CAPÍTULO 7: AUGUSTUS MEYER

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As coisas na cidade de Le’Roque nunca mais foram as mesmas desde que Celine chegara ali, exceto algumas coisas que nunca mudava. Por exemplo, as velhas fofoqueiras que sempre que tinham a oportunidade metiam a boca a falar de todos que se interessassem, apesar de que agora Celine era sempre a bola da vez.
Celine fez isso. Celine fez aquilo. Celine aqui. Celine lá.
Ah! Já bastava!
Quando muito se cansava daquele lugar, Celine ia até o fundo da floresta com seu cavalo negro e no Lago se banhava.
O tempo era frio como gelo; afinal já estavam no inverno novamente e Celine já tinha seus dezesseis anos de idade.
Havia a neve Branca que dava ao ar algo mais gélido possível. Mas o Lago era quente. Eram águas termais, se aquecia com o vulcão logo ao lado.
Celine de Castro era a única garota da cidade que ia até as águas termais constantemente, o resto era proibido, em termos, alguns meninos até se arriscavam a ir até o Lago quando ainda era dia, mas logo voltavam para a cidade. Celine ficava até escurecer, ela não tinha medo, não havia motivos para temer seja lá o que fosse.
A jovem garota se tornara mais bela ainda com a adolescência, aos olhos dos garotos ela era um mulher espetacular, mas poucos tinham a coragem de chegar até ela e levar um belo “não”, como resposta.
Naquele dia já era quase cinco da tarde e Celine deixou seu cavalo sem cela caminhar livremente, pois ela gostava de andar nele sem nada que o machucasse, apenas com uma corda que serviria para se segurar já que o cavalo parecia saber o que Celine queria.
Ela se despiu completamente e colocou sua roupa sobre uma pedra enquanto que seu cavalo se aproveitava do tempo para entrar na floresta e comer capim.
De onde Celine estava dava para ver perfeitamente a orla do Lago com um tom branco e sombrio, ela se deixava boiar nas águas quentes daquele Lago e ali se perdia em seus próprios pensamentos. Celina amava fazer isso quase que constantemente, era assim que ela se livrava dos pensamentos ruins que tinha quando sabia que todos na cidade gostavam de falar dela.
O sol surgia fraco pelas nuvens brilhando sozinho quase sem força, mais um pouco e ele iria sumir de vista até o anoitecer.
— Que a luz possa em meu corpo tocar — dizia Celine quase sem se importar. E claro como não era de se duvidar as nuvens se afastam e deixam o sol brilhar, apenas ali onde ela boiava a luz cingia em sua pele branquinha.
Ela ria sozinha.
Celine não era bruxa, mas sabia que podia querer, e isso, bastava quando se era aceita pela natureza, e Celine de Castro realmente era aceita pela natureza, os animais pareciam compreender o que ela dizia, as plantas pareciam sorrir sempre que ela se aproximava, as flores se abriam esplendorosamente quando eram tocadas pelas mãos de Celine. E Celine de Castro vivia assim em equilíbrio com a natureza.
Mas apesar de tudo isso ela não era a única pessoa na cidade que gostava de ir se deleitar nas águas quentes, Augustus Meyer o garoto da casa no fim da rua da cidade de Le'Roque também gostava de fazer isso. A casa dos Meyer era uma das mais lindas daquele lugar, era enorme e todos os respeitavam demais.
Ele chegara até o lago e sozinho e observou a tudo a sua volta, ele sempre se sentia observado quando estava ali, porém não tinha tanto medo quanto os outros jovens da cidade, mas hoje ele estava sozinho, seu amigo Juan havia ido para uma cidade vizinha para visitar os avós já que estavam de férias.
Augustus Meyer pensando realmente estar sozinho se despiu completamente e se pôs nu nas águas. Celine apenas observou rindo, pois ele achava mesmo que estava sozinho.
Ela contemplou o peito nu do garoto depois que ele mergulhou e emergiu das aguas com parte do corpo coberto de vapor. Augustus brincou algum tempo de jogar água com as mãos para frente como se estivesse lutando e a tudo isso Celine observava.
Augustus era um bom menino, nunca havia arrumado encrenca, estava sempre acompanhado de amigos, tanto meninos quanto meninas, inclusive a nobre e irritante Mary Newman. Celine sentiu uma pontada de despeito, pois eles tinham amigos e ela sempre estivera sozinha, mas logo passou, Celine era mesmo muito diferente daquele povo todo para ter amigos como eles.
Alguns jovens da escola até conversavam com Celine, como Marina Alencar, mas nunca foram melhores amigas.
Celine parou de devanear e voltou novamente sua atenção ao garoto que ria sozinho, Augustus era bonito, loiro de olhos azuis, corpo atlético, pois jogava futebol no time da escola.
O garoto nadou mais um pouco e parou numa pedra sem ainda se dar conta de que Celine estava por perto. Apenas sua cabeça estava para fora da água, seus cabelos loiros pingando e esfumaçando como uma panela de pressão. E ali ele fechou os olhos e permaneceu quieto e em silencio.
Ficou tanto tempo assim que Celine pensou que ele estivesse dormindo e ele nem notara que o dia já ia indo embora.
Celine silenciosamente saiu da água quente para o frio cortante e vestiu-se lentamente, depois pegou a roupa do menino e o observou da margem do lago.
Augustus tinha a mesma idade de Celine dezesseis anos e era tão bonito quanto ela, mas nunca havia dito uma única palavra a moça que via todos os dias na escola e na vizinhança.
— Mas quem eu vejo aqui — disse Celine assustando o garoto que estava com as bochechas vermelhas e os olhos arregalados.
— Celine? — A voz dele era rouca. — Que faz aqui? — Ele estava envergonhado, suas mãos mesmo debaixo da água tentava se esconder.
Celine riu de sobrancelhas arqueadas.
— Eu que lhe pergunto — tornava ela. — Não tem medo do mistério que se esconde nesse Vale?
O garoto engolia em seco.
— Não há o que temer se o sol brilhar — diz Augustus.
Celine olha o céu que logo esconde o sol com nuvens pesadas.
— Bem acho que agora terá problemas, não? — E Celine riu debochada.
Ela não ligava se pensavam bem ou mal dela, só queria respeito e mais nada.
— Que bruxaria é essa? Devolva a luz do sol.
— E por que eu faria isso? Aliás, como espera que eu faça isso? — Ela o atormentava de todas as maneiras.
Com as roupas em mãos Celine olhava o garoto.
— Essas são minhas roupas? — Dizia ele. — Devolva-as agora.
Celine delicada com uma flor apenas respondia.
— Não. Se tivesse pedido com educação eu até pensaria em devolver, mas… — ela parou a frase deixando no vácuo o que ia dizer para que o próprio Augustus a interpretasse.
E mais uma vez ela se fazia bem vista.
— Olha… não sei o que quer de mim, mas poderia, por favor, devolver minhas roupas?
— Hummm… acho que não… — disse ela zombeteira.
Ele olhou ao seu redor como se buscasse um jeito de conseguir suas roupas de volta.
— Eu nunca te fiz nada, por que está agindo assim? — Perguntava ele buscando respostas para a atitude dela.
— Eu não sei… talvez um jeito apenas de mostrar que eu não sou normal.
— Ora e o que eu tenho a ver com isso?
— Boa resposta. Noite venha — chamou ela e os olhos de Augustus se arregalaram, ele mesmo tinha visto Celine mudar o tempo do nada então poderia fazer a noite cair também.
— O que é isso pelo amor de Deus como chegarei em casa se a noite chegar agora? Ainda falta algum tempo até o sol se pôr.
— Do que está falando? — Interpelou Celine de cenho franzido, logo seu cavalo apareceu negro como a noite. — Se a noite não chegasse como eu voltaria para casa? — Continuou ela.
— Essa é a noite que você chamou?
— Sim… meu cavalo, quer dizer ela é fêmea.
— Ufa! Pensei que estava fazendo o dia virar noite — revelou Augustus.
— Bom… logo a noite vai cair — alertou a menina com um sorrisinho diabólico na face. — Melhor correr Augustus Meyer. Ou a lenda vai te pegar.
E Celine montou seu cavalo vendo de mais alto Augustus que a olhava assustado.
— Não faça isso.
— Até mais Augustus — riu Celine e saiu a toda com seu cavalo deixando o menino aos gritos dentro da água.

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