43. Peixes

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Apesar da preocupação dos meus pais, garanti que tudo estava sob controle e mostrei à eles o ferimento já quase completamente curado. Tive que alterar a história e, ao invés de uma taça, eu havia derrubado um copo. Eles não precisavam se chatear ainda mais.

No dia seguinte não havia acordado disposta e decidi faltar. Minha família sabia que precisaria de um dia para mim ou acabaria tendo uma crise de choro no colégio. Todos nós precisávamos de um tempo e cada um teria o seu, no seu momento, mas, sabendo como eu era apegada na vovó, decidiram que estava tudo bem se eu ficasse um dia em casa.

Acordei quase perto da hora do almoço, resolvendo fazer algo para quando Davi e Tuti chegassem. Era estranho pensar que na semana que vem não teríamos mais a companhia de Tuti, mesmo que sempre almoçássemos apenas eu e Davi com frequência, sabíamos que nosso irmão mais velho estava sempre no quarto.

A sensação de vazio me dominou enquanto arrumava a cozinha do almoço. Mesmo que não fosse tão próxima de Tuti, era como se eu o perdesse. Sabia que estava vulnerável e qualquer distanciamento de um dos meus familiares ou amigos me faria ter uma crise de choro como a que eu tive enquanto secava a louça que Davi estava lavando.

- Ju? - Davi franziu o cenho, desligando a torneira e se aproximando de mim. - Julia, o que foi? O que aconteceu? Não chora.

O mais novo secou as mãos no pano de prato em minhas mãos, deixou-o de lado e me abraçou para si, tentando fazer com que eu me acalmasse. A verdade é que o colo do meu irmão sempre me acalmava e eu me recuperei o bastante para conseguir explicar para ele o que estava sentindo verdadeiramente.

- Essa dor vai passar algum dia? - Disse entre soluços enquanto secava as lágrimas. - Eu me sinto tão culpada por não ter estado com ela o bastante, sabe? Por não ter apresentado Thomás para ela. Davi, a vovó queria muito conhecê-lo e eu poderia ter dado isso à ela no fim de semana, mas estava preocupada em me curar da ressaca. - Engoli em seco, respirando fundo e tomando um gole da água que meu irmão estava me dando. - Eu quase não fui ao almoço. Você já imaginou?

- Julia, se acalma. - Davi tocou meus braços e acariciou. - A vovó queria conhecer o Thomás, mas no fundo ela já conhecia pelas conversas que vocês tinham. Agora ela o conhece, de onde é que ela estiver, e sei que está muito feliz por vocês.

- Uau! - Ri baixo, fungando enquanto deixava o copo de lado. - Se o meu luto fará você gostar de Thomás, então já estou mais feliz.

- Não é pra tanto. - Ele revirou os olhos. - Eu só percebi quem é o vilão dessa história e não é ele.

- O que quer dizer com isso? - Franzi o cenho.

O interfone tocou no momento em que ele iria responder, fazendo com que trocássemos um olhar em confusão. Nós três estávamos dentro de casa, nossos pais estavam trabalhando e tinham a chave caso quisessem voltar.

Davi caminhou até o interfone, mas meu irmão mais velho o alcançou antes, fazendo o outro me olhar e dar de ombros, sem entender sua atitude.

- Oi? Sim. Pode subir. - Tuti abriu um enorme sorriso e colocou o interfone no lugar.

- É a Laura? - Abri um sorriso de lado, me recostando na pia.

- Não. É o Lucas. - Tuti falou com naturalidade.

- O quê? Arthur, por que esse cara tá aqui? - Davi perguntou enquanto íamos atrás dele.

- Porque ele é meu amigo e está aqui para me dar uma força durante o meu luto. - Respondeu, dando de ombros e abrindo a porta.

- Por que será que eu não acredito nem um pouco que essas são as intenções dele? - Meu irmão mais novo cruzou os braços, erguendo uma sobrancelha.

Não Acredito Em SignosOnde histórias criam vida. Descubra agora