44. Peixes

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- Eu não sou sonsa, Davi. - Reclamei enquanto o puxava para dentro de casa. - Você sabe que a culpa é do meu signo. - Sussurrei pra ele, envolvendo seu braço com o meu. - Eu não vi maldade nele, OK?

- É por isso que eu queria ir atrás e dar um belo soco na cara dele. - Meu irmão rangia os dentes de tal modo que era possível ouvir em outro cômodo da casa.

- Não ia adiantar de nada. Violência só gera violência! - Ergui as sobrancelhas na sua direção, acariciando seu braço para que se acalmasse.

Eu faria o caminho da porta até a cozinha para terminarmos o serviço, mas ele impediu que continuássemos e eu o olhei confusa. Davi encarava Lucas no nosso sofá completamente sozinho enquanto este sorria e digitava freneticamente em seu celular.

- Vamos. - Puxei meu irmão, mas ele não se moveu.

Sabia que Davi estava vivendo sob uma carga pesada demais para alguém da sua idade e aquilo estava levando-o ao limite. Eu tinha que zelar por ele, como ele sempre fez comigo, mas sem que ultrapassássemos os limites - como havíamos feito antes. Naquele momento ele só queria arrumar confusão com qualquer babaca que havia machucado pessoas próximas dele, sabia disso, mas não o levaria à um lugar diferente do arrependimento.

- Onde tá o Arthur? - Ele perguntou, se desvencilhando do meu braço com cuidado.

Lucas ergueu seu olhar, primeiro se virou na minha direção com um sorrio esperto, como se tivesse a minha vida em suas mãos. Decidi não acatar à sua provocação e então ele se virou para Davi, quase decepcionado por eu não me incomodar.

- Tá no banheiro. - Lucas deu de ombros, voltando a se recostar no sofá.

Davi semicerrou os olhos na sua direção e eu o puxei, dessa vez conseguindo arrastá-lo para a cozinha.

- Não vale a pena. - Disse, voltando a secar a louça.

- Eu sei. - Murmurou, terminando de enxaguar a louça que ainda restava na pia. - Não suporto mais esses otários. Eles não nos deixam em paz. - Houve uma pausa enquanto ele balançava a cabeça em negação. - Tá na cara que ele tá usando o Tuti pra te afetar de alguma forma.

- Se ele tá mesmo fazendo isso, te garanto que não tá adiantando de nada. - Pisquei pra ele, guardando os copos no armário. - Para de se deixar afetar e ele vai parar de nos perseguir, é simples. - Dei de ombros.

- É difícil. Eu tô no limite da minha paciência. - Bufou, secando as mãos e terminando de secar a pia.

- Eu entendo. - Suspirei, terminando de guardar os talheres. - Por isso que nós vamos ficar no meu quarto hoje, assistindo séries e comendo pipoca.

- Já disse que você é a melhor irmã do mundo? - Davi abriu um enorme sorriso e se aproximou, me abraçando de lado.

Ri da sua pergunta e deixei de lado o que fazia para poder abraçá-lo de frente fortemente.

- Hoje? Ainda não. - Me afastei para olhá-lo. - Mas agradeço. Agora vamos esquecer dos nossos problemas e sermos adolescentes por uma tarde.





Havíamos passado a tarde toda em meu quarto, como o prometido, e nem percebemos a hora passar - ou Lucas ir embora. Para a nossa sorte, ele não havia feito questão de se despedir - ou talvez quisesse e Tuti o impediu, mas isso nós nunca saberíamos.

Davi deveria ter desabafado com a namorada, porque ela comentou no nosso grupo quase próximo da hora de dormir e Carol me encheu de perguntas. Disse à eles o que tinha acontecido através de um áudio e a reação deles não foi diferente da reação do meu irmão mais novo. Eles tinham todo o direito de ficarem irritados, entendia perfeitamente o porquê de estarem, eu também estava, mas não valia a pena.

Não Acredito Em SignosOnde histórias criam vida. Descubra agora