CAPÍTULO 12: JULGADA E CONDENADA

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Ah… Celine de Castro… subjugada pela policia de Le’Roque como uma criminosa, assim como esses seres que se vêm em paginas de jornais policiais acusando pessoas de cometer um grande delito, mas ela… não… ela não era assim, Celine de Castro era pura, não contida, mas genuinamente amável com todos que se mostrassem amigos. Mas lá estava ela novamente, agora sendo culpada pela morte de uma garota que a bem da verdade mereceu a morte que teve, devia era ter sofrido um pouco mais antes de desfalecer enrolada como trapo velho, mas agora a pessoa mais inocente daquela cidade estava sendo levada para o único departamento de policia existente naquele lugar acusada de um crime tão hediondo que nunca poderia ter as mãos de Celine, nem a mente, nem o poder nem nada que viesse diretamente dela, já indiretamente… bom aí é outra história.
João de Castro pegou seu carro na garagem dos fundos, deu uma ré alarmantemente rápida a ponto de derrubar uma lata de lixo, mas não se importou em voltar e levantar a mesma, a única coisa que ele fez foi sair do carro e correr até a casa onde Madeleine ainda chorava sentada ao sofá.
— Meu amor vai ficar tudo bem — ele prometeu sem ter muita certeza disso e correu até um móvel pequeno onde pegou sua carteira e deu um rápido beijo em Madeleine antes de sair porta a fora.
Madeleine chorava sem parar.
— Meu Deus o que foi que eu fiz para merecer essa punição? — Ela se perguntava entre soluços.
A essa altura toda a cidade já devia saber do que estava acontecendo na casa dos Castros. Madeleine até já ouvia as velhas fofoqueiras espalhando inúmeras mentiras sobre Celine e isso a deixava além de triste nervosa também.
A noite já vinha caindo aquelas alturas. O som agorento de corujas eram ouvidas por todos os lados, até uivos de lobos eram ouvidos perto demais não só da cidade, mas da casa dos Castros.
Alguém bateu à porta de Madeleine e ela até se assustou, pois não ouviu o som de carro e nem nada então já sabia que não era João quem batia.
O som dos animais noturnos foi silenciado quando uma luz forte brilhou pelas frestas da porta e Madeleine se assustou novamente quando alguém tornou a bater em sua porta.
Ela parou a três passos da entrada e chamou:
— Q-quem é?
— Madeleine? Sou eu não se lembra de mim? — Falou uma voz de mulher do outro lado da porta.
Eu quem? — Pensou Madeleine já que a mulher não dissera o seu nome.
— Desculpe… não compreendi.
— Trouxe-lhe os hibiscos há dezesseis anos, não se lembra?
Logo a memoria de Madeleine entrou num trabalho árduo para se lembrar, mas foi até rápido demais e ela se lembrou da velha senhora que tomou um café com ela num dia qualquer e depois foi embora sem…
— Eu fiquei lhe devendo algo naquela noite — murmurou a voz.
— Claro… — Logo Madeleine abriu a porta e viu a mesma senhora que vira a dezesseis anos, vestida numa roupa mais elegante que daquela vez, porém com uma echarpe mais simples que destoava do resto da roupa. — Entre.
A senhora riu e entrou feliz como se o ar da casa lhe trouxesse boas lembranças.
— Boa noite senhora Castro — ela cumprimentou verdadeiramente feliz.
— Não tão boa assim querida — respondeu Madeleine e seus olhos inchados tornaram a derramar lagrimas.
— Ah… — a senhora se aproximou de Madeleine e lhe abraçou, logo Madeleine de Castro se sentia nos braços de sua mãe, sentia-se segura, sentia que podia confiar naquela senhora e que por enquanto estava tudo bem.
— Desculpe… hoje o dia estava sendo o pior de todos…
— Não se preocupe querida, vai dar tudo certo.
— Não sei… Parece que a vida quer me castigar por algum erro…
A senhora soltou uma risada leve e contida.
— Bobagem minha filha, garanto que nada demais pode acontecer.
— Minha filha está sendo levada para uma delegacia, oh meu Deus! Ela é só uma criança e tem que sofrer tanto… — Madeleine perdeu a voz em meio aos soluços e chorou mais ainda.
— shhh… shhh… Calma… vai ficar tudo bem, eu lhe garanto — tranquilizava a velha senhora.
Depois de algum tempo Madeleine estava despertando no cola da senhora.
— O que aconteceu?
A senhora sorria.
— Você acabou dormindo.
— Eu… ah, me desculpe, quanta indelicadeza de minha parte, perdão.
— Não precisa se desculpar querida, você estava com os nervos a flor da pele, sente-se melhor?
— Acho que sim…
— Ótimo.
Madeleine se sentou direto no sofá e olhou aquela estranha senhora que parecia ter algum dom de acalmar.
— A senhora me disse… disse que ficou me devendo algo?
— Oh sim.
— Não se preocupe. Não me deve nada.
— Devo sim, lhe devo meu nome.
— Ah claro, entendi.
— Eu me chamo Calista Avalon.
— É lindo, seu nome.
— Gentileza de sua parte — Calista sorriu passando a mão nos cabelos de Madeleine. — E Celine?
— Estava bem… até a tarde de hoje quando a levarão, agora não faço ideia de como ela está.
— Hummm, não se preocupe, sua filha é um ser iluminado, tenho certeza de que ficara bem, mas virão dias ruins.
— Ruins?
— Nada com o que se preocupar.
Madeleine não tinha como não se preocupar, sua filha havia sido levada há quase três horas e ela não teve nenhuma noticia desde então. E agora essa senhora que ela ajudou há tanto aparece como se para ajudar ela a segurar as pontas num momento tão dolorido.
A delegacia não era tão longe, ficava virando a esquina da terceira rua a esquerda, umas três quadras da escola onde Celine estudava.
O senhor delegado já havia tomado o depoimento de Celine, e apesar de ela ser de menor ele teve de manter a garota numa das celas, pois haveria segundo eles a possibilidades de João de Castro e Madeleine sumirem com a garota da cidade antes de eles saberem as verdades dos fatos.
— Não se preocupe, vou tirar você daqui antes que possa esperar — prometeu João de Castro a filha.
— Papai, eu posso fazer isso a qualquer momento — disse Celine.
— Eu sei que pode, durante tanto tempo eu tentei fingir que não sabia do que você era capaz, mas ultimamente não posso mais fechar os olhos, mas de qualquer forma eles não podem te julgar por algo que não fez.
Celine segurou a mão de seu pai pela grade da cela.
— Isso é verdade — concordou Celine.
João de Castro suspirou antes de beijar a testa da filha pedindo mil perdões por não poder fazer nada tão rápido por ela, mesmo sabendo que se Celine quisesse de verdade estaria bem longe dali.
Na casa dos Castro a velha senhora se preparava para ir embora prometendo que tudo ficaria bem.
— Lembre-se do cristal que lhe dei naquela noite.
— Que cristal… ah! Sim o cristal com as sementes de hibisco.
— Isso mesmo, é para proteger a menina.
— Está lá em cima. Entregarei assim que possível.
— E não se esqueça, Celine de Castro é um ser iluminado. Não tenha medo, pois o que tiver de ser será. Ela não veio a este mundo sem um propósito.
— Claro…
A velha senhora de nome Calista Avalon sumiu na noite escura no mesmo instante em que o carro de João vinha surgindo iluminando a rua.
O julgamento aconteceu três dias depois numa noite tempestuosa e fria. Acusaram Celine de inúmeras atrocidades. Entre elas o sapo na casa do prefeito. A quase morte de Augustus Meyer, mesmo a menina tendo dito que era só uma brincadeira. Acusaram-na de trazer o mal de volta à cidade e inclusive pela morte de Mary Newman que de fato era a única coisa que Celine não tinha nada a ver.
Pronto o mal estava feito. O mal estava ali. Mas não era de Celine de Castro. De todos ali a única pessoa boa era ela.
Há quanto tempo mesmo que o mistério não atacava a cidade? Ora bem, dezesseis anos. A mesma idade de Celine. Não seria ela então a luz de tudo isso?
Não! Ela será condenada a morte. Foi dito e declarado oficial.
— De novo? — Perguntou Celine algo vago e sem sentido.
Como era de se esperar a morte da menina seria na fogueira.
Toda a cidade estava lá para ver a bruxa queimar viva diante dos olhos de todos, Madeleine chorava ao tentar ajudar a filha, mas estava presa numa cela com grades de ferro junto de seu marido João de Castro que nada podia fazer para ajudar.
— Queimem a bruxa! Queimem a bruxa! — Gritavam as pessoas da cidade que morria de medo de Celine de Castro, mas que não perdiam uma chance de mal dizer a pobre garota.
O próprio prefeito fora incumbido de acender a fogueira, mas mesmo com a grande tocha de fogo acesa na mão a pilha de madeira que sustentava Celine presa se mantinha intacta.
Tentaram de inúmeras formas acender a pira, mas quem disse que alguém conseguia acender a chama?
O povo começava a gritar blasfêmias para a menina.
— Coisa do Diabo!
— Filha de Satanás!
— Deus queime sua alma no fogo do inferna bruxa maldita.
A cada palavra proferida Celine apenas ria em altas gargalhadas.
— Vai demorar? — Perguntava Celine e seus olhos brilhavam. — Estou com frio — dizia ela debochada.
Chamaram o prefeito de lado.
— Senhor não haverá cristo que consiga acender a chama — falava um homem alto e robusto.
— Bruxa maldita, ela deve estar manipulando a energia local, como essa praga voltou a dominar nossa cidade?
— Temos de mudar a sentença.
Celine foi levada de volta para a cela, onde ficou absolutamente tranquila, ela carregava no pescoço o cristal que sua mãe conseguiu lhe dar ao visitar a menina na prisão da cidade.
O comitê judiciário da cidade de Le’Roque decidiram em reunião pela mudança na sentença de Celine. Agora ela seria enforcada também em praça pública.
E lá estava Celine novamente para a dor de sua mãe e seu pai que eram obrigados a assistir a filha prestes a ser enforcada, mas eles já estavam mais calmos, pois Celine prometeu não morrer assim tão fácil.
A corda estava em seu pescoço.
O povo gritava.
— Enforquem a bruxa!
Chutaram o banco no qual ela estava de pé com a corda no pescoço.
Mas corda arrebentou e Celine caiu de pé explodindo em gargalhadas assustadoras que fazia o povo tremer.
Tentaram de novo, e de novo, e mais uma vez e nada de Celine jazer pendurada estrebuchando. E… ufa! Desistiram na décima vez.
Mudaram novamente em reunião a sentença de morte.
Pois bem seria afogamento na banheira. Mas… cadê as banheiras da cidade? Sumiram. Todas as casas onde havia uma banheira, simplesmente não tinham mais nada.
— Obra da bruxa!
Pois bem… Seria no Lago. Mas o lago estava congelado. Tentaram quebrar, mas estava tão duro quanto pedra.
— Nunca vi gelo mais duro senhor — falava um senhor com a picareta na mão.
Então seria morta na guilhotina.
A lâmina até desceu, mas enganchou no meio do caminho.
— Ops! Não foi dessa vez — ria Celine. E seus pais estavam rindo as escondidas também, já não tinham mais medo por Celine de Castro.

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