13. Gêmeos

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Quando voltamos pra sala, não consegui pensar em mais nada a não ser resolver de uma vez - mais uma vez - as questões com Lucas. Enquanto o professor passava a matéria, tratei de pegar meu celular e o coloquei embaixo da mesa para não correr o risco dele ver se virasse para os alunos.

Eu: Lucas, que merda você tá fazendo?

Esperei uns minutos pela sua resposta enquanto mordiscava minha unha do polegar e ela não demorou a chegar. Não me atrevi a olhar na sua direção.

Lixo: O que você quer, Julia? Já não foi o bastante o estrago na minha amizade com Thomás?

Não conseguia acreditar que estava lendo aquilo. Passei a digitar freneticamente.

Eu: Você não pode tá falando sério MESMO. Você não consegue ser mais cínico que isso, Lucas. Você não consegue ver a manipulação que você criou na sua cabeça e passou pra todo mundo, esse mundo fantasioso que você criou. Gostaria que você me explicas...

- Julia Silva. - A voz grave do professor se fez ouvir ao meu lado e eu me sobressaltei, encontrando os olhares de todos os alunos em mim. - Vou pedir que você vá para a sala da coordenação. Sabe que é proibido o uso do celular em sala de aula.

Eu abri minha boca, pronta pra discutir, mas sabia que de nada adiantaria. Me levantei vendo do outro lado da sala o sorriso esperto pintado nos lábios de Lucas.

- Se eu vou, então o Lucas também vai. - Apontei para o garoto, erguendo o celular na frente do professor para ele ver com quem eu falava.

Apesar do nome estar como "Lixo", a foto de Lucas ainda estava ali.

- Muito bem. Vão os dois então. - O professor disse com exaustão e o garoto se levantou com raiva, passando por mim como um foguete.

Antes de sair pude ver a expressão confusa e magoada no rosto de Thomás. Eu teria muito o que explicar para ele.

Quando alcancei a sala da coordenadora, Lucas já estava sentado e eu me sentei ao seu lado. Carla ainda não estava em sua mesa e o silêncio prevaleceu por alguns segundos naquela sala. Eu ainda tinha o que falar com ele.

- Lucas, você precisa começar a agir como um adulto. Parece que você é um menino mimado de cinco anos de idade. - O garoto revirou os olhos, os braços ainda cruzados no peito. - Olha aí! É sobre isso que eu estou falando.

- Então é isso? Sua mensagem era para ser um sermão, mamãe? - Ele não tinha coragem de me olhar. Se o fizesse, sabia que baixaria a guarda.

- Escuta, você não precisa falar nada. Você está tendo umas atitudes escrotas desde que eu dei um fora em você e agora está atingindo o Thomás. O que o garoto tem a ver com tudo isso? - Ele ia começar a falar e eu ergui a mão, encontrando seu olhar agora. Lucas estava disposto a ouvir tudo o que eu tinha pra dizer. - Que merda é essa de não poder pegar mulher de amigo? Você já deu mancada com diversos amigos seus que estão contra o Thomás agora e que ficariam contentes de serem lembrados. Tenho certeza de que eles adorariam ficar do lado de Tom. - Ergui as sobrancelhas e o garoto pressionou os lábios, parecendo pensar sobre o que eu havia dito. - O que aconteceu entre eu e o Thomás foi natural. Ninguém estava planejando nada, só aconteceu. A gente só queria um pouco de paz pra engatar o que quer que for esse envolvimento que a gente ainda está descobrindo. Você transou com todas as garotas desse colégio e quando uma delas te recusa você fica desse jeito? Percebe o quão infantil você está sendo? Acha que quando você for pra faculdade vai ser assim? Já te digo que não vai. Não ache que o Arthur saiu daqui tão garanhão quanto você e já entrou com a mesma fama. Lá na faculdade ele leva muito não, pelo que eu sei. - O garoto abriu um sorriso malicioso e eu apontei o dedo pra ele, cerrando os olhos na sua direção. - E se você abrir a boca pra alguém sobre isso, acabo com a sua vida.

Não Acredito Em SignosOnde histórias criam vida. Descubra agora