Meus erros

995 59 12
                                    

    Eu repassava sempre na minha cabeça o momento em que vi Drogo com Natasha nos braços. Chorando sobre a garota que eu havia acabado de matar. Foi só naquele momento que descobri quem era ela. Eu não sabia! Mas, não teria feito diferença saber. A garota estava tentando matar Lívia. E também, tinha quebrado o coração de Drogo. Não podia perdoar. Passei décadas esperando que Viktor me desse o sinal, para conhecer o garoto para o qual ele me transformou. E como se tivesse feito alguma mágica, eu realmente acabei me apaixonando. Eu provei o sangue dele. E foi o melhor de todos. Foi a primeira vez que senti mais do que uma satisfação da sede. A luxúria que eu só tinha ouvido falar, até então. Ao beber o sangue dele, meu corpo se arrepiou. Senti aquele frio na barriga. E foi como se ele me tocasse. Eu senti prazer. E entendi porque o grupo de Nicolae não compartilhava sangue. Era medo do que poderiam sentir. Eu fingi que não foi nada. Mas, acho que ele percebeu. Assim, como percebi que ele não ficou indiferente. Era tarde demais. Queria que Lívia tivesse aparecido antes. No casamento dela, eu pude dançar com Drogo. Ele parecia estar se divertindo. Mas, seus olhos não mostravam empolgação. Foi difícil me despedir de novo. Eu não sabia se era melhor dar um tempo para ele se recuperar, ou ajudá-lo a superar. De qualquer forma, não acho que ele deixaria que eu me aproximasse.
        _ Luísa... Posso falar com você?
        _ Claro, Sabrina.
        Ela estava radiante, desde que começou a namorar com Ralph.
        _ Você não está bem. Eu percebi seu olhar triste. Desde que voltamos você tem se isolado. Conta para mim. O que está acontecendo?
        Eu não queria falar com ninguém. Mas, talvez me fizesse bem. Só teria que ocultar a parte de Viktor.
        _ Eu matei Natasha!...
        Ela balançou a cabeça e suspirou.
        _ Sim. Aquela garota era uma bruxa má. _ ela brincou. _ Não se culpe por isso. Se não fosse você, seria outra pessoa. É melhor do que ser um deles.
       _ Eu sei. Mas, não é só isso. Eu... Me apaixonei por Drogo.
       Ela me olhou surpresa.
       _ Nossa, você disfarçou bem. Não percebi. E está se sentindo mal por ter matado a namorada dele. Você acha que não terá chance.
       _ Não tenho mesmo. _ eu afirmei.
       _ Quantas vezes eu pensei que nunca teria chance com Ralph... Parecia impossível que ele me correspondesse. Ele reagia com todas, do mesmo jeito, ao beber o sangue. Nunca me senti especial para ele.
       _ Parece que os homens sentem a luxúria, mais fácil do que nós.
       _ São uns pervertidos!_ ela riu. _ Mas, acredite. Você tem chance sim. Use seu charme de vampira.
       _ Se fosse fácil assim...
       _ Se não tentar, como vai saber? Foi difícil eu tomar coragem para me declarar. Mas, quando decidi, eu usei minhas armas. Você o quer, deixe isso claro. E esteja disposta a receber o que ele pode te oferecer. Talvez ele não sinta o mesmo. Mas, é melhor ter bons tempos com ele, do que passar a vida toda se perguntando como seria estar com ele. Nós temos uma vida longa demais, para tantos arrependimentos.
        _ Está bem. Eu vou tentar.
        _ E se alimenta direito.
        Ela saiu do meu quarto e fiquei pensando no que me disse. Será que eu realmente deveria tomar uma atitude? Não era cedo demais?

*****

        Se alimentar na capital era fácil. O que não faltava era gente. Eu costumava ir para os lugares, onde se podia encontrar alguém discretamente. Ninguém perceberia. Já que iam imaginar que fosse outra coisa. Aquela boate estava lotada. A música alta, não fazia bem aos meus ouvidos sensíveis. Eu não pretendia ficar muito tempo. Era fácil. Fingia escolher uma bebida, algum rapaz se oferecia para pagar. Eu jogava meu charme de vampira e o tirava dali. De madrugada as ruas estavam desertas. Sempre tinha alguma rua mal iluminada.
        _ Está com pressa?
        _ Estou.
        Empurrei ele contra a parede e o mordi. Era difícil parar. Quando finalmente fiquei satisfeita, deixei meu sangue curar o machucado. Isso era algo que os humanos não podiam descobrir. Se não, iriam nos caçar somente para drenar nosso sangue e usá-lo para proveito próprio. Lorie não sabia disso. Ela e Lívia só perceberam, quando foram sequestradas pelos lobisomens. Até então, Lívia sempre usou a saliva para curar. Achavam que o sangue curava apenas o próprio vampiro. Agora nem precisavam mais. Tinham as doações voluntárias dos moradores da pequena cidade. No meu caso, morando em cidade grande. Tinha que me virar para me alimentar e esconder nossa existência. Não é em todo lugar que nos tratariam daquele jeito. Melhor não arriscar. Deixei o rapaz ali. Mesmo que ele contasse, quem ia acreditar? Não haveria provas.
       Meu celular vibrou. Uma nova mensagem, enviada por Lorie. "Acabei de saber. Os bebês nasceram". Fiquei feliz com a notícia. Mas, meu coração bateu por outro motivo. Eu ia ver Drogo de novo!... Talvez, eu devesse tentar. Só uma vez. Se ele não estivesse pronto, eu não ia insistir.
       Quando cheguei em casa, todos estavam se arrumando para ir.
        _ É um acontecimento histórico. Nascimento de Bartholys. _ disse Julius.
        _ É só o primeiro de muitos. Eles têm coragem. _ disse Ralph.
        _ Não foi planejado. Mas, sim. São corajosos. Se você não odeia ser vampiro, não se importará que outros sejam, por sua causa. _ disse Sabrina.
        _ Você ia querer? Ter um filho comigo? _ Ralph sorriu provocando.
         _ Daqui a cem anos. Por que não? _ Sabrina respondeu.
         Apesar das brincadeiras, seu rosto ficou vermelho. Ela com certeza já havia pensado nisso.
          E não foi a única. Na verdade, eu e Lorie estávamos sobrando ali. Desde a festa de casamento, que os casais não se desgrudavam.
          _ Estive pensando. Lívia vai precisar de ajuda. Então... Vou me mudar para a mansão. _ eu disse de cabeça abaixada.
         _ Não vejo problema. Agora conhecemos uns aos outros. Tudo bem se passarmos um tempo em outros grupos. Lorie veio para cá também. _ disse Ralph.
         _ E estou pensando em voltar também. _ ela disse.
         Ele olhou ao redor.
          _ Tudo bem. Espero que não seja nossa culpa.
          _ Não. Eu vou pelos bebês e pelo Peter.
          Fiquei surpresa com sua franqueza. Ela estava mesmo decidida. Mas, ainda havia uma sombra em seus olhos. Algo parecia deixá-la envergonhada. Ela desviava os olhos, quando a encaravam.
          _ Então, vamos? _ chamou Julius.
        

*****

        Estar naquela cidade de novo trouxe lembranças. Arriscamos a vida para protegê-los. Mas, tudo valeu a pena. Ser recebida com sorrisos, pelos humanos que sabiam de nossa condição, não tinha preço.
         Viktor atendeu a porta. Ele ainda estava lá. Claro. Eram seus primeiros "netos".
          _ Entrem. _ ele disse sorrindo.
          A primeira coisa que fiz, foi aproveitar que a atenção estava nos bebês e chamar Lívia para conversar. Lorie foi junto. Apesar de acabar de ter filhos, ela não aparentava. Seu corpo de vampira voltou ao ponto inicial. Totalmente curado e recuperado. "É muito bom ser vampira". Pensei. Ela não se opôs, deu apoio à nossa mudança. Mas, entendeu logo o real motivo. E apoiava.
        _ Obrigada Lívia.
        _ Tenha paciência com Drogo. Ele finge que está bem, mas, volta para casa tarde. Não dorme. E não quer falar sobre o assunto.
          _ Eu já esperava. Por isso eu vim. Acho que é melhor ajudá-lo a superar, do que ele ter que lidar com isso sozinho.
          _ Eu também percebi isso com Nicolae. Um casal precisa superar junto. _ ela disse.
          Eu me reuni aos outros. Os bebês eram muito fofos. Tinham os olhos de Nicolae. E ralos cabelos ruivos alaranjados. Como da mãe.
         Reparei que Nicolae não estava olhando os filhos. Ele olhava para Lívia. Com amor. Mas, tinha um sorriso de lado. Ele com certeza sentia falta dela. Eles precisariam de ajuda com os bebês, para que pudessem passar um tempo juntos. A lua de mel, que foi adiada. Eu queria que Drogo olhasse para mim, daquela forma. Era tão visível o quanto ele a amava.
         _ Querem assistir o parto?_ indagou Viktor.
          No mesmo instante o foco mudou. Aproveitei a oportunidade para segurar um dos bebês.
        Drogo parecia bem. Mas, seus olhos ainda diziam o contrário. Ele me pegou olhando para ele. Desviei os olhos, sem graça.
        _ Ainda se sente culpada?_ ele perguntou.
        Já estava acostumada com a velocidade de um vampiro. Meio segundo e ele estava ao meu lado.
        _ Você está sofrendo. _ respondi.
        _ A culpa não é sua. Mesmo que ela estivesse viva, nós teríamos terminado e eu ainda estaria com raiva.
       _ Você vai ficar bem?
       _ Claro. Só jogaram na minha cara que não sou digno de ser amado. Porque eu não ficaria bem?
        _ Ei. Ela não tinha amor suficiente. Não foi culpa sua! Não se despreze por não ser prioridade dela. Você será a pessoa mais importante para alguém.
        _ Não, nesse século.
        Ele se afastou e eu fiquei chocada. Ele se abriu comigo. Disse para mim, que ainda estava mal. Isso geralmente é um pedido de socorro. Se ele estava disposto a se abrir comigo, então, eu iria lutar por ele. Sem hesitar, sem remorso. Os erros do passado não podiam ser mudados. Mas, não podíamos deixar afetar nosso futuro. Decidida eu caminhei até ele.
        _ Vou mudar para essa mansão.
         Ele olhou surpreso.
        _ Por quê?
        _ Porquê vou te mostrar o quanto você merece ser amado e que é besteira você chorar por quem não te deu valor. Pode se preparar, Drogo! Eu vou conquistar você!

              

          

Is It Love? Drogo - Uma segunda chanceOnde histórias criam vida. Descubra agora