EPÍLOGO

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MAS ESSE DEVERIA SER O FIM?

Então Celine de Castro deveria ter vindo para ensinar esse povo a amar, mas como eles nunca conseguiram aceitar Celine como ela realmente é então ela simplesmente morre e tudo se acaba? Augustus sofre e pronto?
E as pessoas que desejavam o mal a Celine de Castro devem permanecer vivos? Por que isso seria justo?
A senhora Mendonça ao ver Celine de Castro passar diante de seus olhos naquele fim de tarde, simplesmente pareceu desejar que a mesma fosse queimada diretamente no fogo do inferno.
Ao ouvir o som do grito de Celine de Castro e tudo ficar silencioso, a senhora Mendonça não conseguiu esconder o sorriso que apareceu no canto de sua boca e se levantou de sua cadeira sentindo-se satisfeita de que finalmente Celine tinha se calado para sempre.
Seguindo então para a porta de sua casa para encontrar sua família, a doce senhora Mendonça ao girar a maçaneta e abrir a porta deu de cara com labaredas vermelhas do lado de dentro da casa. Seu coração congelou de medo com o susto que tomou.
— Santo Deus pai eterno e glorioso, livrai-me das chamas infernais — começou a orar a velha senhora Mendonça segurando um terço nas mãos.
As chamas se intensificaram mais ainda e um Ser estranho com chifres começou a se formar do fogo se precipitando para frente em direção a senhora Mendonça.
— O senhor é meu pastor e nada me faltara, mesmo que eu caminho no vale da sombra da morte nenhum mal temerei...
— Rá, rá, rá... — riu fortemente uma voz grossa.
— Em ti confio meu pai, pois creio no teu poder... — murmurava Melinda.
A mão do Ser saiu das chamas e se aproximou da face da velha que tentava se concentrar em suas preces.
— Por que você acha que Deus estaria olhando por você? — Perguntou a voz do Ser nas chamas com a mão chegando cada vez mais perto de Melinda.
— O Senhor estará presente em todos aqueles que possuem um coração puro.
E a mão do Ser em chamas chegou até a face de Melinda Mendonça onde queimou para o espanto da senhora deixando uma marca de mão com garras.
— Deus é bom Melinda Mendonça, mas ele não aceita que pessoas como você possa usar seu nome em vão... Você não é uma pessoa boa e não merece sequer poder falar o nome de Deus e nem muito menos invocar a tua misericórdia...
— Afaste-se de mim demônio infernal — ela levantou seu terço com um cruz.
Novamente o Ser infernal riu alto e forte e tocou com apenas um dedo a cruz que derreteu nas mãos de Melinda Mendonça.
Então ela se jogou de joelhos no chão, apesar da idade avançada a senhora que agora implorava pela providencia divina parecia ter encontrado força para agir rápido num momento como esse.
O Ser saiu com suas patas de dentro do fogo, ele tinha uma aparecia de bode apesar de estar sobre as duas pernas, lembrava muito um fauno, mas todo seu corpo era formado por chamas ardentes e vermelhas.
— Você não devia ter feito as coisas que fez... — falava o Ser.
— Pai me protege pelo amor que tens por seus filhos — gritava a senhora Mendonça voltando seus olhos para o alto.
— Ele já te ouviu demais senhora Mendonça e eu também... eu vejo seu coração e vejo suas maldades... devia tomar mais cuidado quando invocar o nome de Deus... mas Ele não virá... — e o Ser aproximou seus olhos em chamas até a face de Melinda para lhe falar cara a cara — você vai comigo — e pegou nos braços dela onde a pele começou a queimar e arder.
— Não! — Gritava ela tentando se afastar, mas era tarde demais, o Ser arrastou a senhora Mendonça para dentro das chamas e a porta se fechou num estrondo.
Celso Mendonça o filho de Melinda abriu a porta pouco tempo depois porque ouviu o som da batida forte, mas a única coisa que encontrou foi o terço de Melinda Mendonça caído no chão com a cruz derretida.
Ele olhou por todos os lados.
— Mamãe? — Chamou ele a meia voz, mas não obteve respostas, então virou as costas quando sua esposa o chamou.
— Algum problema, meu amor? — Diná perguntou de dentro da casa, vestida numa hobby azul escuro.
Celso pensou por algum tempo, mas com um sorriso de canto balançou a cabeça com o terço nas mãos.
— Não... Agora está tudo bem — ele falou e entrou fechando a porta sem nem se dar ao trabalho de olhar mais uma última vez para certificar de que a senhora Melinda Mendonça havia realmente sumido pra sempre.
Algumas casas mais distante dali se encontrava a casa de Suzy acabara de tomar um belo banho quente e secava o resto de agua que tinha nos cabelos.
Suzy vestiu uma roupa leve para se deitar, mas não sem antes olhar uma ultima vez no espelho onde viu algo que a assustou.
No reflexo do espelho Suzy viu seu lindo rosto começar a descamar como se a pele derretesse até se transformar numa caveira sangrenta.
— AAAAAAAAHHHHH!!!!!!! — Ela gritou ao sair correndo do seu quarto e tropeçar no tapete do alto da escada e cair rolando escada abaixo onde por fim seu pescoço quebrou deixando sua cabeça estranhamente torta.
A senhora Cardoso que morava sozinha com os gatos também não tinha um bom coração e por isso merecia seu castigo.
Quando terminava de arrumar seu jantar a senhora Cardoso foi tratar de seus gatos que eram pelo menos uns dez.
— Como estão os bebês da mamãe? — Ela chamava e eles vinham com rabos em pé miando feito uns loucos.
Ao dar comida aos bichanos que miavam muito, a senhora Cardoso foi mordida por um deles e logo o resto dos gatos tratou de fazer o mesmo. E naquela noite a própria senhora Cardoso acabou por se tornar apetitosa aos olhos dos felinos e foi comida pelos mesmos de pedacinho em pedacinho até desfalecer de hemorragia.
Todos que tinham um coração impuro acabaram por desfalecer de algum modo. Já os que tinham um bom coração acabaram por ter boas noticias.
Na casa de Augustus Meyer, os pais dele se preocupavam com o garoto que não voltou para casa, mas ele sabia muito bem o que queria.
Augustus depois de chorar por Celine caído no chão da entrada da floresta a seguiu algum tempo depois de a mesma ter deixado ele para trás e viu quando Celine foi morta pelo Ser e sua luz seguir o Ser para dentro da caverna.
O menino correu até o corpo de Celine e o abraçou chorando forte por ela ter morrido, mas ele nada podia fazer, apenas podia chorar pela dor que sentia.
Mas alguma coisa aconteceu e Augustus viu quando o Ser com chifres reapareceu com seus olhos azuis brilhantes e o observou chorar sobre o corpo de Celine.
— Quem és tu? — Perguntou o Ser ao menino.
Augustus viu aquilo, mas não com medo, ele sabia que o Ser não matara Celine por crueldade e sim porque ela tinha que ir embora com ele.
— Augustus Meyer... — sussurrou ele.
— E por que choras pelo cadáver?
— Eu a amava...
— Quanto...?
— Muito mais que minha própria vida.
— Tens certeza disso?
— Absoluta.
O Ser ficou em silencio. Augustus fungou antes de olhar novamente para o Ser.
— Quero ir com ela...
— Como?
— Eu desejo estar com Celine de Castro...
— Ela está em seus braços — disse o Ser virando-se de costas para ir embora.
— Não está... — falou Augustus certo disso.
— Está sim. Quem está em seus braços senão a mesma que ama?
— Eu quero estar com ela de verdade.
— Hummm... você deve estar falando de Brigit...
— Que? — Augustus ficou confuso com o que falou o Ser.
— Essa em teus braços é Celine de Castro, mas o espírito que ocupava esse corpo chama-se Brigit.
— Me leve com você... como fez com ela, por favor...
— Sabes o que quer de verdade?
— Sim... eu a amo e não posso viver sem ela.
— Brigit também te ama pelo que percebo, só me perguntou por que ela mentiu pra mim. Ah, claro, não queria que ele sofresse... mas ele sofreria sem você também minha querida... — o Ser falava com alguém que Augustus percebeu ser Celine ou Brigit como ele disse.
— Por favor...
— Que seja feita a sua vontade — disse o Ser. — Fique de pé.
O menino largou o corpo e se colocou de pé em frente ao Ser cornudo que o olhava com um sorrisinho em face antes de suas garras entrarem na carne de Augustus e esse sentir a dor da morte, mas não demorou muito para que ele visse o corpo caído chão e Celine em pé ao seu lado e um homem muito bonito do seu outro lado.
Augustus riu feliz de ver que estava novamente com ela que tinha a mesma aparência.
— Por que fez isso? — Celine perguntou, aliás, seu nome agora era Brigit.
— Por que eu te amo — murmurou Augustus.
— Menino sonhador...
— A pessoa mais especial que eu conheci...
— Brigiti... agora precisamos ir... — chamou o homem.
— Claro papai.
E juntos eles entraram na gruta e sumiram em uma luz muito brilhante para um mundo onde os simples humanos desconhecem...
Na casa de João e Madeleine de Castro a tristeza após três dias que Celine se foi parecia não ter fim... exceto que naquela mesma noite a senhora Castro sentiu um enjoo forte e foi levada ao hospital onde descobriu estar novamente gravida e João pulou de felicidade ao receber a noticia.
— Estamos esperando outro bebê, meu amor — chorava Madeleine com a mão na barriga.
— Sim estamos, assim como nos foi dito que em breve teríamos boas noticias — lembrava João.
Madeleine riu baixando as sobrancelhas.
— Celine... — ela disse mordendo os lábios.
— Celine — ele concordou som um grande sorriso, agora a vida dava a eles uma segunda chance de serem os melhores pais que podiam ter sido, tão bons quanto foram para Celine de Castro...
Agora é o fim...

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