Arco-íris
Enquanto sentia minha alma descer por um túnel, eu dizia na mente "não, não, não." Aquele clichê não poderia estar acontecendo, não comigo que não sou fã dessas repetições. Mas do que adiantava? Ou melhor, o que eu poderia fazer? Eu estava apagada nos braços de alguém, ou já estava na maca. No final das costas eu nem sei mais onde fui parar.
Só sei que após sair do buraco escuro o céu era azul. Mas não de um azul comum. Era uma coisa meio cintilante e tão azul que fazia minhas vistas arder. Eu olho em volta procurando algo menos forte, e, acabo encontrando cores que me faz arfar. O famoso arco-íris. Eu sorri feliz por finalmente senti que eu estava sozinha, que deveria continuar e que mesmo sendo difícil no final ficaria tudo bem. Eu devia continuar aqui e...
- Líli? Você consegue me ouvir?
Ah não! Surgiu uma luz forte bem sobre as minhas pupilas, e em seguida eu enxergava o teto branco hospitalar.
- Oi, você acordou - a vovó estava bem ali olhando pra mim.
- Cede - murmuro.
Ela mais que depressa correu e trouxe um copo de plástico com canudo. Sentir a água fria em minha boca seca foi o mesmo que sentir a vida novamente.
- O doutor já vai passar, e com certeza ficará aliviado ao vê-la acordada.
Apenas concordei levemente. Percebo que eu não estava muito bem pelo sorriso fraco da vovó. Ela fica olhando através da janela com um olhar vago, engole em seco toda vez que me vê encarando-a, e fica fungando. Certeza que tinha algo errado.
Acordo horas mais tarde com uma leve picada no braço. Adivinha só? Estavam me furando outra vez.
- Eu vou fazer algumas perguntas, se a resposta for sim; aperta a mão da sua avó. Se for não, então fique quieta. Entendeu? - o doutor de meia idade perguntou, então apertei a mão da vovó e ela transmitiu a mensagem. - Sente alguma dor?
Aperto a mão da vó.
- Sabe o que aconteceu?
Aperto de mão.
- Sente dor no corpo?
Novamente aperto sua mão.
- Escuta Líli. Temos uma batalha para travar, e você tem que ser bem forte e corajosa para vencê-la. Você confia em Deus? Porque sinceramente, você precisará totalmente da ajuda dele.
Dito isso ele segura a minha mão e me olha com compaixão. Eu tentei de todas as formas apenas me segurar em "forte e corajosa". Mas isso não durou por muito tempo, a bomba simplesmente estourou.
- Querida, o seu diagnostico constou câncer no sangue. Você está leucêmica por muito tempo, me impressiona nunca ter sintomas antes - dou de ombros enquanto ele permanece em silêncio.
- E agora? - digo com um pouco de dificuldade.
- Vamos transferi-la para capital, lá você terá melhor atendimento e médicos especialistas dessa doença. E a parte boa é que você não precisa se preocupar, porque vai ficar tudo bem.
Dessa vez eu não consegui acreditar nas palavras. Isso me trouxe um mar de dor, amargura e medo. Eu não pude deixar de perguntar o que estava acontecendo, ou, como eu entrei para esse pesadelo. Sério, essa doença nunca esteve em mim antes. Como é que chegamos aqui?
O médico estava vagando entre: você esta mal e você vai ficar bem. De onde Jesus estava vendo essa situação? Porque confiar nele é fácil quando esta tudo bem, mas agora, eu sei lá... Como eu poderia lutar sendo que não tenho força nem para levantar daqui?
Não disse nada, absolutamente nada. A vovó se encontra inconsolável e eu nem posso olhar para ela. É de mais pra mim.
"Deus meu, Deus meu, por que me desamparastes? Por que te alongas do meu auxílio e das palavras de meu bramido?"*.
*retirado do livro de Salmos 22:1
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Encontro Com Ele
Spiritual"Tudo está ligado à um propósito único e singular." Você já se encontrou com alguém? Se sim. Como foi a experiência? Imagino que seja incrível quando ficamos junto de pessoas que amamos. Mesmo que depois fique chato, e que a gente queira se esquecer...