PARTE 3 - TRIANON - PRELIMINARES

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Às sete horas da manhã de um dia frio, em Washington, um jato da USAF pousou na Base de Garrard, a vinte minutos do Pentágono. Um carro avançou pela pista, parando ao lado do avião, quase sob a ponta da asa. A escada foi conectada e um homem magro e baixo, vestindo um sobretudo de lã pura com gola de pele de lontra desceu apressadamente, entrando no veiculo, que permanecera com o motor ligado. O Lincoln cinza-metálico se afastou rapidamente, deixando para trás a fumaça condensada do escapamento.

Sentado no banco traseiro, o homem magro afundou a cabeça na gola de pele de seu sobretudo e fechou os olhos, como se dormisse. O motorista olhou-o pelo retrovisor, depois voltou a se concentrar nas ruas escorregadias após a nevasca da madrugada. Caminhões limpa-neve avançavam em sentido contrário, dificultando um pouco o tráfego que, àquela hora, começava a se intensificar.

Após meia hora de viagem, o motorista enfrentou um rígido esquema de segurança, até deixar seu silencioso passageiro diante de uma das portas do enorme prédio, por onde ele entrou sem dizer uma palavra.

Lá dentro, moveu-se com familiaridade, chegando até uma sala vazia. Aboletou-se numa das poltronas e imobilizou-se, da mesma maneira como já o fizera no carro. Às sete e quarenta e cinco, a secretária chegou. Reconheceu Trianon, mas nada lhe disse. Conhecia, em parte, seu estilo. O agente especial, por seu turno, apenas abriu levemente os olhos e sorriu vagamente, voltando àquela expressão de sono anterior. A secretária moveu-se pela sala, preparando o inicio do expediente. Às sete e cinquenta e cinco trouxe café. Trianon agradeceu com um de seus vagos sorrisos e aceitou. Tomou lentamente o café fumegante, depois se ergueu e foi atirar o copo plástico no cesto de lixo. Caminhou até a janela, onde ficou até às oito, quando o General Foster chegou.

O militar entrou pela porta de seu escritório e foi ocupar a poltrona do outro lado de uma moderna escrivaninha. Trianon o seguiu, sentando-se numa das poltronas diante da mesa. Foster abriu uma gaveta e retirou uma pasta. Estendeu-a ao agente, que começou a ler. Era um dossiê completo sobre Oliver Clark, desde seu nascimento até seu último dia em serviço. Relatava o esquema de trabalho de Oliver, sua importância e as medidas de segurança que o cercavam. Traçava, também, as diretrizes a serem seguidas no caso de seu desaparecimento. Trianon levou aproximadamente uma hora para se inteirar do conteúdo da pasta. Quando terminou, fechou-a e devolveu-a a Foster, que a retornou à gaveta de onde a tirara uma hora antes.

— Temos três hipóteses a considerar — disse Foster. — Acidente, traição ou sequestro.

Trianon concordou com um movimento seco de cabeça. Foster estendeu-lhe, então, uma pequena carteira de couro, contendo documentos e um passe especial que o permitia penetrar em qualquer setor reservado. Trianon abriu a carteira e retirou a identidade. Era, agora, Maxwell Max, um americano de Utah, com trinta e cinco anos de vida e um cargo sigiloso no Departamento da Defesa. Sorriu levemente, cumprimentou o general com um movimento de cabeça e se retirou.

Quando passou pela sala da secretária, ela estava com duas colegas, que observaram curiosamente a passagem do agente especial.

— Esse é Trianon? — uma delas indagou, entre surpresa e decepcionada, logo após a saída dele.

— Sim, este é Trianon — confirmou a secretária do general. — Imagem que...

* * *

George Staford já se encontrava a postos na sala de Female, preparando-se para outro dia de trabalho. Naquela manhã, quando se despedira da mulher, não resistira à pressão e lhe confessara que estava na iminência de receber uma gorda comissão como operador efetivo do computador. Sua esposa vivia reclamando da escola que os filhos frequentavam, argumentando que a Hyde Park School estava mais bem aparelhada para desenvolver as potencialidades de seus alunos e isso deveria ser levado em conta, já que o pequeno Jimmy se mostrava muito bom no halterofilismo. George afirmara que o menino era apenas um pouco gordo e que não possuía toda a força que julgava ter. Discutiram durante o desjejum, quando ela aproveitou para perturbá-lo com o conserto do telhado, que precisava ser feito. George tentara argumentar que o problema era dinheiro, mas ela contra-atacara, dizendo que uma de suas amigas soubera, através do marido, que George poderia receber uma promoção em breve. Ele procurara convencê-la de que havia certa possibilidade, mas que não era certo ainda e que seria imprudente confiar nisso. Ela chorara, então, diante das crianças, reclamando que George não confiava nela e que nada lhe dissera a respeito antes. Com voz branda, controlando-se, ele, então, confirmara que a promoção estava noventa por cento assegurada. Ela rira e o abraçara, dizendo-se orgulhosa dele. As crianças festejaram ao redor dos dois, antes que o ônibus buzinasse lá fora, chamando-as para a escola.

NO TEMPO DA GUERRA FRIAOnde histórias criam vida. Descubra agora