CAPÍTULO 11: DETIDA

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O frio ártico congelava as juntas dos moradores de Le’Roque, praticamente toda a cidade estava seguindo junto a caminhada fúnebre de Mary Newman, morta de um jeito assustador e misterioso.
Mary Newman estava totalmente torcida na cama quando a encontraram, seu pai o senhor Newman tratara o mais rápido possível da cerimonia de enterro, sem velório, ele apenas queria acabar de uma vez com esse sofrimento, queria que sua filha descansasse em paz.
A cerimonia fúnebre da garota foi feito com caixão fechado, todos os presentes já tinham ouvido falar de como a menina estava horrível quando encontrada, todos os rumores que podiam ser espalhados já estavam correndo em cada canto da cidade e, portanto, todos já imaginavam mesmo que o caixão seria fechado o tempo todo já que a menina estava em estado lamentável.
Todos estavam lá. Inclusive a família Castro que estava num dos cantos ouvindo o padre falar as palavras de despedida e recitando o salmo 23.
Em outro canto, sentada, estavam a senhora Mendonça e Suzy com caras tristes ouvindo atentamente as palavras do padre.
— Que triste isso, não acha? — Disse Melinda Mendonça usando um lenço para secar os olhos.
— Sim… — respondeu Suzy suspirando.
De certo que as maquinações na cabeça de Melinda já iam longe, velha languida, porém a língua estava mais venenosa que nunca.
— Não é uma morte comum — comentou ela. Ah Diaba, lá vinha ela novamente.
Suzy a olhou confusa, seu cenho estava se franzindo, ela sabia que Melinda iria acusar alguém.
— O que?
— Acha mesmo que isso foi causado por espasmos? Ah… não, não minha querida isso foi coisa do demônio que rodeia a nossa cidade desde que aquela menina chegou.
Os olhos de Suzy se arregalaram perplexos.
— Não está se referindo a… — ela tentava dizer meneando a cabeça de leve.
— Claro que sim… — e ela baixou o tom de voz — Celine de Castro.
— Mas senhora Mendonça… Celine nasceu aqui… e desde aquele tempo nada de ruim se aproxima da cidade, o mistério nunca mais levou o sacrifício. Estamos todos bem desde então…
— Claro que não — discordou a senhora Mendonça veemente. — Nunca estivemos realmente em paz, essa menina trouxe o inferno para a nossa cidade, e já está na hora de alguém fazer alguma coisa.
Suzy não respondeu, apenas assentiu, mas em seu interior algo dizia totalmente o contrario.
Todos davam seus pêsames pela morte prematura e incompreensível de Mary Newman, seus pais choravam tristemente pela filha, a menina mais linda da cidade agora jazia numa tumulo.
Após o fim do funeral o corpo foi enterrado sob uma sepultura de mármore cinza com a foto do lindo rosto da senhorita Newman sorrindo, seus olhos azuis brilhavam.
Os rumores após aquele dia eram muitos, porém sem dúvidas alguma uns eram mais certos que outros e uns mais bem aceitos. Como, por exemplo, a acusação de que o mistério da floresta queria uma recompensa por não ter reaparecido por dezesseis anos. Ou seja, o nevoeiro sombrio estava cansado de permitir que todos daquele povoado simplesmente vagasse pela floresta sem que nada lhes aconteça.
Porém apesar de acharem que o mistério queria um sacrifício, outros achavam que era coisa de Celine de Castro e novamente vinham mais acusações sobre a menina.
Isso era sem duvidas culpa de Melinda Mendonça, essa velha conseguiu novamente jogar a culpa de outro acontecido em cima da menina que sequer soube do acontecido até que lhes informaram na casa dela.
Em uma das casas da vizinhança estavam reunidas algumas velhas senhoras.
— Mancomunada com o bicho ruim — soltava a velha senhora Mendonça ao sentar num dos sofás da casa de Margareth.
— Com certeza foi ela — cochichava outra senhora com Margareth, a vó de Augustus Meyer.
— Essa menina tem que ser parada antes que mais alguém morra — prosseguia a senhora Cardoso.
— Não se preocupe. O senhor Newman já está providenciando um jeito de parar esta menina — disse Melinda com um sorriso diabólico na face.
Na casa dos Castros o senhor João se preparava para o trabalho quando sua esposa o chamou a meia voz.
Ali sob a soleira estava coberto de neve um dos guardas do senhor prefeito com um papel em mãos.
Ele leu:
“A senhorita Celine de Castro está sendo a partir deste momento, detida por suposto assassinato de Mary Newman”.
— Como é? — Enraiveceu o senhor João de Castro.
— Minha menina? — Chorou Madeleine.
— Onde está a senhorita Celine de Castro, senhor? — Perguntou o guarda.
— Deve haver algum equivoco aqui, meu senhor… — tentou João.
— Não há equivoco nenhum aqui, senhor de Castro, o mandado de prisão é muito explicito.
— Mas minha filha não fez nada…
— Não nos importa o que o senhor acha ou deixa de achar senhor, apenas nos diga onde encontrar a menina.
— Mas isso está errado, Celine é inocente, como ela poderia ter entrado na casa dos Newman e cometer um assassinato sem ser vista?
O guarda respirou e fechou os olhos um segundo antes de prosseguir.
— Senhor João de Castro, por uma causa o senhor está tentando impedir a lei de agir?
— Não impedindo a lei, mas objetando uma coisa que não tem pé nem cabeça.
Então o guarda falou num tom severo.
— O senhor também será levado se continuar debatendo com a autoridade, senhor.
João de Castro cerrou seu cenho num olhar seguro.
— Pois terá mesmo que me levar se quiser levar minha filha.
— Pai… — Celine descia as escadas. — Não precisa fazer isso, eu vou.
Celine já estava atravessando a sala quando João a interrompeu.
— Se vão te levar, terão de me levar também.
— A mim também — falou por fim Madeleine.
Os olhos de Celine brilharam, ela não poderia ter escolhido melhor família para nascer.
— Mãe… não precisa se preocupar, eu vou ficar bem…
— De jeito nenhum, você é minha filha, e eu vou com você até o in…
Celine colocou o dedo na boca da mãe antes de ela prosseguir com sua frase.
— Não precisará ir até o inferno comigo mãe, acredite aquele lugar não é para você, papai vai comigo e ficaremos bem eu prometo.
— Mas filha… — chorou novamente Madeleine.
A menina sorriu segurando o rosto da mãe entre as mãos.
— Confie em mim, eu já descumpri alguma promessa que tenha feito a você?
— Não…
— Eu já fiz algo que no fim não tivesse dado tudo certo?
— Não…
— Então eu digo e repito, confie em mim.
— Está bem… confiarei novamente em você.
Celine abraçou a mãe e sussurrou em seu ouvido.
— Eu prometo que tudo ficara bem, mas hoje não voltarei para casa.
Madeleine de Castro chorou mais ainda com as palavras da filha, em dezesseis anos de convivência com Celine de Castro, Madeleine sabia que a filha jamais mentira sobre qualquer assunto e nunca errou também em qualquer coisa que tenha falado.
— Por aqui senhorita.
Celine de Castro seguiu o homem que a acompanhou até um carro e João de Castro também o seguiu.
— Vou estar lá com você querida — disse João e Celine assentiu.
João de Castro foi buscar seu carro e Celine teve que entrar no carro que o oficial de justiça estava mantendo a porta aberta. Da porta da casa dos Castros, Madeleine chorava vendo a filha partir num caminho obscuro.

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