41. Aquário

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É claro que meus pais não ficaram felizes com a advertência. Por mais que eu tivesse tido uma atitude nobre, eles acharam que eu deveria ter ficado calada naquele momento e agora eu estava emburrada e contrariada em meu quarto, de castigo.

Eu: Não vou poder sair.

Enviei a mensagem no grupo onde estavam meus amigos e sem demora eles passaram a digitar freneticamente.

Carol: Não acredito. Você contou tudo à eles?

Gui: Sinto muito, Ju.

Lola se limitou a enviar um ícone triste.

Eu: Expliquei, mas não adiantou.

Carol: Que droga. O que eles tiraram?

Eu: Só não posso sair por um tempo. Não sei, não perguntei os detalhes.

Lola: Pelo menos ainda pode ter o celular.

Eu: Se eu tivesse sido suspensa, provavelmente estaria sem ele.

Gui: Poderia ter sido pior...

Eu: Mas eu vou dar um jeito, não se preocupem.

Carol: Mas você não disse que não ia poder sair?

Eu: Sim, não vou poder sair com a autorização deles. Vou dar um jeito de sair escondida.

Carol: Como? Vai pular a janela do seu prédio?

Eu: Vocês vão ver...





Como tinha apenas mais um dia de aula, fiquei tranquila com a minha nova rotina que se limitava a levantar, ir para o colégio e voltar para a casa. Não estava autorizada a trazer meus amigos ou meu namorado para a casa, nem mesmo com a desculpa de que eram amigos de Davi também, o que fez o garoto ir na casa da namorada na sexta feira.

No sábado havíamos combinado de nos encontrarmos na Sé, onde seguiríamos até uma sessão de cinema de terror ao ar livre. Fora prometido que, como o Vale do Anhangabaú era próximo dali, nós assistiríamos Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo, perdendo O Massacre da Serra Elétrica e The Poughkeepsie Tapes para ver a Gretchen e a Valesca Popozuda a tempo.

Passei o dia todo dentro do quarto, sem sair para comer e ouvi uma movimentação do lado de fora. Não queria abrir para ver o que era, porque estava ocupada demais tramando um plano. Davi, apesar de saber de tudo, resolveu não me incomodar também. Para todos os efeitos, o garoto sairia sem mim, então era melhor que mantivéssemos distância.

Quando quatro horas bateram no relógio, eu resolvi colocar o rosto para fora do quarto e encontrei apenas o silêncio. Decidi me aventurar, sair do quarto toda arrumada e com uma bolsa a tiracolo. Davi esperaria por mim no portão em frente ao nosso prédio e eu só tinha que ser esperta o bastante para sair sem que meus pais vissem.

Passei a andar na ponta dos pés e espiei primeiro na cozinha, encontrando-na completamente vazia, iluminada apenas pela luz do sol. Quando ia me virar para checar a sala senti uma mão firme em meu ombro, me fazendo congelar no lugar. Respirei fundo e fechei os olhos sabendo que estaria tudo perdido.

Mas assim que virei, encontrei a expressão divertida do meu irmão mais velho.

- Caramba, Tuti! Que susto! - Coloquei a mão no peito, sentindo alívio enquanto meu coração começava a desacelerar. - Onde estão nossos pais?

- Foram na casa dos nossos tios e eu fiquei como responsável, mas não se preocupe, eles vão beber vinho e voltar cansados demais para notar quantos filhos estão na cama. - Piscou, indo se sentar no sofá.

Acompanhei o garoto, ainda sem entender suas atitudes.

- OK. E por que está tão leve e feliz e não me ameaçando para guardar esse segredo? - Ergui uma sobrancelha, cruzando os braços.

Não Acredito Em SignosOnde histórias criam vida. Descubra agora