Saber perder

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     Viktor levou o livro com ele. Sei que percebeu minha mudança de humor, quando eu voltei para o carro. Eu não queria ser a garota que impõe seus sentimentos, como se o rapaz fosse obrigado a corresponder. Ele deixou claro que não sente o mesmo. Mas, a ficha só caiu naquele momento! E doía! Como eu poderia disfarçar?
      _ Está tudo bem, Luísa?
      Respirei fundo.
      _ Sim. Só não quero voltar naquele lugar outra vez.
      _ Você está muito abalada. Pensei que se sentiria segura com o Drogo.
      Eu não respondi.
      _ Depois das ilusões que ela viu, é normal ficar abalada. _ Drogo me defendeu.
      _ É só isso mesmo?
      Eu não respondi. Apenas liguei o som e coloquei a música "Try" da Pink, para tocar. Porquê era assim que eu me sentia naquele momento. Como era difícil amar sem ser correspondida. Eu queria chorar. Mas, não na frente deles. Acelerei o carro e cheguei na mansão em tempo record. Dessa vez eu não podia me apoiar no Drogo.
      _ Boa viagem. Espero que encontre a resposta.
      Eu abracei ele, para me despedir. Ele me apertou tão forte, que até parecia saber como eu me sentia e que precisava de um abraço. Me segurei para não chorar.
      _ Vai ficar tudo bem.
      Eu não respondi. Apenas subi para o quarto e fui direto para o banheiro. Liguei o chuveiro para abafar o som de choro. Sempre odiei ser tão sensível. Meus pais viviam brigando. E eu tinha medo que eles se separassem e eu tivesse que escolher com qual deles ia morar. Eu prometi a mim mesma, que não faria isso com meus filhos. Eu teria um casamento tranquilo e um lar harmonioso. O que não seria possível, com um homem que não me ama. Talvez, fosse hora de abandonar a partida e reconhecer a derrota. Mesmo depois de acertar as contas e ele resolver superar seu passado, ainda não havia espaço para mim, em sua vida. E eu tinha que lidar com isso. Como Lorie estava fazendo.
       Eu respirei fundo para me recompor. Deixei a água quente do chuveiro me acalmar. E fui conversar com Lorie.
        Ela estava no jardim. Aqueles brinquedos com certeza pertenceram a ela, quando criança. Ela estava na balança. Sentei na outra e deixei meu corpo ficar balançando para frente e para trás.
       _ Como você está aguentando?
       Ela olhou sem entender.
       _ Não ser correspondida.
       _ Ah... Eu tento não pensar nisso.
       _ Eu penso o tempo todo. Hoje ele vai em uma festa. Na casa de um colega da faculdade. Tenho certeza que tem muitas garotas, comprando roupas para seduzir ele mais tarde.
        _ Acha que ele superou a ex e está pronto para voltar a ser rebelde e curtir?
        _ Acho. Tenho certeza. Eu mesma o ajudei a superar.
        _ Fala para ele que te incomoda.
        _ Que direito eu tenho? Sou só uma amiga. Preciso superar. Como você está fazendo?
        _ Ficando longe. Quanto mais perto, mais dói. Estou pensando em ir embora. Quem sabe passar um tempo no grupo de Alexandre.
        _ Não quer mais tentar?
        _ É inútil. O coração dele não vai mudar só porquê eu quero.
        _ Você tem razão. Mas, Lívia precisa de ajuda com os bebês.
        _ Mas, as férias da faculdade estão chegando.
        _ Então, vou planejar uma viagem. Mas, não vou para grupo nenhum. Vou alugar um quarto de hotel ou pousada. Sozinha não preciso fingir que estou bem.
        Lorie balançou a cabeça. Ela tinha uma expressão tão triste e estava tão depressiva quanto Peter.
        Fiquei ali, balançando de um lado para o outro. Meu celular tocou e eu parei na hora.
        _ O que houve?
        _ Na cadeia tudo bem. Mas, houve uma denúncia de que alguém entrou na mata. Está sendo perseguido pela população que quer linchamento.
        _ Porque? O que houve?
        _ Parece que está apresentando características de quem bebeu o sangue.
        _ Ok. Deixa comigo. Vou buscá-lo.
        Lorie olhou curiosa.
        _ Mais um que bebeu sangue de lobisomem.
        _ Vou com você.
        Nós duas entramos na floresta a procura de algum sinal que indicasse onde estava o rapaz. Depois de caminhar bastante, ouvimos as pessoas. Estavam procurando com tochas acesas. Vi alguns objetos de prata.
       _ Temos que acha-lo antes deles.
       Fechei os olhos e me concentrei no som.
       _ Achei. _ dissemos ao mesmo tempo.
       Corremos na direção dele, com a super velocidade de vampiras. Eu precisava extravasar a frustração.
        Ao chegar no local, vi que um rapaz estava tentando proteger uma mulher grávida. Eles estavam machucados. Várias pessoas os encurralaram na borda do precipício.
        _ O que está acontecendo aqui?
        Lorie se colocou na frente do casal, antes mesmo de saber o que houve.
        _ Que covardia é essa? Batendo em uma grávida? _ ela gritou.
        _ Estão amaldiçoados também. Vocês não estão dando um jeito neles? Não disseram que são perigosos?
        _ Estamos prendendo na delegacia até achar um jeito de reverter isso. _ eu disse.
         _ Não há como reverter. Meu vizinho atacou o próprio filho. Eles farão o mesmo com o bebê.
         _ Não é verdade. Eu jamais machucaria meu filho. _ a moça disse.
         _ Você bebeu o sangue amaldiçoado de lobisomem?_ perguntei.
         _ Não!... Eu bebi o sangue de vampiro.
         Olhei para ela chocada!
        _ Como assim? Quando? De quem?_ eu estava surtando.
        Todo mundo ficou em silêncio.
        _ Quando as bruxas levaram as crianças, meu marido me escondeu. Ele foi levado como escravo. Eu fiquei sem me alimentar direito muito tempo. Quando vocês voltaram para nos resgatar, meu marido foi me buscar. Como eu estava muito fraca, ele me levou até os vampiros. Havia o acordo de salvar nossa vida em troca do nosso sangue. Encontramos uma vampira machucada. Que queria nosso sangue.
       _ Eu disse que daria o meu, se ela salvasse minha esposa. Então, ela falou que podia salvá-la com seu sangue. Mas, que era mais garantido se tomasse o sangue dela. Minha esposa estava fraca. Ela bebeu meu sangue primeiro. Depois cortou o pulso, para minha esposa beber. E mordeu o pulso dela.
       _ Eu fiz isso pelo meu filho. O sangue dela me salvou. O nosso salvou ela... Mas, quando nos afastamos para não interferir na luta, um lobisomem acertou uma estaca nela e em outros dois que estavam junto. Eles tentaram se defender, mas o número dos outros era maior. Eles acertaram uma tocha nela. Ainda lembro dos seus gritos...
        _ Ela morreu. Mas, salvou meu filho e minha esposa. Nós não tomamos o sangue de lobisomem. E não queremos nos intrometer na sua família. Nada mudou. Somos leais à vocês. Como qualquer outro humano.
        Fiquei olhando chocada e sem reação. Eu entendi o que eles falaram. E quem tinha feito aquilo. Só não sabia como Viktor ia reagir, quando soubesse.
        _ Quem são vocês?_ perguntei.
        _ César Marques e Cecília Marques. Não vai mudar. Longe de nós achar que somos iguais. Só queremos continuar nossa vida. Como sempre foi. Por favor!
         As pessoas estavam sem entender o que estava acontecendo. Confusas.
         _ Mas, porquê estão tão fortes como os lobisomens?
         _ E porquê estão atacando as pessoas?
         Antes que aquilo virasse um caos, Lorie interferiu.
         _ As bruxas amaldiçoaram os sangues. Não é culpa deles. Vamos levá-los a delegacia. Viktor já foi descobrir como concertar isso. Tenham paciência. Vamos resolver. Prometemos protegê-los. Confiem em nós.
        As pessoas aos poucos, apagaram as tochas e recuaram.
        _ Não tenham medo. Tudo vai voltar ao normal. Qualquer coisa, avisem a polícia ou nos procurem. Ok? _ eu disse.
        _ Sim. _ eles responderam.
        _ Malditas bruxas.
        _ Isso que dá, beber sangue. Que nojo. Eca.
        Eles resmungaram, enquanto iam embora. Esperei se afastarem, para dizer...
         _ Eles não podem saber que são vampiros. Vão matá-los. _ eu disse.
         _ Se quiserem sobreviver precisam ir embora. E controlem essa sede. Sejam discretos ao se alimentarem. _ disse Lorie.
          _ O que faremos?_ César estava preocupado.
          _ Nós temos um acordo. Protegê-los em troca de sangue. Vamos ajudar. _ eu disse. _ A vampira... Lavínia. Antes de morrer, transformou sua esposa em vampira. E você?
         Cecília ficou corada e abaixou a cabeça.
         _ Eu não queria ficar sozinha.
         _ Fui eu que pedi. _ César abraçou a esposa. _ Somos uma família. Eu amo minha esposa. Quero ficar com ela para sempre.
         Eu tinha que admitir. Era comovente.
         _ Quando o bebê nascer... faça uma cesariana. De preferência aqui, nessa cidade. Onde os médicos sabem das condições. _ eu disse. _ Mas, vocês precisam se mudar. Para seu próprio bem. Até a poeira abaixar. Podem voltar quando a criança for nascer. Todos terão esquecido.
         _ Mas, sejam discretos. Vocês viram o que acontece se não se segurarem. _ disse Lorie.
         _ Faremos o que disserem. _ disse César.
         _ O nome dela era Lavínia?... Vou dar esse nome a minha filha, se tivermos. _ disse Cecília.
          _ Se ela não perdesse tempo com a gente... Poderia estar viva!... _ disse César.
          Era mesmo uma surpresa, que ela tenha morrido ao salvar humanos. Se não perdesse o foco na luta, talvez a história fosse diferente. Ela cumpriu o acordo. Seria isso o que Viktor comentou mais cedo? Ele ia matá-la por ter transformado humanos? Isso causaria problemas se os outros descobrissem. Ele não deve ter aprovado.
        _ Vamos. Vou levá-los à cidade vizinha. Arrumamos um lugar para vocês ficarem. _ eu disse.
        _ Obrigada. _ Cecília disse.
        Os ferimentos estavam se fechando.
       _ No caminho pego sangue para vocês.
       Eles nos acompanharam. Entrei em casa e peguei bolsas de sangue para eles. Eu não tinha tempo para explicações.
       _ Luísa... Aonde vai?
       _ Não posso explicar agora, Drogo. Preciso resolver uma coisa. Não sei quando volto.
       _ Está chateada com o que eu disse?
       _ Agora não, Drogo!... Boa festa. Divirta-se.
        Eu saí com pressa. Entrei no carro. Lorie entrou, junto com o casal. Dei o sangue a eles.
        _ Obrigado!
        Acelerei o carro e avancei sobre a estrada. A cidade mais próxima era longe, mas, tinha o dobro do tamanho. Era mais fácil passar despercebido.
        Passei no banco para tirar dinheiro. Da minha conta. O dinheiro que ganhei com meu trabalho. Não queria usar o do Viktor.
         Achei um hotel com quarto vago. Deixei pago cinco meses adiantado. E dei dinheiro à eles. Para qualquer necessidade, como roupas.
         _ Obrigada. Vamos voltar quando o bebê for nascer. _ disse Cecília.
         _ Vocês tem bom coração! Não importa o que dizem. Vampiros não são demônios. Assim como humanos, ser bom ou mal é uma questão de escolha. _ disse César.
        _  Escolham ser bons também e tomem cuidado. Sejam discretos. _ Lorie disse.
        Saímos de lá e eu finalmente respirei fundo.
        _ Fizemos a coisa certa?_ perguntei.
        _ Lavínia morreu por isso. Ela era uma idiota. Mas, ainda assim uma Bartholy. Não podemos deixar que seja em vão! E eles vão ter um filho.
        _ Você tem razão. Obrigada Lorie. Por ter ajudado.
        _ Precisava desviar o foco. Pensar em outra coisa.
        Entramos no carro e eu dirigi de volta. Já havia anoitecido. Agora era hora de encarar a verdade!
       _ Nós duas levamos um fora dos rapazes!... _ eu disse.
       _ Hora de desistir e tentar esquecer. _ ela respondeu.
       _ É preciso saber perder!

      

      

Is It Love? Drogo - Uma segunda chanceOnde histórias criam vida. Descubra agora