CAPÍTULO 4: MOTIVADOS

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A noite mais fria daquela casa depois de tanto tempo juntos chegou como um lamento triste e monótono.
Já estava escuro quando eles começaram a brigar João e Madeleine de Castro, o hibisco sentira a raiva do momento e murchou até secar, as folhas caíram no solo como lágrimas derramadas… As flores, horas mais cedo pendiam abertas e frondosas, brilhavam de um tom vermelho vivo, mas agora ao sentirem a energia oscilante da raiva, estavam caindo uma a uma sobre o solo.
E as horas noturnas passavam lentamente, João de Castro acabara por dormir ali mesmo com as costas na parede ao lado da porta, ele estava triste, tão triste quanto jamais se sentira antes. Ele só conseguia pensar antes de cair no sono em como que um homem jovem como ele e cheio de saúde não podia dar um filho a sua mulher igualmente jovem e cheia de saúde? E seus olhos pesados o levaram para a escuridão…
Madeleine também ainda chorava dentro do banheiro, seus olhos já estavam vermelhos e inchados de tantas lagrimas tristes, ela nunca brigara com seu marido antes, eles sempre souberam se entender quando o assunto era um filho, e ela sabia que nem um nem o outro tinha culpa por ainda não ter chegado a criança que tanto esperavam.
Ela sabia que tudo aquilo havia sido provocado pelos comentários maldosos da senhora Mendonça, essa megera conseguiu criar um grande atrito entre os dois. Mas ainda que a culpa de quase toda a briga fosse dos comentários de Melinda Mendonça, parte da culpa era dela, Madeleine de Castro que foi ouvir o que aquelas duas velhas fofoqueiras tinham a dizer.
Pela primeira vez Madeleine se arrependeu de ter convidado alguém para dentro de sua casa. Aquelas duas velhas caquéticas ainda iriam morder a língua quando virem que Madeleine vai sim ter um bebê… Ela só não sabia quando, mas teria um.
E por fim depois de tanto pensar, e pensou muito mesmo, Madeleine percebeu que já era de manhã, ela nem dormira direito, ficava entra umas pescadas e outras no sono, mas nunca dormindo completamente.
No quarto os primeiros raios de sol adentravam transpassando a janela de vidro com cortinas brancas.
Os pássaros davam o bom dia ao novo dia que nascia com um brilho estranhamente especial.
Madeleine se levantou do chão e arrumou as roupas amassadas, ela se olhou no espelho, estava horrível. Seus olhos estavam muito inchados e num tom avermelhado. Ela balançou sua cabeça em negativa pensando o que foi que aconteceu. Por fim se virou para a porta e a destrancou silenciosamente, esperava encontrar João deitado na cama, mas quando seus olhos percorreram o quarto viu que a cama arrumada estava intacta e que sentado no chão com os braços no joelho e a cabeça debruçada sobre as pernas estava João dormindo.
Ela sentiu pena, quase derramou lágrimas novamente, mas se conteve abaixando-se sobre seus joelhos que sentiram todo o peso da culpa.
Madeleine tocou no ombro de seu marido.
— João… — ela chamou baixinho, mas foi o suficiente para ele despertar calmamente e virar sua cabeça para ela.
— Meu amor… — ele disse ainda sonolento.
— Meu Deus… você dormiu aqui? — Ele não respondeu com palavras, apenas assentiu. — Que mulher horrível eu sou. Deixei que dormisse aqui no chão depois de um dia torturante de trabalho — ela se martirizava.
— Tudo bem… não foi nada.
— Como não foi nada? Olhe para isso, deve estar moído.
Ele se arrumou ainda sentado.
— Meu amor… me perdoe por não poder te dar um filho — disse João.
— Não precisa me pedir perdão, meu amor, eu que fui um idiota em dizer tudo o que eu disse. Se alguém tem que se desculpar aqui sou eu por ouvir demais e por falar demais. Por favor, João me desculpe por ter sido tão grossa e insensível ontem.
— Pare com isso… não foi culpa sua.
— Foi sim, eu sou o pior tipo de esposa que você poderia ter se casado.
— Você foi minha melhor escolha, nada é maior que o amor que tenho por você — João sabia como agradar sua esposa.
Madeleine sorriu soltando o ar pelo nariz. Ela passou a mão no cabelo dele e o olhou com olhinhos miúdos.
— Vem… você precisa de um banho.
Ele se levantou com certa dificuldade, estava realmente quebrado da noite mal dormida e tudo que precisa agora era de um banho.
Madeleine o acompanhou até o banheiro e lhe ajudou a tirar blusa de frio e a camiseta verde musgo. Ela observou o peito de seu marido, gostava de admirar o homem lindo que tinha em casa, Madeleine nunca se cansava de dizer ao marido o quanto ele era lindo e o mesmo ele fazia com ela.
João retirou seu cinto e abriu o zíper da calça jeans enquanto Madeleine apenas olhava admirada. Ele baixou tudo inclusive a roupa de baixo e ela sorriu para ele ao pegar as roupas que ele lhe entregou.
Ele se virou de costas e seguiu para o chuveiro, ligando o mesmo que derramou sobre seu corpo uma água quentinha. João se virou para a esposa que o observava de fora e estendeu sua mão para que ela o acompanhasse no banho.
Madeleine sorriu e se despiu aos olhares desejosos de João e entrou debaixo do chuveiro sendo abraçado pelos fortes braços de seu marido. Ali permaneceram em silêncio por algum tempo antes de um começar a ensaboar o outro entre sorrisos e brincadeiras agradáveis.
Ao que tudo indicava a briga ficara para trás, Madeleine e João de Castro estavam novamente em paz tanto que aproveitaram o embalo do momento para se amarem como nunca se amaram antes.
Ambos sabiam se entregar aos desejos um do outro e formavam um encaixe perfeito, como se um tivesse sido feito para o outro de forma que nada poderia separar um casal que tanto se amavam.
João e Madeleine terminaram o banho e se secaram ao voltarem para o quarto iluminado pelo sol, foram se vestir, mas João colocara uma roupa de casa e quando Madeleine viu isso estranhou.
— Você…?
— Sim — ele respondeu e ela sorriu muito feliz ao se jogar nos braços de João. — Hoje ficarei o dia todo com você — ele prometeu.
Os olhos de Madeleine faiscavam para os olhos de João. E ela só conseguia pensar em como era possível amar tanto uma pessoa assim?
Juntos eles desceram para preparar um delicioso café da manhã com direito a bolos, tortas de maça, pão fresquinho, leite e mais alguns doces que Madeleine sempre fazia com muito carinho.
Do lado de fora no jardim da frente da pequena casa dos Castros o hibisco que estava morrendo durante a noite, estava completamente seco e sem folhas, as flores e as folhas dele estavam todas caídas no chão, como se há muito tempo tivessem caído, mas no caule bem perto do solo uma folhinha verde acabava de desabrochar.
Nas ruas de Le’Roque muitas pessoas já começavam a caminhar em direção aos seus postos de trabalho.
E como não se era de esperar a senhora Mendonça acordara cedo e de longe observava a casa de Madeleine de Castro quando a senhora Azevedo vinha vindo com Suzy Abel e pararam junto da velha senhora que nem prestava atenção às novas companhias da manhã ensolarada que chegaram.
— Bom dia, senhora Mendonça — cumprimentou Suzy Abel Délia Azevedo juntas.
Melinda Mendonça se virou para as colegas.
— Bom dia, queridas — e rapidamente se voltou com olhos atentos a casa ao longe dos Castro.
— O que tanto olha para lá, senhora Mendonça? — Perguntou Délia Azevedo a Melinda Mendonça.
— Não está vendo algo errado, senhora Azevedo?
— Não… o quê?
— Olhe mais atentamente. O hibisco frondoso de Madeleine de Castro está seco e morto — e Melinda Mendonça se voltou às amigas. — Bem… acho que nem mesmo um hibisco pode florir no jardim de Madeleine.
— É mesmo, agora que menciona o fato, minha cara, vejo que até mesmo o hibisco de Madeleine sucumbiu à mórbida vida do casal — falou Délia Azevedo e Suzy Abel riu sombriamente.
As três continuaram a fuxicar da vida alheia, sempre procurando mais e mais assuntos que não lhes diziam respeito.
O prefeito da pequena cidade de Le’Roque agora às dez horas da manhã passeava pela cidade caminhando rua após rua mostrando a um visitante vizinho, o prefeito mais próximo da pequena cidade, suas belas paisagens que iriam aos poucos serem reformadas e extraindo cada vez mais a beleza local.
O prefeito da cidade vizinha olhou para os Alpes Europeus e sua floresta imensa rodeando quase toda a cidade de Le’Roque e com olhos brilhantes admirou ainda mais a bela paisagem.
E os habitantes da cidade já caminhavam com roupas de frio, pois mesmo que o inverno ainda não tivesse chegado, a frente fria já estava por todos os lados anunciando um inverno rigoroso.
Crianças brincavam correndo pelas ruas até a beira da floresta e retornavam de volta. Elas tinham medo de ir tão longe e acabarem por ser pegas pelo mistério que diziam ainda caminhar pela floresta.
A mulher do prefeito estava grávida. Ah, sim… Margareth Newman estava esperando um bebê e já sabiam que era uma menina, ela estava no sexto mês da sua gestação e não lhe faltavam palavras de afeto sempre que alguém a encontrava.
Mais algumas mulheres da cidade estavam gravidas quase todas com o mesmo tempo de gestação. Mas uma em comum não estava, Madeleine sempre sozinha, falavam todos da cidade, nunca terá um bebê.
Mas na casa de Madeleine ela e seu marido, felizes com sua reconciliação partiam para outra tentativa mais acirrada de ter um bebê.
João de Castro e Madeleine estavam na cama unidos como um só, as mãos ágeis de João percorriam o corpo de Madeleine num frenesi caloroso. Juntos eles se entregavam ao desejo de mais uma tentativa, não era apenas uma tentativa de gerar um filho que os dois estavam se amando novamente, eles uniam apenas o útil ao agradável.
Logo chegaram ao ápice de seu desejo mais ardente. Juntos deitaram sobre os lençóis banhados pelo sol que refulgia na pele suada, mas com a certeza de dever cumprido.
João extremamente cansado de ter dormido sentado apagou assim que deu um beijo delicado na boca de Madeleine e sussurrou as palavras “eu te amo” em seu ouvido.
Enquanto isso Madeleine se lembrava das sensações fortes que tivera durante o tempo em que seu marido e ela estavam se amando e com a lembrança ela sentiu-se motivada a seguir em frente com a vida maravilhosa que tinha ao lado de João, pois mesmo sem filho eles se amavam verdadeiramente.
João em outra dimensão já sonhava com uma vida a três, ele também queria ter um bebê com Madeleine, imaginava como seria uma criança com os traços da mãe, tão linda e seria tão amada. Ele também se sentia motivado a ter uma vida feliz ao lado de Madeleine mesmo que não tivessem um bebê, mas ele sabia que ela, Madeleine de Castro era seu eterno e verdadeiro amor.
Mesmo dormindo João sorria e puxava Madeleine em seus braços e a aconchegava em seu peito.

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