20. Leão

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Acordar no dia seguinte me sentindo confiante me fez perceber que eu finalmente havia saído de Câncer.

A primeira coisa que fiz, enquanto caminhava para o banheiro, foi abrir o aplicativo de mensagens e mandar um bom dia animado aos meus amigos. Deixei aberto enquanto fazia minha higiene e me preparava para mais um dia cansativo de provas.

Quando satisfeita com a minha aparência, verifiquei suas respostas. Lola havia mandado um ícone sorrindo, como era esperado da garota. Já meus amigos pareciam eufóricos:

Carol: Não acredito que é só o segundo dia da semana de provas.

Carol completou a frase com alguns ícones irritados.

Gui: Para de reclamar, Carolina.

E depois se seguiu uma discussão entre meus amigos, mas nenhum deles pareceu notar minha interação no grupo.

Engoli em seco e bloqueei o celular, guardando-o no bolso da calça e indo até a mesa do café. Já estavam todo reunidos, inclusive Tuti em roupas formais.

Franzi o cenho enquanto começava a me servir do café disposto ali na mesa.

- Onde vai todo engomadinho? - Provoquei.

- Julia... - Minha mãe repreendeu.

- O quê? - Ergui as sobrancelhas na direção de dona Alessandra.

- Não, tudo bem. - Tuti acenou para que minha mãe não respondesse. - Tenho minha primeira entrevista de emprego hoje.

Fiz uma expressão impressionada e dei minha primeira mordida na torrada.

- Parabéns, Tuti. Parece que agora vai crescer. - Pisquei pra ele.

- Muito bem, família. Estou indo trabalhar. - Meu pai interrompeu o que poderia ser o início de uma discussão.

Depois de beijar os lábios de minha mãe e acenar para os filhos, ele se foi. Parecia feliz com o rumo que sua vida estava tomando e tinha orgulho do que fazia. Eu também me orgulhava dele.





Quando estávamos em semana de provas, raramente conseguíamos um tempo livre para conversar. Naturalmente, meus amigos e até mesmo meu irmão se esqueceram completamente que eu era um experimento do Universo e focaram única e exclusivamente em estudar para as provas. Eu até tentava me focar, mas quando dava por mim já estava atualizando minhas redes sociais com novas fotos, publicações diversas e até interagindo em grupos de mensagens. Mesmo assim acreditava que iria bem naquelas provas, afinal eu tinha revisado a matéria uma vez e acreditava ser o bastante já que eu sempre fui muito inteligente.

Passei a ignorar meus amigos enquanto combinavam de comemorar o fim das provas na sexta feira com uma reunião na casa do Gui. Se eles não tinham tempo para se lembrar de mim, então eu não tinha tempo para me reunir com eles.

Quanto ao Thomás, não cheguei a conversar com ele e também não senti sua aproximação. Não estava preocupada em lhe lançar olhares durante as provas e, como os professores indicavam nossos assentos, eu ficara longe o bastante para que não o fizesse. Nunca mais recebi mensagens suas, nem sequer curtidas nas fotos. Acreditava até que ele havia me retirado das suas redes sociais.

Na quinta feira, Davi havia trazido seu amigo Matheus para estudarem juntos. Nós tivemos que ir de ônibus para casa já que minha mãe havia ficado atolada com o trabalho e não podia sair para nos buscar.

Normalmente eu ficaria incomodada com os olhares de um garoto dentro do ônibus, mas Matheus era atraente além de ser o amigo do meu irmão e aquilo era o bastante para eu confiar que ele não era uma pessoa ruim.

Não Acredito Em SignosOnde histórias criam vida. Descubra agora