CAPÍTULO 5: NASCIMENTO

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Três semanas se passaram em Le’Roque, a cidade cada vez mais se preparava para o inverno, o trigo de João de castro estava para ser colhido em poucos dias, a vida na pacata cidade seguia seu caminho, crianças iam a escola, turistas vinham passar algum tempo na pousada de Madame Leveau. As velhas fofoqueiras se uniam num clube do chá com a intenção de falar da vida alheia. Os moradores que tinham trabalho iam e vinham de um lado para o outro com pressa de chegar ao local de trabalho.
A maioria tinha negocio próprio como era o caso de João de Castro, mas mesmo tendo um negocio seu onde contratava alguns homens para ajuda-lo a cuidar da plantação, João nunca ficava parado, ele sempre estava pra lá e pra cá, mexia aqui e ali. Até que certo dia enquanto observava a cor do seu trigo, João teve a visita de um dos meninos de um dos seus ajudantes.
O garoto se chamava Alberto Pasquim e resfolegava ao falar:
— João… É a dona Madeleine… está no hospital…
— Que? O que dizes menino, minha esposa num hospital?
— Sim senhor — o garoto tomou ar antes de falar. — Foi Jamile Alana quem levou a senhora Castro ao hospital.
João nem bem ouviu o garoto e saiu correndo de sua plantação em direção ao hospital da cidade, que não ficava muito longe, mas ele também não tinha um cavalo para chegar mais rápido ao hospital.
Depois de quase vinte minutos correndo ele chegou a recepção do hospital pequeno da cidade de Le’Roque.
— Minha esposa. Onde está ela? — Perguntava ele quase sem folego a recepcionista.
— Acalme-se senhor Castro, sua esposa está bem ali na sala três. Pode entrar…
João deixou a recepcionista falando sozinha e correu para a sala três no segundo corredor a direita. Ele entrou sem bater e Madeleine de castro estava sentada com um médico que anotava algo em uma prancheta.
— Meu amor, você está bem? — Ele se aproximou parando ao lado de Madeleine que estava muda com uma cara pasma.
— Senhor Castro. Acalme-se que a senhora de Castro está em perfeito estado.
— Eu morri de medo quando me avisaram que você estava no hospital. O que aconteceu?
— Eu estou bem João, só tive uma queda de pressão, sei lá eu estava indo na mercearia, mas me senti tonta, sorte que senhorita Alana estava por perto, ela me trouxe para cá — explicava Madeleine.
— Não se preocupe com sua esposa senhor Castro, ela está bem, só precisa de repouso por estar grávida.
— Ok, só precisa de repouso por estar gra… — ele parou de falar tentando assimilar o que o doutor disse. — O que… foi mesmo que o senhor disse?
— Gravida, a senhora de Castro está grávida, senhor — reafirmou o doutor e João pareceu pasmo, agora ele entendeu o porque Madeleine estava com a expressão pasma quando ele chegou.
O doutor saiu da sala para dar privacidade ao casal.
Então João de Castro olhou nos olhos brilhantes de Madeleine.
— Meu amor… — ele disse segurando a face da esposa com as duas mãos. — Gravida? Você…? — Ela assentia com lágrimas nos olhos.
— Vamos ter um bebê, João… um lindo bebê — falava ela e João a beijou com muito amor, várias e várias vezes por toda a face.
E os dois choravam como crianças felizes. João se ajoelhou no chão e tocou a barriga de Madeleine, ainda cheio de felicidade.
— Seja bem vindo, meu amor — disse ele acariciando a barriga dela.
— Ele será muito feliz, não é meu amor — ela também falava com a própria barriga e mais lágrimas caíram de seus olhos.
O doutor voltou à sala depois de algum tempo e viu os dois abraçados e felizes e sorriu com a cena.
— Bem… — começou ele e os dois olharam para o doutor. — Se quiserem ir Madeleine está liberada, só peço que tomem cuidado com o estado dela, a gravidez é bem recente, e como é a primeira… eu peço que repouse bastante e se alimente muito bem, afinal agora come por dois minha querida.
— Tudo que nos for ordenado, doutor, ela não fará mais nada…
— Calma, senhor Castro, não é bem assim, a senhora de Castro precisa repousar, mas gravidez não é doença, viu, ela precisa fazer algumas coisas.
— Tudo bem doutor, então somente o necessário — concordava João de Castro já com todos os cuidados com Madeleine.
Juntos os dois saíram do hospital e voltaram para casa, João sempre muito atencioso ia conduzindo a esposa pela porta até colocar a mesma sentada no sofá.
— Está se sentindo bem, meu amor?
Madeleine estava adorando ser paparicada.
— Sim, meu amor, eu estou bem.
— Vou pegar algo para você comer, está com desejo de alguma coisa?
— Não… João ainda é cedo para sentir desejos, estou apenas na terceira semana de gestação.
— Ah é… Então… ok, certo, eu… só vou ali pegar alguma coisa pra você, por favor, se sentir alguma coisa me chama — Madeleine sorriu com os cuidados do marido que a olhava com olhos brilhantes.
João se foi para a cozinha, Madeleine deitou a cabeça num travesseiro ao lado e percebeu que nunca se sentira tão feliz como estava se sentindo agora, um bebê crescia lindamente dentro de seu ventre, um fruto do amor incomparável dela com seu marido. Diante de tal felicidade Madeleine adormeceu ali mesmo.
Enquanto isso João preparava um lanche delicioso para sua esposa, ele fazia suco e algumas coisas para ela comer. Ele estava feliz por uma dádiva como essa lhe ser dada por Deus com tanta boa vontade, enfim havia chegado a hora que ambos esperavam por tanto tempo, um bebê lindo que sua esposa amada carregava em seu ventre.
Lá fora no quintal o hibisco novamente frondoso parecia se iluminar com a promessa sendo cumprida, finalmente a criança que tanto esperavam estava a caminho.
E dia após dia que passava calmamente vinha trazendo o inverno e levando o sol. Já havia se passado sete meses. A barriga de Madeleine era esfregada na cara de toda aquela gente mal amada que vivia falando da vida dos Castros, finalmente o casal que viviam tão sozinhos estavam trazendo a este mundo um bebê.
A senhora Mendonça olhava com desprezo de longe a bela barriga que Madeleine fazia questão de mostrar aos outros.
João agora que havia feito sua colheita e se preparava novamente para um novo plantio gostava muito de passar bastante tempo junto de sua esposa, ele parou de trabalhar tanto, afinal sua ultima colheita havia sido tão boa que ele comprou outro grande pedaço de terra onde passou a criar animais que davam leite e serviam como animais de corte para açougues.
Sim, pois bem, João de Castro e Madeleine de Castro agora eram mais bem vistos pela cidade, eles enriqueceram e sua casa antes pequena agora estava maior, tinham cavalos e alguns empregados. Podiam desfrutar de coisas que antes não podiam.
A senhora Mendonça, boca aberta como sempre apontava o dedo sem piedade e dizia a quem quisesse ouvir.
— É um filho do diabo, por isso estão montados na grana, ela e o marido fizeram um pacto com o tinhoso.
Muitos ainda não iam muito com a cara dos Castros, eles eram bem vistos na cidade, agora com dinheiro faziam empréstimos a alguns dos habitantes menos favorecidos e até um banco abriram na pequena cidade, porém até investidores de fora vinham ali para fazer suas apostas em investimentos.
— Tudo coisa do bicho ruim — falava Melinda Mendonça e cuspia no chão.
— Eu sei minha cara — concordava Suzy Abel.
Madeleine andava desfilando roupas lindas e uma barriga gigante que quase não aguentava mais, porém fazia questão de andar pelas ruas com sua babá já contratada para ajudar a cuidar de seu bebê.
— Senhora de Castro, vamos embora, está começando a esfriar e a senhora precisa se agasalhar — dizia Sarah Malbeck.
— Claro, Sarah, vamos apenas ao mercado, tenho que pegar algumas coisas — respondia Madeleine e passavam em frente a casa da senhora Mendonça que sorriu acenando para as duas.
E o tempo passava…
As brumas da noite do terceiro dia da lua cheia no céu agora deslizavam como seres carregados de vida, mas uma vida estranhamente morta. Sempre que as brumas apareciam, algo ruim era esperado pelos habitantes de Le’Roque e o sacrifício era deixado na entrada da floresta sobre a pedra cinza para que o mistério não levasse ninguém da cidade.
E, no entanto, naquela noite as brumas vasculharam rua por rua sem nada levar, nem mesmo o sacrifício deixado na entrada da floresta.
Na casa de João de Castro, após um dia inteiro de gritos escandalosos, um último grito foi dado. Juntamente com esse grito um raio cruzou o céu de ponta a ponta se perdendo no horizonte e o choro de um bebê preencheu o vaco e se fez ouvir através do trovão.
— Acalme-se senhora — já vinha dizendo uma moça que tinha em mãos uma tesoura e panos limpos.
Ágata, a parteira do local, sempre estava disposta a todos que precisassem de seus serviços e com Madeleine de Castro não seria diferente.
Sarah secava o rosto de Madeleine que não quis ganhar seu bebê no hospital, ela dissera ao marido que em sonho uma voz lhe disse que deveria ganhar a criança em casa sobre a cama que fora concebida.
Eis que então o bebê está em seus braços sujo de sangue e chorava como nunca, mas logo foi se acalmando até permanecer em silencio com os olhos fechados.
João de Castro é chamado por Sarah e adentra o recinto com um sorriso espalhando por seu rosto jovem e bonito, seus olhos brilhavam.
— Aqui está seu bebê, João — diz sua esposa. — Ela se chamará Celine.
João pegando seu bebê olha para a esposa sorridente e confirma.
— Será Celine então e cheia de saúde nos trará toda a felicidade que teremos de hoje em diante.
E pela janela se faz o clarão de um novo raio onde de relance é visto o espectro de um ser com chifres.

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