O local onde eu estava era totalmente escuro e muita névoa branca o cercava. Algumas árvores secas com galhos finos e esqueletos pelo chão, compunham o cenário. Eu estava descalça. Tinha um vestido longo, branco. Não sentia frio. Não sentia nada. Nem sabia para onde eu deveria ir. Se havia algum lugar. Andei a esmo de um lado à outro. Minha mente estava confusa. Quem era eu? Qual o meu nome? O que era aquele lugar?...
_ Luísa?... Luísa?...
A pessoa estava olhando para mim. Esse era meu nome?... Luísa... Não me lembrava de nada. A pessoa a minha frente era uma senhora. Estava usando um vestido florido. E um sapato de salto baixo.
_ Quem é você?
Ela não disse nada. Apenas virou-se de costas e começou a caminhar. Por impulso eu a segui. O cenário diante de mim mudou. Estava agora em uma casa. A senhora sentou-se no sofá. Ao seu lado estava um senhor, que usava um boné de um time de baseboll. Os dois estavam assistindo uma partida. Eu andei pelo local, observando as fotografias. Me pareceram familiares. Aquela garotinha das fotos... Era eu!... Aqueles eram meus pais.
O cenário novamente mudou. Estávamos no parque de diversões. Era divertido. Mamãe e papai compraram algodão doce para mim. Eles discutiram por algum motivo bobo e resolveram me levar de volta para casa. Eu ainda não tinha subido na roda gigante. Então, acompanhei-os chorando.
O próximo cenário era uma festa. Meus dezoito anos. Eu não estava me divertindo porquê estava preocupada com meus pais. Eles estavam brigando de novo. Eu não aguentava mais vê-los discutindo. Papai saiu e mamãe foi atrás. Eu escutei um barulho de tiro e corri para fora da casa. Um homem usando máscara estava revistando o corpo caído de meu pai.
_ Paaaaaaaaaaaaai_ Gritei.
O bandido olhou para mim. Mirou a arma na minha direção. Mamãe entrou na frente quando ele atirou.
_ Mãaaaaaaaaaaae!... _ Gritei.
O assaltante atirou de novo. Acertou minha barriga. Ele se aproximou. Pegou tudo que pôde, de valor e foi embora na moto. Os convidados da festa não quiseram sair da casa. Ficaram observando da janela. No entanto, eu vi alguém do outro lado da rua... Um homem em volto em uma capa. Ele se aproximou e me pegou no colo. Se afastou comigo.
_ Pai... mãe...
_ Eles já estão mortos. Ainda posso salvar você.
Que lugar era aquele para onde o estranho me levou? O que ele ia fazer?...
Eu estava sentindo frio. Meu corpo começou a tremer. Minha barriga doia por conta do tiro. Eu sentia o gosto de sangue na boca.
_ Sua vida agora me pertence!... Tenho uma missão para você... _ ele sussurrou no meu ouvido.
Senti dor no meu pescoço quando ele me mordeu. Eu não tinha forças para gritar ou reclamar. O que aquele cara estava fazendo? Eu queria meus pais. Ele cortou o próprio pulso e deixou o sangue pingar em minha boca. Tentei empurrá-lo e não consegui. Ele retirou a bala de mim. Se inclinou sobre mim e sussurrou... " Você é uma garota acostumada a agir corretamente por medo de piorar os problemas entre seus pais. Você aprendeu a obedecer e ser discreta. Evitar o conflito!... Uma garota dócil e que respeita a autoridade dos mais velhos é o que meu filho rebelde precisa! Você será a garota do meu filho Drogo!"
Drogo?... Onde eu tinha escutado aquele nome?... Porquê meu peito doía?...
Eu voltei novamente a paisagem escura e nevoenta. Com árvores secas e esqueletos. Reparei também na água lamacenta. Eu estava tentando respirar, mas, meu peito doía muito. Quem era Drogo?... Quem?... Minha mente clareou e me mostrou a imagem. Ele acima de mim. Sua boca e queixo sujos de sangue. Ele arrancando meu coração. Olhei para meu toráx. Meu vestido branco estava manchado de sangue no peito. Havia um buraco alí. Eu gritei de dor, desespero e medo. "Porquê não pôde me perdoar?"... Pensava angustiada. "Ela não te amava o suficiente!"...
A paisagem mudou de novo. Estava na floresta onde Natasha foi enterrada. Drogo estava murmurando palavras estranhas. A terra sob nossos pés começou a tremer. Da terra então, surgiu uma mão cadavérica. O corpo foi saindo da terra. Drogo abraçou aquilo como se fosse a coisa mais preciosa do mundo. Ele murmurou as palavras e enfiou o meu coração naquele cadáver. O vento ficou forte ao nosso redor. As folhas das árvores se agitaram. E aos poucos a aparência da garota foi voltando ao normal.
_ Drogo, não!...
Ele não me ouvia.
Aproximou-se da garota e a abraçou.
Nicolae, Lorie, Peter e Lívia apareceram alí.
_ Drogo isso é errado!_ disse Lívia.
Natasha olhou para ela e foi andando na sua direção. Lívia recuou assustada. Nicolae tentou ir até ela. Drogo o segurou.
_ É sua vez de perder a garota!_ Drogo disse.
_ Pare! Você enlouqueceu!...
Lorie e Peter tentaram parar a bruxa. Ela usou algum feitiço paralisante neles.
_ Você vai pagar por matar minha amiga.
Ela enfiou uma estaca no coração de Lívia. E com um feitiço... Atirou fogo nela. A bruxa dançou, rindo, ao redor de seu corpo em chamas, enquanto todos olhavam abismados. Nicolae gritou e eu também. Lorie e Peter petrificados, choraram silenciosamente.
E eu estava de volta a mesma paisagem escura, cheia de névoa. Eu coloquei as mãos na cabeça e gritei, gritei, gritei... Aquele só podia ser o inferno. Ou melhor... O purgatório. E eu iria sofrer eternamente!...
Com o passar do tempo, fui perdendo a sanidade mental. E comecei a cantarolar sem parar... A paisagem permaneceu a mesma. Eu deitei naquele chão frio e úmido.
_ Luísa...
_ Vá embora...
_ Levante-se...
_ Vá embora...
_ Vai ficar tudo bem...
_ Vá embora...
Eu não queria dar ouvidos a quem quer que fosse...
Comecei a cantar para afastar as vozes... " Te vejo errando e isso não é pecado! Exceto quando faz outra pessoa sangrar..."
_ Luísa... Levanta...
" Eu estava aqui o tempo todo, só você não víu"...
_ Luísa...
_ Vá embora... Me deixe em paz!...
_ Vem comigo...
Eu gritei. Me encolhendo em posição fetal.
As vozes se acalmaram. Eu continuei cantando...
" Durante muito tempo, eu construí uma história, em cima de um castelo destruído..."
Comecei a sentir frio e tremer. Meu peito vazio doía muito.
_ Devolve meu coração, Drogo!... _ eu gritei.
Silêncio. Só eu e minha loucura.
" Meu ódio é... Meu ódio é, é, é, é,é,é... O veneno que eu tomo, querendo, que o outro morra..."
Meu corpo tremia de frio. Eu sentia nos meus dentes.
" Pra ser sincero, não espero de você... Mais do que educação. Beijo sem paixão. Crime sem castigo. Aperto de mão. Apenas bons amigos ".
Amigos... Eu pensei que as coisas iam bem com Drogo. Porquê ele mudou de ideia? Compartilhamos momentos tão bonitos de cumplicidade. Ele me deu apoio. Eu lhe dei apoio. Porque?
Pensei que ele nunca me machucaria. Porquê eu sou incapaz de machucar ele. Somos do mesmo clã.
_ Eu sou uma Bartholy. Como posso valer menos que uma humana?...
No meio daquele lugar horrível, uma luz começou a se formar. Eu quase não conseguia olhar.
_ Eu morri mesmo. Estou vendo a luz... É melhor eu fazer a passagem. Seguir em frente!... Sair desse lugar.
Eu me levantei e fui caminhando naquela direção. Colocando a mão na frente, para proteger os olhos. A luz era quente e reconfortante. Trouxe uma sensação de alívio enorme!...
_ Luísa!... Acorda. Por favor!... Estamos preocupados.
" Nicolae? "
_ Acha que está funcionando?... Como vamos saber se ela vai conseguir se recuperar?
" Peter? "
_ Nós adquirimos seus poderes. Acredite. Eu sei o que estou fazendo!
" Viktor? "
_ O principal é ela acordar. Depois veremos como está a sua mente.
" Lívia? "
_ Deve ser pesado o que ela viu.
" Lorie? "
_ Pelo visto foi comigo!
" Drogo! "
O pânico tomou conta de mim. Eu tinha que me afastar dele.
_ Não!_ gritei.
Em segundos eu estava longe das vozes. Encolhida no canto da sala. Tremendo! A luz não era uma passagem para o além. Apenas mudou o cenário de novo.
_ Chega! Pelo amor de Deus. Chega!
Eu não aguentava mais aquela tortura.
_ Luísa...
_ Vá embora!
Eu cobri os ouvidos com as mãos.
" Nós dois temos os mesmos defeitos. Sabemos tudo à nosso respeito. Somos suspeitos de um crime perfeito! Mas crimes perfeitos, não deixam suspeitos ".
_ Luísa... É a Lívia!
_ Vá embora!... Me deixe em paz!... Chega!... Por favor!...
_ Eu vim te salvar, filha!...
Viktor! A voz dele era incrivelmente reconfortante.
_ Papai!... Eu falhei na missão. Drogo arrancou meu coração.
_ O que ele fez com seu coração?
_ Deu para Natasha! Ressuscitou a bruxa. Ela matou a Lívia. Drogo não liga para ninguém. Ele só quer ela. Ele me odeia. Nunca vai me perdoar por ter matado ela.
_ E você? Consegue se perdoar?
_ Ele está sofrendo. É minha culpa. Mas, eu fiz o que tinha que fazer.
_ E acha que merece punição por isso?
_ Ele tem o direito de retaliar!
_ Assim como você não permitiu que Natasha se vingasse. Também não permito que ele se vingue. Sua vida me pertence. Se lembra?
Eu balancei a cabeça, afirmando.
_ Olha para mim. Dá um abraço no papai!
Mesmo sabendo que logo estaria de novo no purgatório, eu me permiti aquele cuidado. Soltei meus joelhos e fui engatinhando até ele. O abracei forte! Aproveitando o alívio momentâneo que sua presença trouxe.
_ Está tudo bem. Eu quebrei o feitiço.
_ Que feitiço?
_ O que você caiu quando foi sozinha no bairro das bruxas.
_ O quê?
_ Olhe... Seu coração ainda está no seu peito. Apesar de realmente pertencer ao Drogo!
Olhei para meu peito. Não tinha um buraco. E eu não estava usando um vestido branco. Usava minha calça jeans e blusa preta de mangas compridas.
_ Não foi real?
_ Quando você esteve diante do espelho amaldiçoado, e respirou aquele pó, que caiu sobre você, acabou presa em um feitiço. Drogo achou você caída naquele cômodo. Foi lá com os outros. Lívia me avisou o que houve e eu vim te salvar.
Viktor fez um carinho no meu rosto.
_ Você não devia ter ido sozinha. A partir de agora você vai investigar junto com alguém. Entendeu?
_ Sim. Desculpe. Eu não queria que eles se arriscassem.
_ Mas, você pode se arriscar?... Nunca mais faça isso!...
Eu abracei ele de novo.
_ É um belo carro!
Eu ri. Tudo ilusão. Foi um alívio saber.
_ O que você viu é fruto do seu subconsciente. Você se sente culpada pelo sofrimento de Drogo. Acha que não merece perdão. Mas, sabe que se não fosse a humana, seria a Lívia. Você agiu corretamente. Não há o quê perdoar.
Então, me dei conta que todo mundo sabia. E agora eu estava exposta!
_ Nossa!... Isso é constrangedor!
_ Somos família. Não precisa ter segredos entre familiares. E para dar o exemplo eu confesso. Eu, assim como os outros originais, absorvi os poderes das bruxas. E graças à isso, pude desfazer o feitiço e libertar a sua mente.
_ Obrigada! Sorte minha que vocês tem esse dom. Você é o melhor pai do mundo.
Eu beijei o rosto dele.
_ Sem exagero.
_ Não é exagero. É carinho. Eu amo você!
Viktor pareceu realmente emocionado. Acho que nunca tinha escutado um de seus transformados falando isso.
_ Você estava lá, no pior momento da minha vida. Não sei o que teria acontecido sem sua ajuda. E eu gosto de ser vampira. Eu gosto da família que ganhei. E gosto de você como pai. Você dá uma de insensível, maldoso... Mas, para sua família você é maravilhoso. Obrigada por vir me salvar. Me desculpe. Prometo me comportar.
_ Interessante. Cada um me vê de um jeito!... Garanto que bonzinho eu não sou!...
Deu um beijo na minha testa!
_ Temos outro problema para resolver. Os humanos idiotas que tomaram sangue de lobisomem. Mas, vamos deixar para amanhã.
Ele subiu as escadas.
Eu olhei para todos ali. Estava sem graça.
_ Amanhã a gente conversa!_ Drogo levantou para ir dormir.
_ Você vai ficar bem? _ indagou Lívia.
_ Sim. Só não quero dormir agora.
Eles foram para seus quartos. Eu fiquei sentada na sala tentando entender o que aconteceu. Tinha medo de dormir e ao abrir os olhos estar de volta naquele lugar. Fui tomar um banho. Nada como uma água quente para nos acalmar.
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Is It Love? Drogo - Uma segunda chance
FanfictionDepois de descobrir que o amor de Natasha, era menor do que sua sede de vingança pela amiga assassinada, o coração de Drogo despedaçou-se. Ser menos importante que a amiga dela, foi um golpe duro para o vampiro que a amava sinceramente. Tentando des...