Havia desde sempre um belo ditado que todos deveriam escutar, “aqui se faz, aqui se paga”. Para alguns esses ditados populares não passavam disso, apenas ditados, mas para outros era um modo de frear algumas pessoas, afinal se fizer o bem aqui nessa terra se receberá o bem, mas se fizeres o mal… Bom aí é bem certo que uns chamem de providência divina e outros de artimanhas do diabo, porém um dos dois receberá a culpa caso algo ruim aconteça com alguém que mereceu o que fez aqui em terra.
Na casa dos Newman as coisas pareciam muito bem, obrigado. O senhor e a senhora Newman haviam acordado cedo e juntos na cozinha Margareth Newman preparava um delicioso café da manhã.
— Hoje tenho o dia todo para estar com vocês — dizia o senhor Newman a sua esposa que lhe sorria contente por finalmente o marido ter tirado uma folga para ficar com sua família.
— Sabe que hoje podíamos aproveitar para sairmos juntos… o que acha? — Falou Margareth ao abrir seu forno e retirar de lá uma torta quentinha de maçã.
— Claro que sim, querida, assim que Mary acordar e tomarmos nosso café.
Depois de servir a mesa a seu marido, a senhora Newman saiu da cozinha disposta a ir para o quarto, enquanto isso Albert Newman bebia um gole de café antes de se levantar e seguir em direção à porta da frente, saindo para seu quintal branco de neve com as árvores cheias de galhos pesados e envergados pela grossa camada de gelo que acabara parando por ali.
A rua estava tranquila, algumas pessoas passavam pra lá e pra cá, alguns poucos carros seguiam seu caminho até sumirem de vista e algumas pessoas faziam questão de dar o bom dia ao ser Newman, o prefeito.
Albert Newman sorria e acenava a todos que o cumprimentavam. Ele olhou para o céu, para o fraco sol que lutava para aquecer o máximo que podia. Logo ele enfiou a mão no bolso do casaco e pegou um maço de cigarros onde retirou um e tornou a colocar seu maço no bolso. Sua outra mão já batia os bolsos das calças e do casaco a procura de um isqueiro, mas não o encontrou…
Um grito forte e assustador acordou a casa toda dos Newman, os empregados que estavam pra lá e pra cá pararam e o senhor Newman parecia congelado tamanho era o susto que levou, ele pareceu ter que lembrar-se de como suas pernas funcionavam antes de agir.
A mãe chorava horrores, uma dor imensa que não parecia ter fim e o senhor Newman correu para dentro da casa assim que se lembrou de como fazia para que seus membros inferiores voltassem a se mover. Ele sempre acordava cedo e hoje não ia cumprir seus deveres com a cidade, estava certo de que seu dia seria formidável.
Porém. Neste dia o senhor Newman só acordou cedo para aproveitar o pouquíssimo raio solar que amanhecia sempre brilhante, mas que não durava muito tempo. Era preciso aproveitar isso nesses dias frios de inverno.
Ao entrar de volta na casa e correndo subir as escadas o senhor Newman viu sua esposa encostada à parede em prantos. Ela chorava e gritava.
— NÃO! NÃO!
Ele não sabia bem o que fazer.
— O que é isso? — O senhor Newman se abaixou o mais rápido que pode e que a idade permitiu, amparando sua esposa no chão.
Essa não parava de chorar como se estivesse louca de tanta dor.
— Não pode ser! — Ela resmungava. — Por quê? Por quê?
A mulher estava atônita e não dizia coisa com coisa.
— Meu Deus Margareth diga o que houve? Tentou Albert procurando resposta para tanto desespero.
Mas a senhora Newman apenas se questionava de o porquê aquilo estava acontecendo com ela.
Então os olhos do senhor Newman correram para dentro do quarto da filha onde sobre a cama, Mary Newman de linda com cabelos lisos e olhos azuis estava roxa com cabelos totalmente bagunçados e sem vida, os olhos ganhando um tom arroxeado com a mistura do sangue vermelho com o azul da íris.
Sua língua estava para fora da boca torcida como se uma chave de torque a tivesse rosqueado, e seu corpo estava igualmente torcido como uma roupa que fora secada a mão. Claro sem que a tivessem sacudido. Apenas torcida e jogada sobre a cama.
Albert Newman parecia não saber realmente o que fazer, como agir, apenas olhava para sua filha morta como um trapo qualquer sobre a cama.
— Santo Deus! — Exclamou uma de suas empregadas negra ao parar na porta e com a mão na boca observar a menina morta.
Dois outros empregados entraram correndo e pararam também à porta ao verem a cena de filme de terror, a tragédia que se abrangera sobre família Newman.
— Tirem Margareth daqui — pediu o senhor Newman.
Margareth Newman estava tão atordoada com o acontecido que não resistiu a ser levada por Judith para a sala.
Albert se levantou tenso chorando feito uma criança e entrou no quarto para chegar mais perto de Mary sua linda filha.
— Quem fez isso a você…? — Perguntava ele claramente sem respostas e chorava ao abraçar a filha por onde conseguia.
Os dois homens morenos estavam à porta esperando por alguma coisa que lhes fosse ordenado.
— Isso é coisa de magia — sussurrou um deles para o outro.
— Sim… com certeza — concordou o outro mais baixo ainda.
O senhor Newman apenas chorava sobre o corpo da filha e os homens não sabiam o que fazer.
— É… senhor? — Chamou um deles, mas o senhor Newman não respondeu de imediato.
— Talvez… talvez seja melhor chamar a policia ou… — ia dizendo o outro, mas parou ao ver refletido através do vidro da janela uma silhueta estranha com pernas tortas e chifres.
— Meu Deus!
— Que foi?
— Ali sobre a cabeceira, veja… — ele apontou a imagem que sumia aos poucos.
— Eu disse, é coisa do Diabo.
— Não… — falou o senhor Newman. — Isso é coisa de Celine de Castro.
Os homens se olharam e assentiram ao que disse Albert.
— Ela deve pagar por isso senhor.
— Sim… e vai pagar — agora a voz de Albert Newman estava dura e cheia de ódio.
Na casa de Celine sua mãe tinha uma discussão com a menina pela primeira vez em anos de convivência.
— Mas eu não fiz nada — dizia Celine.
— Eu sei que você não faria nada, mas isso já foi longe demais, como pode?
— Mãe eu já disse, isso não foi eu, e também não sei o que foi ou quem foi…
— Mas devia saber, não devia?
Os ombros de Celine cederam.
— É eu devia sim, a bruxa da cidade agora está sendo caçada por algo que não fez.
— Eu não disse isso meu anjo.
— Eu sei mãe. Você só se preocupa comigo, isso é normal, mas você já sabe onde isso vai parar, um dia aconteceria, mais cedo ou mais tarde.
Os olhos de Madeleine de Castro encheram-se de agua e ela abraçou sua filha o mais forte que pode.
— Mãe vai ficar tudo bem… eu prometo. Eu sempre vou estar com vocês.
A porta se abriu e João de Castro entrou e correu para abraçar a filha que tanto amou.
— Está na hora?
— Ainda não, não será agora, mas o martírio sim. Eu esperava que eles aprendessem algum dia, mas infelizmente isso não vai acontecer.
— Eu te amo tanto minha filha.
— Eu também te amo papai.
— O que houve? — Perguntou João de Castro a Celine. — Quando senti seu chamado eu vim o mais rápido que consegui.
— É que a filha dos Newman teve um pequeno problema por ter a língua muito grande.
Os olhos de João de Castro correram para a esposa chorosa e ele a abraçou pelos ombros.
— Vai ficar tudo bem… — falava ele acalmando Madeleine. E voltou a olhar para Celine que parecia observar algo além de seus olhos. — E então?
— Bem ela teve que pagar pelo que disse.
— Você não…?
— Não papai, eu não fiz nada, eu juro?
— Mas então?
— Também não sei — Celine parecia pensativa antes de olhar para a porta três segundos antes de alguém bater três vezes seguidas com as dobras dos dedos fazendo um som agressivo.
João de Castro abriu a porta, era Adolfo um de seus funcionários apenas avisando que a garota Mary Newman estava sendo levada ao cemitério da cidade para o enterro.
— Obrigado pela informação, iremos em seguida — disse João apenas e fechou a porta quando seu amigo já seguia seu caminho.
— Vamos? — Perguntou ele a sua esposa e a sua filha; ambas assentiram e seguiram para a porta.
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Um mergulho em outro mundo
Mystery / ThrillerCeline de Castro não é uma garota normal, óbvio. Mas ela tem que ser tão diferente assim? Precisa mesmo que todo mundo a aponte como a filha do Diabo? Talvez, mas a bem da verdade ela não liga pra isso. Celine de Castro vive... e apenas vive como b...