Jogada arriscada

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     Ele deixou eu ficar em seu colo, até me sentir melhor. Eu enxuguei as lágrimas e me levantei.
     _ Preciso lavar o rosto.
     Eu tinha que recuperar a dignidade. Ele continuou sentado na cama. Eu sentei ao lado dele e o abracei. Voltando a apoiar a cabeça em seu ombro.
      _ Vou aproveitar que está sendo gentil.
      Ele riu.
      _ Me conta o que aconteceu.
      _ Fui na casa da esposa do cara. Não fui sozinha. Fui com os policiais. Encontramos ela escondida no porão. _ Eu não queria pensar naquilo. _ Encontrei sangue de lobisomem em um pote de vidro. Durante o tempo que foram escravizados, tentaram se rebelar tomando sangue. Em busca da força deles, sem precisar se transformar. Mas, parece que as bruxas fizeram um ritual de magia negra. Sacrificando crianças. E amaldiçoaram o sangue. Além da força, vieram outras características dos lobisomens. Quando estão fora de controle. Inclusive a fome por carne crua. Eles comeram o próprio filho.
       Eu ia desabar de novo. Ele segurou meu rosto entre as mãos. E com os polegares, enxugou as lágrimas. Me acalmei. Respirei fundo.
       _ Nos culpam por não estarmos lá para defendê-los.
        _ Não é culpa nossa. Eles escolheram fazer algo insano para obter poder. Se tornaram monstros piores do que os que tentaram evitar. Você deve ter ficado chocada.
       _ Ela disse que gostou de comer o filho e queria comer meu coração! Reagi no impulso. Ela ia me morder.
       Drogo me abraçou. Deslizando a mão nas minhas costas. Para me acalmar. Enquanto segurava meu rosto com a outra. Enquanto ia relaxando, outra coisa ia surgindo. Eu senti o cheiro dele. Seu corpo forte, ao qual eu estava abraçada. O pescoço dele estava logo ali. Com a cabeça apoiada em seu ombro, eu só precisava me aproximar um pouco. E poderia beber seu sangue doce.
       _ Drogo!
       Minha voz saiu rouca e baixa. Tenho certeza que ele percebeu o desejo contido nela. Parou de deslizar a mão nas minhas costas. Senti seu corpo enrijecer.
       _ É melhor você sair. Ou vou acabar beijando você!
       Eu levantei a cabeça para olhar para ele. Minha respiração já estava alterada. Meu coração batia forte. Ele não se mexeu nem um centímetro. Eu sentei no colo dele, de frente para ele. Segurei seu rosto entre as mãos e o beijei. Afaguei seu cabelo, enrolando meus dedos e puxando seu cabelo. Ele gemeu e eu enfiei a língua em sua boca. Era ainda melhor do que eu imaginava. Quando ele finalmente cedeu e senti sua língua me invadindo, foi minha vez de gemer. Deslizei a outra mão por seu braço forte. Ele deslizou as mãos pelas minhas costas, cintura, até as coxas. Que ele apertou. Afastei um pouco para beijar seu pescoço. Eu queria provar seu sangue de novo. Mas, ele recuou quando eu beijei seu pescoço.
       _ Não!_ ele falou. _ Desculpe! Não posso!...
      Ele me tirou do seu colo e saiu do quarto. Fiquei parada sem saber como interpretar aquilo. Ele estava aceitando. Mas, no fim, acabou me rejeitando. Eu abracei a mim, mesma e deixei as lágrimas rolarem. Talvez eu não fosse tão atraente quanto ela. Talvez eu não beijasse bem, como ela. Eu tive minha chance. E ele não sentiu desejo por mim. Agora quem estava com o ego ferido era eu. "Use seu charme de vampira". Eu usei. E fui rejeitada por um vampiro que gosta de humanas. Talvez esse fosse o problema. Ele devia gostar de uma pele quente. Sangue quente. Não da pele e sangue frios, de uma vampira. Dessa vez, Viktor errou. Eu não era a garota certa para ele. Se não fosse pelos bebês e toda a confusão dos humanos, eu arrumaria as coisas e iria embora. "Você é menos interessante que uma humana. Que bela aura de vampira você tem". Eu disse a mim mesma. Escondi o rosto nas mãos e chorei. Depois deitei na cama e abafei o choro no travesseiro.

*****

     Esperei todos saírem para a faculdade, para sair do quarto e ir olhar os bebês. Aproveitei para tomar um pouco de sangue. Aplacar a sede que eu tinha por Drogo. Era humilhante. Mesmo o magoando, ela ainda era melhor que eu, para ele. Liguei para Sabrina. Precisava desabafar. Os bebês estavam quietinhos. Balancei um brinquedinho na frente deles. Eles estenderam as mãozinhas, para pegar.
       _ Oi, tudo bem Luísa?
       _ Não! Está tudo errado. Os humanos enlouquesceram, Drogo me rejeitou estou me sentindo um lixo.
       _ Rejeitou? Então, você tentou alguma coisa.
       _ Eu beijei ele.
       _ Uau, garota de atitude. Como ele reagiu?
       _ Até chegou a corresponder, mas, depois recuou.
       _ Se correspondeu é porquê gostou.
       _ Foi pena! Eu chorei no colo dele.
       _ Porque?
       _ Os humanos estão tomando sangue de lobisomem e ficando loucos. Fizeram isso enquanto eram escravos. Tentando uma rebelião. As bruxas amaldiçoaram o sangue. Agora eles estão agindo como se fosse lua cheia, mesmo sem se tornar lobisomem. Um casal comeu o próprio filho.
       _ Que horror!... Vão precisar de ajuda?
       _ Por enquanto não!... Vamos eliminar os que tomaram. Antes que a situação saia de controle.
       _ Essa cidade sempre acontece alguma coisa. Por isso tem esse nome... Ei, não fica chateada. Não quer dizer que ele não sentiu nada. Talvez, apenas não seja o momento. Ele deve estar pensando na ex.
        _ Não importa. Eu vou cuidar dos bebês e resolver o problema com os humanos. Eu já tentei. Não deu certo. Não vou insistir.
         _ Você sabe o que é melhor. Confio em você amiga. Se precisar eu estou aqui.
         _ Obrigada!... tchau!
         _ Tchau!
         Fiquei olhando os gêmeos. Eles estavam tentando segurar a mãozinha um do outro.
         _ Vocês tem um ao outro. Vão ser bem unidos quando crescerem. Só espero não mima-los de mais.
          Cuidando deles, eu esqueci um pouco, da confusão que estava minha mente. Brinquei com eles. Troquei fralda. Dei banho. Alimentei. Coloquei para dormir. E dormi junto.
          _ Luísa.
          Acordei assustada.
          _ O quê? O que houve?
          _ Nada. Só queria saber se está tudo bem. Já soubemos o que houve com os humanos.
           _ Ah, eu... Está tudo bem Lívia. Desculpe, eu acabei dormindo.
          _ Não tem porquê se desculpar. Você está me ajudando muito. Deve estar cansada e esgotada psicologicamente pelo que viu dos humanos. Descanse um pouco. Nós vamos falar com a polícia.
         _ Não!_ acabei gritando. _ Eu... Não quero ficar em casa.
        _ Aconteceu alguma coisa além dos humanos?
         Com todo mundo olhando não dava para contar. Vi Drogo, mas, desviei o olhar rápido.
          _ Eu preciso respirar um pouco. Eu já comecei. Vou até o fim nesse caso com a polícia.
          _ Tem certeza?
         _ Tenho. Eu nunca devia ter surtado. Abaixei a guarda e... Prometo que se ficar difícil e eu quiser chorar, vou respirar fundo e aguentar.
         _ Ei, você não tem que aguentar. Pode contar com a gente.
         _ Não quero ser um peso.
         _ Você não é!... É nossa amiga. Lutamos juntas na guerra. Você salvou minha vida! Natasha acertou minha barriga. Podia ter ferido meus bebês. Ela queria me matar. Eu sempre serei grata à você por ter me protegido.
          _ Matando a garota do Drogo.
          Silêncio mortal.
          _ É, eu sei. Era ela ou eu. De todo jeito alguém ia sair magoado. Eu sei o que é matar alguém e causar problemas com isso. Foi assim que começou. Você precisa se perdoar.
          _ Você se perdoou Lívia?
          _ Eu não me lembro de ter matado. Não há o quê perdoar.
           _ Isso começou comigo. _ disse Nicolae. _ Meu erro, resultou na ação da Lívia, que desencandeou a sua reação. Ficou no passado. Está perdoado. Esqueça que matou Natasha. Eu agradeço por ter protegido a Lívia.
         Eu sorri para o casal fofo.
         _ Obrigada! Mas, eu não preciso me perdoar. Eu faria tudo de novo. Porquê eu nunca vou colocar uma vida humana acima de um Bartholy. Acima de um vampiro. Não se preocupem. Eu estou bem. Não vou fraquejar de novo!
        _ O que aconteceu, Luísa? _ Lívia perguntou.
        Devia ser visível que eu não estava bem.
         Nicolae colocou a mão no ombro dela. Pareceu rolar algum tipo de comunicação. Ela ficou corada.
         _ Está certo. Ligue se precisar de ajuda. _ ela disse.
         Eu me levantei. Sem falar mais nada eu saí. Fui andando até a delegacia. Os policiais estavam exaltados, interrogando algumas pessoas.
        _ O que está acontecendo?
        _ Oi. Que bom que chegou. Estamos procurando quem mais bebeu. Então, vamos interrogar todos daquela região.
         _ Eu vou ajudar.
         Fiquei no meio da delegacia. Não me importava de descontar a frustração nos humanos.
         _ Quem aqui tomou sangue de lobisomem? Confesse agora, ou vou forçar falar.
          Eles ficaram me encarando. Eu respirei fundo. Bem devagar. Usei meu dom. Controlando o ar ao redor. Bloqueei o ar no pulmão deles. Sem conseguir respirar, começaram a sufocar. Segurei até o limite. Depois liberei.
         _ E então?
         Eles tossiam tentando recuperar o fôlego.
         _ Quem bebeu?_ perguntei de novo.
          Um deles pediu papel e caneta com gestos. Todos me olhavam assustados. O rapaz escreveu e entregou aos policiais.
        _ Temos um acordo. Vocês dão sangue em troca de proteção. Vamos fazer isso. Mas, lembre-se. Se a ameaça for um humano. Não temos opção a não ser eliminar. Essas pessoas são perigosas. Capazes de matar a própria família. Se tentarem protegê-los vão condenar a si mesmos. Cooperem. É pelo seu próprio bem.
          _ Nós somos testemunhas do que fizeram. _ disseram os policiais. _ Os vampiros estão nos protegendo. Vamos cooperar.
          _ Não me obrigue a usar a força de novo. _ eu disse.
          Logo tínhamos vários nomes para investigar. E eu poderia não pensar em Drogo, por um tempo. Sacrifiquei outra peça. Acho que podia considerar que foi uma torre. Ainda valia a pena jogar?
         
      
     

 
     

Is It Love? Drogo - Uma segunda chanceOnde histórias criam vida. Descubra agora