10. Gêmeos

176 35 17
                                    

Não foi novidade acordar me sentindo diferente. Já sabia que o Universo havia mudado completamente a minha personalidade e eu era uma Julia nova naquela semana. Só não tinha certeza de qual Julia eu seria.

Peguei meu celular e já fui fazer minha higiene, checando as notificações das redes sociais e me atualizando sobre um assunto e outro. Nada que fosse muito importante e que já não soubesse, como as fofocas sobre a festa de Carolina que haviam acontecido há dois dias.

Quando desci para o café da manhã, minha família já finalizava sua própria refeição e não se incomodaram em notar minha presença atrasada para aquele evento que era a reunião dos Silva. Por isso me servi de leite e passei a beber enquanto digitava no celular uma mensagem para os meus amigos.

Eu: Bom dia, pessoal. Já me sinto diferente.

Carol: Seria um milagre você mandando mensagem a essa hora?

Lola: Qual o signo?

Eu: Não entendo de signos, Lola. Pelo menos os que ainda não vivi.

Gui: Eu acho que ela tá em...

- Julia Silva! - A voz do meu pai foi ouvida em alto e bom som, fazendo toda a mesa se calar e eu largar meu celular em cima da mesa. - Não está me ouvindo?

- Desculpa, pai. O que disse? - Pressionei os lábios, me sentindo culpada por ter mexido no celular enquanto poderia ter interagido com eles. Meu pai tinha razão em elevar a voz comigo.

- Não importa. - Balançou a mão na minha direção.

- Vamos indo? - Minha mãe sugeriu, salvando-nos daquele momento constrangedor.

Não demorou nada para que eu e meus irmãos estivéssemos do lado de fora do apartamento, embaraçados pela elevação do meu pai.

- Nossa, o que aconteceu para o papai estar tão nervoso? - Tuti quis saber, arrumando seu cabelos no espelho do elevador.

- Acho que eu ter mexido no celular ao invés de dar atenção para vocês foi o bastante para tirar ele do sério. - Desatei a falar, guardando o celular no bolso e um pouco traumatizada depois da cena que meu pai havia feito.

- Acho que não, Ju. - Davi interviu, o mais sensato de nós três. - Mãe, tem alguma coisa acontecendo?

Minha mãe ficou nos olhando por um momento, os lábios pressionados enquanto ponderava se deveria compartilhar com os filhos o que rondava seus pensamentos.

- Não se preocupem com isso.

As portas do elevador se abriram e nós fomos obrigados a esquecer o que havia acontecido. Se fosse o momento de sabermos, minha mãe teria contado, mas aquele era um assunto que só dizia respeito aos dois adultos.

No caminho para o colégio, deixei que Tuti fosse no banco da frente ao lado de minha mãe e sentei atrás com o meu irmão. O garoto mexeu no celular a princípio enquanto eu mordia a unha do polegar, mas logo que a melodia das caixas de som tomou o carro, ele resolveu me abordar.

- E então, como se sente? - Ele tinha a expressão ansiosa.

- Eu não entendo de signos, né Davi. Então não tenho certeza de que signo estou. Mas logo que chegarmos tenho certeza que nossos amigos terão uma opinião sobre isso.

Davi concordou, meneando com a cabeça e voltando a se sentar ereto. Quando eu julguei ser o melhor momento parar não pensar mais sobre a situação dos meus pais e pegar meu celular para me distrair, o carro estacionou em frente ao colégio.

Me despedi de minha mãe e Tuti com beijos no rosto, e me apressei para entrar no colégio. Estava muito ansiosa para encontrar meus amigos, para saber suas teorias sobre o signo da semana e para lidar mais uma semana com ele.

Não Acredito Em SignosOnde histórias criam vida. Descubra agora