FEMALE

6 1 0
                                    

Dois dias após o desaparecimento de Oliver Clark de um hotel de Colônia, na Alemanha Ocidental, enquanto um homem sistemático e estranho corria pelo deserto do Arizona, usando uma pesada e quente vestimenta, em algum ponto da Karl Marx Allee, num casarão antigo que sobrevivera à Segunda Guerra Mundial, em Berlim Oriental, Marbur, Kurt e Bakou esperavam ansiosamente o diagnóstico do médico que examinava o americano estendido numa cama comum, de molas, com um colchão encardido.

— Ele está bem. Vai precisar repousar um pouco, depois estará pronto. Suas condições físicas são excelentes. O efeito do Nerval 50 passará em breve — disse o médico e Marbur o acompanhou até a porta, enquanto Bakou e Kurt iam até Oliver Clark e se debruçavam sobre ele.

— Como foi a viagem? — indagou o russo a Kurt.

— Sem problemas. O esquema funcionou perfeitamente — Kurt respondeu, com um acento de orgulho no tom de voz.

— Um bom trabalho — disse Bakou e o elogiou alegrou bastante o alemão.

A porta se fechou após a saída dos dois e, na mais completa escuridão, Oliver Clark se sentia flutuando num mar de retalhos, restos de conversa, sons estranhos e sensações angustiantes. Mal podia mover o corpo. As mãos pareciam pesar toneladas e o menor esforço físico provocava dores agudas. Tentou dizer alguma coisa. A boca deveria estar ressecada em função das doses sucessivas de Nevral 50 e apenas se abria, sem articular nenhum som. A mente se encontrava à beira de um precipício escuro, oscilando entre a consciência e um sono forçado.

A porta se abriu novamente e uma luz ofuscante foi acesa sobre seus olhos. Ele os apertou ao máximo, mas a luz feria intensamente.

— Café da manhã! — gritou uma voz aguda e, em seguida, a luz se apagou e a porta se fechou num estrondo.

Na escuridão espalhou-se um cheiro de café. Oliver lutou para deixar a cama. A boca ressequida ansiava por qualquer coisa líquida. Cada movimento era demorado e doloroso. Haviam-lhe aplicado a última dose de tranquilizantes às nove da noite anterior. Gradativamente o efeito passava, embora a sonolência persistisse. Havia conseguido, finalmente, sentar-se na cama, quando a luz se acendeu novamente e a porta se abriu como da vez anterior.

— Almoço! — gritou a mesma voz de antes, num péssimo inglês.

A luz se apagou em seguida. A porta se fechou estrondosamente. A sensação para Oliver foi das piores. Um homem, numa sala escura, sob os efeitos de uma droga especial, fatalmente perde a noção de tempo. Oliver jamais poderia imaginar que pudesse demorar tanto tempo para um movimento tão simples como se sentar à beira da cama. Antes que fizesse algum outro movimento, a luz voltou a se acender e ele ouviu passos. Pelas vozes que se seguiram, notou a presença de três pessoas no quarto. Alguém moveu a lâmpada e ela incidiu diretamente sobre os olhos dele. Ele os cobriu instintivamente com as mãos.

— Você é Oliver Clark? — indagou uma voz num inglês perfeito.

— Sim, sou Oliver Clark — disse ele, num grito, desacostumado que estava a conseguir articular as palavras. — Sim, sou Oliver Clark — repetiu, num tom mais baixo. — Onde estou? O que houve comigo?

— Nós fazemos as perguntas — disse a mesma voz. — Quer um cigarro? Água, talvez?

— Sim, água, por favor!

Um braço estendeu-lhe um copo de água. Oliver manteve uma das mãos sobre os olhos e apanhou-o. Tomou sofregamente. Devolveu o copo.

— Vamos entrar direto no assunto, Oliver, sem perda de tempo. Nós o trouxemos aqui porque precisamos de sua ajuda. Você tem duas opções: colaborar livremente ou forçadamente. Antecipo-lhe que de uma forma ou de outra, vamos obter sua cooperação.

NO TEMPO DA GUERRA FRIAOnde histórias criam vida. Descubra agora