar de apoio de mais gente para ser aceita. Principalmente de cada Encarregado.

-Isso não será um problema – eu disse – Vou começar a trabalhar nisso.

-Newt é um Encarregado – ele disse – Boa sorte com isso.

Começamos a andar de volta para Sede. Quando já estávamos perto do meu quarto, Ben segurou meu braço.

-Eu confio em você. Trabalhamos bem juntos. – ele disse sorrindo – Se não estivesse tanto apaixonada pelo loiro, faríamos um bom par.

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Ben foi embora, me deixando sozinha.

Aquelas palavras ficaram martelando na minha cabeça durante o resto do dia inteiro. Ben era um menino maravilhoso e merecia muita coisa boa. 

A garota da clareira (Maze Runner)Onde histórias criam vida. Descubra agora