Capítulo 4

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Com toda aquela adrenalina na floresta e a felicidade que sentia, depois de correr naquela velocidade, tinha até esquecido de passar na farmácia, para comprar a tinta de cabelo e verificar meu peso

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Com toda aquela adrenalina na floresta e a felicidade que sentia, depois de correr naquela velocidade, tinha até esquecido de passar na farmácia, para comprar a tinta de cabelo e verificar meu peso. Pensava melhor, analisando meu cabelo no espelho do criado mudo, porque se eu quisesse mudá-lo, teria que ser de uma forma profissional.

Tirei a roupa molhada no quarto mesmo, pois meus pais nunca entravam sem bater. E aquela era a privacidade e a liberdade que sempre desejei desde que voltei.

Um barulho vindo da janela despertava minha curiosidade. Caminhei para verificar o que estava causando aquele som irritante, quando sobressaltei ao ver o Anu-preto, bicando o vidro da janela, tentando entrar. Peguei a toalha em cima da cadeira rapidamente, pensando que se aquele pássaro tivesse visto alguma coisa, só teria visto meu traseiro. Sua aparência era idêntica a de um corvo, mas como os corvos não existiam no Brasil, assim Alex dizia, aquele poderia não ser um pássaro de verdade.

— Saia daqui.

Pretendia espantar o bicho, batendo no vidro da janela. A minha atitude tinha dado certo, mas o Anu-preto continuava sobrevoando no céu, perto da minha casa. Era muito estranho! Daniel não me apareceria assim, desse jeito abestalhado... Aquela velha sensação de está sendo observada me angustiava novamente.

— Daniel? — sussurrei encostando o meu rosto no vidro da janela.

E se fosse Daniel mesmo, que resolvera se transformar em pássaro para não chamar tanto a atenção? Mas por que ele não me procurava em forma humana? Ele não poderia ter voltado do mundo mágico sem que me procurasse primeiro.

— Leica, o almoço está pronto! — a voz da minha mãe atravessava a porta.

Prendi a toalha firmemente no meu corpo.

— Já estou indo mãe.

— Dustin não apareceu no seu quarto? Aquele gato me faz tanta falta. — disse ela com a voz triste.

Desde que voltei, minha mãe perguntava todos os dias pelo paradeiro do bichano. Sempre que ia ao mercado, comprava ração para alimentá-lo, caso ele voltasse pra casa. Se ela soubesse que ele não iria mais voltar, que ele era um humano... isso ela nunca iria saber.

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Depois do almoço, pedi exclusivamente ao meu pai que me levasse até o salão no centro da cidade.

— Você tem que dar uma chance para a sua mãe. Deixa ela se aproximar. — ele pedia baixando o vidro do carro.

— Eu não faço nada pai, ela que tem medo de conversar comigo desde que voltei. — falei olhando para ele.

Meu celular começou a tocar. A chamada era de Dora. Recusei.

— Você também sabe que não pode ignorá-los para sempre. Eles com certeza estarão na escola.

— Não quero pensar neles no momento. Só queria ser mais aberta com a minha mãe como antigamente. Tudo era mais fácil, sabe pai!

Ele estacionou.

— Ela se sente culpa por você ter saído de casa. Só tem medo de fazer isso acontecer de novo com o que tem a dizer.

Abrimos a porta do carro e caminhos pela calçada, por alguns minutos.

— Que horas eu posso vim te buscar? — ele perguntou.

Lembrei que tinha que dizer sobre ir ao cinema, com meus colegas de trabalho.

— Pai... — pausei. — Será que tem como o senhor liberar eu, Marcos e a Stefane para irmos ao cinema à noite? — mordi os lábios.

— Ir para o cinema? Mas a pizzaria estará aberta a noite. — ele falou com as mãos nos bolsos.

Como eu já esperava!

— Vou pensar um pouquinho — disse enfim.

Não tinha ficado nem triste nem alegre com sua resposta.

— Então te pego as quatro. Vai realmente tirar a mecha branca do cabelo? — ele franziu o cenho sorrindo.

— Espero que sim. — olhei para a mecha sobre os ombros.

Não sabia se era o certo a se fazer, mas se ela era uma característica herdada da minha avó ou dos meus poderes Hunicerotes, ela apareceria em breve.

Entrei no salão.

Enquanto eu me olhava no espelho, a mulher mexia no meu cabelo ondulado, pensando no que poderia fazer primeiro. Fazia tempos que não o cortava e esperava me acostumar com a mudança.

Exatamente às quatro horas da tarde, meu pai estacionou o carro na porta do salão. Enquanto eu saía, ele me admirava da janela do carro, como se fosse outra pessoa e não a sua própria filha.

— Você ficou... Linda minha filha. — ele elogiou acelerando o carro.

— Fiquei? — mordi os lábios ansiosos. — Ainda não tive coragem de me olhar no espelho, depois da mudança. Eu só consigo sentir o quanto minha cabeça está mais leve. — falei sorrindo.

Assim que chegamos em casa, não esperava que minha mãe também fosse me elogiar. Ela tocava nos meus cabelos curtos, para ter certeza de que era de verdade.

O dia logo se fez noite, para voltarmos a trabalhar na pizzaria. Era sábado, um dos dias mais lotados do final de semana, e eu não tinha mais esperanças que meu pai fosse nos liberar, para o cinema. Marcos ficaria decepcionado por não poder me impressionar, com algum filme romântico, que ele fosse sugerir.

O meu reflexo no espelho, era de uma garota feliz pelo cabelo novo, e ao mesmo tempo, arrependida, por ter deixado o antigo no lixo do salão de beleza. Mas o corte estava do jeito que imaginei, na altura dos ombros e com mechas claras, na cor louro mel, disfarçando a mecha prateada. Até dá mecha eu estava sentindo falta!

Sem mais lamentos, eu terminava de me arrumar, seguindo para a sala encontrar meu pai. Uma voz conhecida conversava com eles no momento em que eu andava no corredor. Mas o que ele estava tentando fazer?

— O que você está fazendo aqui? — perguntei intrigada, encarando Marcos.

Ele estava em pé perto do sofá, olhando os retratos da estante.

— Eu vim pegar você... Para o cinema, lembra? — ele disse franzindo o cenho, como se eu estivesse esquecida.

— Meu pai...

— Eu pedi para ele vim Leica. Vocês merecem uma noite de folga. — meu pai falou saindo do corredor.

Fingi que não estava entendo o que ele queria dizer. Marcos estava sozinho e eu esperava que Stefane estivesse lá fora, por que não iria para aquele cinema sozinha com Marcos.

— E o trabalho? Como vão dar de conta? — perguntei, sem parecer que estava decepcionada.

Não queria magoar Marcos ou deixar meu pai confuso. Mas sabia que ele tinha nos liberado, forçadamente.

— Sua mãe vai me ajudar hoje. — ele apontou para ela que já estava prendendo o avental no corpo.

A vontade que minha mãe estava de ajudar meu pai era perceptível.

— Luciana, pelo amor de Deus, isso é para usar lá! — ele falou pra ela.

Ela olhou para ele com cara feia.

— Então tá... Você está pronta Leica? — Marcos perguntou.

— Vou ficar. — falei andando para o quarto, com um pequeno sorriso no rosto.

Ele era só um amigo! Dizia para mim mesma.


Filhos da Natureza - A Proteção Vol.2Onde histórias criam vida. Descubra agora