Verde

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Kara Danvers fechou o último botão de seu sobretudo e vestiu um cachecol antes de sair de casa. A noite em Nacional City estava bastante gelada e a jovem não queria arriscar pegar um resfriado, não quando a voz era seu instrumento de trabalho, ela era uma cantora afinal.

A loira amava cantar de agradecia aos céus por trabalhar com algo que a deixava feliz, mas ela não desejava fazer apenas isso para sempre. Não quando ela se imaginava trabalhando em um jornal desde pequena. Contudo, seus sonhos eram esmagados a todo o momento, porque, mesmo tendo um diploma, conseguido com excelentes notas, Kara tinha perdido diversas vagas de emprego para homens até menos qualificados que ela. Isso era profundamente desanimador e, a sensação de fracasso, por muitas vezes fez com que ela pensasse em desistir.

O dia de hoje era um desses dias. Kara tinha passado por mais uma entrevista frustrada e estava sem o mínimo ânimo para ir trabalhar, ainda mais porque Barry Allen, o amigo com quem ela dividia os palcos na casa de shows, estava de folga essa noite. Ela não tinha problemas para cantar sozinha, pelo menos não mais, no entanto a presença do rapaz tinha algo de tranquilizante e ele sempre conseguia deixar tudo mais divertido.

O semblante da loira sem dúvidas denunciava a sua insatisfação, pois assim que entrou pela porta dos fundos do "Refúgio Marciano", J'onn J'onzz, seu chefe, fez um sinal apontando para o próprio rosto e sorriu, incentivando Kara a fazer o mesmo. Ele costuma dizer que o mundo do entretenimento exige uma expressão feliz, porque o trabalho dos artistas é deixar as pessoas alegres ainda que seus sentimentos sejam completamente opostos a isso. Porém, embora ele repetisse sempre a mesma frase como uma um disco arranhado, o homem continuamente arranjava tempo para ouvir o que a afligia e, para todas as situações, parecia ter um conselho sábio. Kara não apenas o adorava, ela tinha por ele uma admiração profunda.

J'onn era dono do estabelecimento mais bem sucedido de toda Nacional City, mas o caminho que levou a casa de shows ao topo havia sido tudo menos fácil. Ele era um homem negro e por mais que as pessoas falassem que o cenário social estava mudando, o preconceito parece continuar vivo na sociedade, ainda que de escondido, como grãos de poeira embaixo do tapete. Muita gente tentou por várias vezes sabotar o que J'onn havia construído, mas ele não conhecia a palavra desistir. A loira almejava algum dia ser mais como ele.

– Boa noite – Kara disse para o homem, que a respondeu com a face ainda risonha – Não se preocupe – ela continuou – No palco eu serei o ser mais feliz que já caminhou pela Terra.

J'onn assentiu satisfeito e colocou um pedaço de bolo em cima da penteadeira que Kara usava para se arrumar, ele deixou camarim depois de dar um tapinha nas costas da jovem.

Kara então se sentou de frente para o espelho e deu uma garfada no bolo de chocolate, ela se sentiu melhor imediatamente, o açúcar era uma onda capaz de arrastar seus problemas para longe. A loira já tinha ouvido diversas críticas por gostar tanto de doces, ela perdeu as contas de quantas vezes ouviu que deveria maneirar no açúcar, caso contrário, engordaria e acabaria sem marido. A cantora ignorava tudo, porque tinha convicção que sua vida era muito mais do que viver em função de um casamento. Bem, era óbvio que ela também queria se apaixonar, mas isso não estava na sua lista de prioridades, ela esperava que isso acontecesse naturalmente. Em primeiro lugar, ela queria fazer coisas importantes, escrever matérias de capa, viajar pelo mundo e se ocupar com outros interesses diferentes de procurar por matrimônio.

No momento, porém, Kara tinha que passar maquiagem e se preparar para o show dessa noite, sexta-feira era o dia mais cheio da semana, a jovem se sentia como uma estrela toda vez que os aplausos abafavam sua voz.  Após se arrumar, ela fez alguns exercícios vocais até que uma das outras garotas que trabalhava no Refúgio a chamasse avisando que estava na hora de da loira subir ao palco. Kara se olhou mais uma vez no espelho conferindo se não tinha deixado o rosto cheio de manchas de pó compacto, essa não seria a primeira vez e provavelmente não seria a última.

When Their Eyes Met - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora