Filhos da Natureza - A Proteção Vol.2

Capítulo 5

— Você está linda, Leica! Por que resolveu mudar o visual? — Marcos perguntou na estrada.

O carro de Marcos era um Fiat Uno, na cor vinho amarronzado. Conhecia a marca porque a do meu pai era um Fiat Hatch da cor preto. De alguns carros eu entendia, porque um dos meus sonhos era ter um algum dia, para não depender dos meus pais toda vida.

Ele devia pegar a Stefane em algum ponto da cidade. Iria perguntar assim que tivesse chance, porque ele não parava de tagarelar. E se ele estivesse se esquecendo da Stefane?

— Queria mudar. E a Stefane? — perguntei olhando para a estrada.

Ele não parava de me fitar, pelo espelho do retrovisor, acima de sua cabeça. A noite estava estrelada, sem resquícios de chuva, mas ainda fazia muito frio.

— As mechas combinaram com o seu tom de pele. — ele dizia maliciosamente.

Desde quando ele sabia sobre moda? Uma risada queria se formar em meus lábios, e no instante em que tirei os olhos da estrada, para olhar o rosto dele, algo se chocou com muita força sobre o vidro do carro. A coisa que tinha se chocado não estava mais ali, mas tinha deixado seu sangue.

Marcos tinha se assustado com o impacto e quase jogou o carro para fora da estrada. Meu coração quase saiu do meu peito, naquele momento. Ele rapidamente deixou o volante, para verificar o animal. Fiz o mesmo!

— O que é? — perguntei assustada.

— É um pássaro preto. — ele falou.

A estrada que Marcos tinha traçado, era um pouco fora da cidade, afirmando ele ser o caminho mais perto para o cinema.

— Vamos embora daqui. — falei agitando os braços, por causa do frio. Andei de volta para o carro.

Não estava mais gostando da forma que aquele pássaro estava aparecendo na minha vida, e com certeza não era Daniel. O desejo de ver aquele Anu-preto morto me passava pela cabeça. Mas não, e se fosse alguém me tentando alerta sobre algum perigo?!

Marcos limpava o sangue no vidro do carro e logo que entrou, ligou o para-brisa.

— Foi bem estranho, nunca tinha visto aquele tipo de pássaro por aqui. — ele falou.

Comecei a ouvir um bater de asas atrás do carro.

— Você não esqueceu que a Stefane vai com a gente né? — perguntei com o rosto virado para trás do carro.

— Ela disse que estaria nos esperando com os ingressos na porta do cinema. — explicou.

Fiquei mais aliviada.

— Você pode acelerar mais um pouquinho? — pedi.

Já na frente do cinema, Stefane era a única que esperava do lado de fora, com os ingressos na mão. Ela parecia bem aborrecida.

— Por que vocês demoraram? O filme já deve ter começado há quinze minutos. — ela balançava os ingressos na mão.

— Aconteceu algo na estrada. — Marcos explicou entrando no cinema.

— Humm.. se pegaram? — ela perguntou sorrindo.

— Não Stefane, pelo amor de Deus! Foi um pássaro que bateu no para-brisa do carro. — expliquei aborrecida.

Às vezes suas ideias malucas, me faziam lembrar-se de Dora, que me ligava umas vinte vezes por dia. E refletindo sobre as ligações de Dora, se ela estivesse me ligando para falar de Daniel? Era uma possibilidade, assim que chegasse em casa mandaria uma mensagem para ela, a única comunicação que poderíamos ter.

Assim que entramos na sala de cinema, algumas pessoas já pediam para fazermos silêncio, por causa do barulho dos sapatos. Fiquei sentada entre Stefane e Marcos. O filme que ela tinha escolhido era "Fallen" e esperava que fosse tão bom quanto o livro, pois a história contava sobre uma garota que não conseguia se decidir entre dois caras, sendo um deles o amor da sua vida. Era clichê? Era, mas todo mundo adorava!

— Esse Daniel é um babaca por evitar o amor da sua vida. — Stefane sussurrou ao meu lado.

Fiquei em silêncio por alguns minutos, processando aquele nome. Agora eu percebia que o filme não tinha sido a opção certa.

— Esses adolescentes... — Marcos falou.

— E o que somos seu... Deixa pra lá! — disse Stefane de cara fechada.

— Ele está evitando esse amor para impedir que ela morra mais uma vez. É tão lindo. — Marcos dizia.

Olhei para ele incrédula. Esse filme lembrava muito bem da minha história com Daniel. Não poderia deixar que aquele bendito filme, afetasses meus sentimentos, agora.

— Você não entende mesmo de amor Marcos, ela só quer ficar com ele, independentemente do que aconteça. — Stefane falou.

Esperava realmente que os dois se entendessem naquela conversa, pois não pretendia mais participar.

— O que você está achando do filme Leica? — Marcos perguntava ignorando Stefane.

E agora precisava falar alguma coisa ou simplesmente ignorá-lo?!

— Já li o livro. O filme não é nada demais. — disse me levantando.

O filme tinha acabado. Marcos e Stefane caminhavam ao meu lado.

— Não deu tempo para comprar pipocas e refrigerantes. Aceitam um sorvete? — Marcos perguntou já dando de ombros.

— Pode ser. – falamos ao mesmo tempo.

Eu e Stefane ficamos encostadas na parede de um prédio, próximo do cinema, esperando ele voltar.

— Por que você não anda mais com Daniel? Sabe alguma noticia dele? — ela perguntou de repente.

Não sabia como explicar para ela, mas toda vida que eu a olhava, lembrava-se do pequeno caso que tivera com Daniel.

— Fiquei sabendo que ele saiu do país. — menti.

Mas aquela minha resposta, tinha um pouco de verdade, pois ele estava em um mundo bem diferente da nossa realidade. Marcos chegava com o sorvete.

Tomamos o sorvete e depois Marcos nos levou para casa. Na minha imaginação fértil, esperava que Marcos fosse se jogar para cima de mim, como muitos caras fazem, quando estão a fim, mas ele me surpreendera. Até falei que poderíamos marcar uma próxima vez, se eles quisessem. E Stefane não tinha sido uma má companhia, como ele achou que seria. Tinha me contado no caminho, depois que deixou ela primeiro em casa. Assim que entrei na minha, já fui logo pegando o celular no bolso da calça. Dora iria ter que me dizer o que ela queria, por mensagem, porque se fosse sobre Daniel, eu queria muito saber! Sem falar que estava morrendo de saudades, mas essa parte, ela não precisaria saber agora.