CAPÍTULO 15: PROTEGIDOS

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E a cidade de Le’Roque começava a ver quem realmente eram as pessoas boas e más daquele lugar e claro que o senhor prefeito não parecia ser uma boa pessoa, mesmo ele não tendo matado aquelas duas supostas vitimas, ele ainda tinha alguns crimes em suas mãos como o fato de tentar matar Celine de Castro a todo o custo.
No dia que sucedeu a morte do senhor prefeito, mais algumas pessoas foram mortas de modos inexplicáveis o que provou que o senhor Newman não era realmente o culpado pela morte daquelas pessoas, mas infelizmente agora era tarde demais e ele já estava morto.
Pela primeira vez em quase dezessete anos Celine fitava seu teto desenhado de estrelas num céu negro azulado, mas ela sentia algo em seu ser que era completamente diferente de tudo que já havia sentido antes. Então ela se levantou e parou na janela de seu quarto onde observou o tempo lá  fora. A neve cobria tudo com uma camada fina e alvíssima, a cidade que ela via estava sob um inverno profundo a mais de meses, o que não devia estar acontecendo, mas talvez fosse necessário de alguma forma.
Ela suspirou sentindo algo bom e soprou no vidro seu hálito quente e lá fora a neve começou a derreter. Finalmente os dias frios de inverno estavam chegando ao fim.
Celine de Castro apenas observou o tempo mudar e assim o dia frio de inverno ganhou pela primeira vez em meses a luz forte e brilhante do sol de um lindo dia de Primavera.
As árvores começaram a ganhar um tom verde e colorido e as plantas baixas que enfeitavam todo o Jardim agora pareciam ganhar vida novamente, exceto o hibisco que agora murchava e suas flores que mesmo em dias de inverno forte estavam cheios de vida agora caiam no solo.
O dia foi comemorado por muitos. A felicidade por um dia lindo como esse estar aparecendo depois de tanto branco e frio era recebido com risos e brincadeiras. Na praça da cidade as velhas senhoras já colocavam suas fofocas em dia. Logo Celine percebeu que não importava o castigo deles, eles nunca mudariam, sempre continuariam a serem exatamente assim como eles são.
Mas a tarde foi chegando, e os habitantes iam se despedindo do dia, alguns assim como Celine de Castro observavam o sol se despedindo por detrás das montanhas e pinheiros num horizonte iluminado. A noite estava quase chegando com uma lua imensa brilhando no céu ao entardecer. De um lado o sol se pondo e do outro a lua nascendo, uma imagem memorável.
Celine sorriu percebendo que seu papel em termos havia sido cumprido, sua missão chegara ao fim, mesmo que ela tenha falhado miseravelmente. Ela desceu as escadas e viu seus pais na sala sentados a sua espera.
Eles a olharam com semblantes tristes, ambos sentiam o que viria a seguir.
— É chegada a hora — anunciou Celine.
Seus pais não conseguiram seguraram as lágrimas que teimavam em descer de seus olhos. Eles a abraçaram firme e se despediram da menina.
— Eu te amo muito… mãe — disse ela com um meio sorriso na face triste.
— Eu também te amo muito, minha menina.
João de Castro segurou a face de Celine de ambos os lados e chorando disse:
— Eu também te amo muito, minha filha. Nunca vamos te esquecer.
— Eu também jamais me esquecerei de vocês, sempre os carregarei dentro do meu coração — Celine sussurrou com olhos minúsculos cheios de lágrimas.
Então se abraçaram mais uma vez em grupo e em silêncio permaneceram por um tempo.
Quando finalmente se soltaram, Celine olhou nos olhos dos dois.
— Em breve terão boas noticias. Adeus.
Celine de Castro saiu da casa de seus pais sozinha e caminhou pela rua da cidade em direção à floresta que tanto assustava aquele povo.
Quando Celine passou em frente à casa da senhora Mendonça a velha a fuzilou com os olhos, parecia desejar que a menina queimasse no fogo do inferno.
Celine continuou caminhando em direção à floresta, mas alguém a chamou.
— Celine? Espera — era Augustus Meyer.
Ela parou.
— Augustus?
— Celine… eu… só queria te dar isso — Augustus tirou do bolso uma pedra brilhante que tinha uma cor rosada.
— É linda, mas Augustus, onde…
— Não pergunte, por favor, apenas aceite como um presente meu.
— Obrigada.
— Acabou?
Ela o olhou com tristeza nos olhos e assentiu fracamente.
— Sim…
Os olhos de Augustus então se encheram de água.
— Eu sinto muito — ele murmurou.
— Eu disse que minha hora estava chegando rápido demais.
— Não achei que fosse ser assim tão rápido, não sem antes eu conseguir…
Ela meneou a cabeça.
— Desculpe, mas não…
— Então adeus Celine, a pessoa mais incrível que já conheci em minha vida.
Isso encheu o coração de Celine de amor.
— Adeus Augustus, o menino sonhador.
Ele sorriu e Celine se virou de costas e seguiu seu caminho.
O menino apenas sorriu com a dor em seu peito e chorou como nunca havia chorado antes e cedeu ao chão em lágrimas profusas. Mas ele pensou “Valeu mais um dia com ela que uma eternidade sem ela”.
Quando Celine atravessou o limite da cidade e da floresta um som de murmúrio agoniado foi ouvido por todos os lados alguém parecia sofrer profundamente.
Parecia que alguém sofria tanto que nada nesse mundo poderia ser capaz de superar essa dor.
A noite finalmente chegou clara com a lua que brilhava no céu e banhava a tudo com sua luz prateada. Celine já estava no meio da floresta e caminhava em frente em direção ao lago.
Celine não tinha medo. Era diferente de todos daquele povoado, porém sabia que era tão normal quanto eles, podia amar e odiar como qualquer um, mas amava de uma forma que ninguém ali nunca saberia amar.
Parada em frente à gruta Celine esperou no silencio da noite.
Um momento, um instante, um olhar, nada mais importava, essa era hora certa.
De dentro da gruta um ser com chifres se apresentou surgindo das sombras. Seus olhos brilhavam sob o luar num tom azulado e brilhante.
— A filha pródiga retorna ao seu lar — disse a voz do ser num tom grosso gutural.
— Eu disse que viria — respondeu Celine tranquila.
O ser riu assim como Celine fazia com tanta frequência.
— Claro… Mas me fez esperar mais tempo que o necessário.
E Celine riu sapeca como sempre ela sempre ria de tudo, até mesmo de fazer as coisas erradas.
— Só um pouco. Eu queria mais um tempo com meus pais.
O Ser cornudo semicerrou os olhos. E Celine reformulou.
— Com eles…
— Você trouxe um par? — Tornou o ser.
— Não… ele não servia a nossos propósitos.
— Claro que não. Senão ele estaria aqui.
Celine sorriu, havia coisas que ela poderia esconder do ser se quisesse e foi exatamente o que ela fez.
— Promete? — Pediu Celine.
— O que quiser — permitiu o Ser dando um passo a frente.
— Que eles estarão protegidos? — Ela pediu.
— Sempre — a voz do ser foi firme e forte.
E Celine abriu seu sorriso maroto de sempre.
— Vai doer?
O ser então tocou na face de Celine.
— Seu corpo precisa morrer. Sem isso você não poderá voltar.
— E os outros? — Questionou Celine.
O ser suspirou um hálito quente com cheiro de flores.
— Não estão prontos. Ainda terão que aprender muito antes de voltarem. Mas não se preocupe. Em breve você voltará. Em outro corpo. Outra vida. Outro lugar.
Agora Celine chorou silenciosamente.
— Que seja então… meu pai.
E o ser a atacou com uma garra afiada que atingiu o seu coração e Celine gritou um som alto e assustador antes de sua vida ser completamente retirada daquele corpo.
Os habitantes do povoado de Le’Roque ouviram o som agoniante daquele grito. Naquela noite o silêncio foi absoluto. E nos dias que se sucederam tudo foi calmo e tranquilo.
Celine de Castro que veio apenas para ensinar o esse povoado voltou pra casa com apenas uma lição. A família é um bem precioso independentemente de como ela se solidifica. Pois o senhor e a senhora Castro mesmo não estando completamente preparados para a nova vida, fizeram de Celine uma pessoa feliz.
E Augustus Meyer o menino que Celine amou imensamente também a fez feliz e por isso ela preferiu não levá-lo com ela, pois para seguir em frente juntos ele precisaria morrer como ela, mas ela nunca permitiria que ele fosse morto para isso.
Celine levou seu amor junto dela para o além e com ela a pedra dada por Augustus Meyer o menino sonhador.

FIM…

Um mergulho em outro mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora