CAPÍTULO 14: AQUI SE FAZ AQUI SE PAGA

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A pequena cidade de Le’Roque devia ter uma população de aproximadamente 20 mil habitantes, todos eram de linhagem bem antiga, alguns até tinham a linhagem do que chamavam de bruxas, mas poucos sabiam disso, pois muitos dos habitantes da cidadezinha não toleravam que esses seres — segundo eles — repugnáveis, fossem reconhecidos como alguém que merecesse estar no meio daquela sociedade.
Até mesmo os que eram descendentes das bruxas gostavam de se lembrar de seus antepassados apenas a partir do momento em que sua linhagem foi misturada a de alguém comum.
João de Castro e Madeleine de Castro não eram de linhagem das bruxas, eles eram apenas de linhagem normal, mas por algum motivo o destino os escolheu para trazer a esse mundo alguém como Celine de Castro que era mesmo um ser de luz. Havia motivos de sobra para que os habitantes de Le’Roque a acusassem de filha do Diabo, bruxa e muitos outros apelidos que não chegavam nem de perto educados para se falar para uma menina de apenas dezesseis anos de idade.
Celine era especial sem sombras de dúvidas, mas aquele povoado com a mente estreita para tudo que fosse diferente não conseguiam ver o ser especial que ela era.
Tentaram matar um ser como Celine e por isso a cidade caiu numa terrível escuridão, não no sentido de escuro, breu, mas sim no sentido de toda a cidade estar pagando por um ato contra o qual uma força muito maior e mais poderosa estava protegendo. Celine não era nem de longe o pior ser que residia em Le’Roque, os piores estavam lá bem antes de ela chegar, os próprios habitantes que não conseguiam abrir mão de uma sociedade extremista em muitos sentidos, mas o principal era o religioso. Tanto que condenaram a jovem Celine a morte na fogueira, mas como não surtiu efeito eles foram partindo para outras tentativas que também não deram em nada.
Mas o fim… Ah o fim! Esse estava próximo, sim muito próximo.
Durante três dias a cidade permaneceu sob o domínio do mistério que vasculhava cada centímetro em busca de pessoas que mereciam punição, mas o mistério não podia permanecer muito tempo sobre aquele lugar, então ele se foi rastejando como cobra de volta para a floresta onde permaneceria pelo tempo que fosse preciso para poder retornar a cidade se caso fosse necessário.
Então novamente o dia amanheceu no inverno quase permanente da pequena cidade, no povoado de Le'Roque. Estava tão frio naquela manhã que os habitantes que tinham que acordar cedo para trabalhar estavam quase congelando ao andarem pelas ruas cobertas de neve e gelo.
— Santo Deus não estava tão frio assim. Sem contar que o inverno está chegando ao fim. Devia estar mais quente — disse o senhor Newman com o senhor Mendes.
— Tens razão senhor prefeito. Mas vamos concordar que ficou assim depois do acontecido com os Castros.
— Ah, os Castros… malditos sejam, a cidade inteira está numa pior desde que aquela filha do diabo não foi destruída.
— Sim, maldita seja…
E ao dizer isso um enorme bloco de gelo caiu na cabeça de Jason Mendes e o mesmo caiu morto no chão.
O senhor Newman apenas contemplou apavorado o corpo manchando de sangue na neve alvíssima.
Logo mais pessoas se aproximaram e viram o senhor prefeito se afastar do corpo de modo suspeito, como se ele mesmo tivesse tratado de acabar com o senhor Mendes.
Na mesma esquina em que o senhor Newman virava para fugir de volta para sua casa outra mulher estava morta no chão, quando o senhor Newman se aproximou do corpo para tentar entender o que havia acontecido os olhos dela começaram a inchar e explodiram lançando sangue na roupa do senhor Newman.
— Ah, que nojo! — Ele falou sentindo o forte odor de carne podre.
Rapidamente ele tirou o casaco se lamentando pelo ocorrido e o jogou numa lixeira.
O prefeito teve de voltar para a sua casa e o fez o mais rápido que pode. Ao chegar a sua casa ele encontra a esposa na sala, ela o olha confusa, não era a hora de ele voltar ainda.
— O que houve? — Pergunta Margareth Newman, mas percebi algo errado. — Cadê seu casaco?
Albert Newman o grande prefeito da cidade agora estava diante de um impasse, mas ele era inteligente e conseguiria como sempre se safar.
— Rasgou-se em um prego — mentiu. — Joguei fora — ele dava de ombros.
— Não pode mentir para mim — Margareth falou.
O senhor Newman coçou a cabeça.
— Tudo bem, tenho que te contar uma coisa.
Ele contou tudo a sua esposa que ouviu a tudo com uma expressão perplexa.
— Meu Deus o que será que está acontecendo aqui? Estou me sentindo num filme de terror.
— Não se preocupa meu bem, vai dar tudo certo…
Mas pelo visto não era bem verdade isso, pouco tempo ali e ouviram gritos do lado de fora da casa do senhor Newman.
— Assassino! — Gritavam. — Prendam esse assassino.
Margareth olhou através da cortina amarela rendada e viu o povo na rua gritando diante da sua casa.
— Pra quem eles estão gritando? — Perguntou Albert Newman.
Ela olhou para ele.
— Acho que é com a gente…
— O que? — Ele foi até a janela.
Havia muita gente gritando e alguns guardas estavam lá também.
O senhor Newman saiu novamente e foi até o portão ver que alvoroço era aquele.
— Senhor Newman, o senhor estava sendo detido pela morte de Jason Mendes e Alma Rey. 
Sem escolhas levaram o senhor prefeito até a delegacia. Após seu relato ao senhor delegado que não acreditou no mesmo. Foi preso o senhor prefeito e condenado a morte por assassinato de duas pessoas.
No dia da sentença de morte por enforcamento toda a cidade estava na praça principal da cidade esperando para ver o que seria a morte de uma pessoa tão estimada por todos, mas que fora capaz de crimes tão bárbaros. Claro que o senhor prefeito não tinha culpa do aconteceu aos dois habitantes da cidade, mas ele era o único por perto quando os dois estavam mortos. Assim como aconteceu com Celine de ser incriminada por uma coisa que ela não fez, o senhor Newman também estava sendo incriminado.
— Quem poderia imaginar — falava a senhora Mendonça com sua mais nova amiga a velha senhora Cardoso.
— Pobre homem, caiu em desgraça — falava um homem baixo e atarracado com um colega de trabalho.
— Nunca duvidei dele e veja o que aconteceu.
— Pelo amor de Deus eu sou inocente — chorava o prefeito já com a corda no pescoço.
Não havia mais o que ser feito ele foi morto enforcado e seu corpo jazia inerte pendurado. E enterrado no mesmo dia sem muita cerimônia.
Na casa de Celine de Castro os pais olhavam a filha.
— Não fui eu — defendia-se ela.

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